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Preservar ganhos sociais de Cuba é desafio da Cúpula das Américas

Especial para o UOL

10/04/2015 06h00

O maior fórum de discussões do continente americano, a 7ª Cúpula das Américas, ocorre nessa sexta (10) e no sábado (11), na capital do Panamá, Cidade do Panamá. O tema central de debate será “Prosperidade com Igualdade: o Desafio da Cooperação nas Américas”.

O próprio título do evento, “Prosperidade com Igualdade”, por si só, já enseja uma série de debates. Afinal, a parte majoritária e mais pobre do continente, a América Latina, é também a principal região do mundo quando o assunto é a desigualdade social.

Embora cerca de 70 milhões de latino-americanos tenham deixado de ser pobres entre os anos de 1990 e 2014, de acordo com dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), ainda há cerca de 164 milhões de pessoas vivendo em situação de pobreza. Sendo que um terço desse contingente vive abaixo da linha da pobreza.

Como incluir essa população, fazendo com que a prosperidade gere igualdade? Essa pergunta se torna ainda mais difícil de responder em um momento em que a economia da região começa a entrar em crise.

De forma aparentemente contraditória, enquanto o resto do mundo sofria os efeitos da crise de 2008, a América Latina parecia imune. Agora, justamente no momento em que os Estados Unidos começam a se reerguer, a América Latina sucumbe.

Prognósticos da Cepal preveem que os países latino-americanos crescerão apenas 1% em 2015. A expectativa de estagflação no Brasil complica ainda mais a situação dos países vizinhos. A recuperação dos EUA e a valorização do dólar somadas a uma queda no valor internacional das commodities agravam esse cenário.

Isso nos traz de volta ao centro da discussão da Cúpula das Américas, ou seja, como irradiar essa prosperidade americana para os outros países? Um dos caminhos imaginados é o da cooperação, principalmente da integração econômica.

Para isso, os Estados Unidos deveriam avançar em um projeto que fosse menos ambicioso - e pernicioso para os outros países - que a malfadada Alca (Área de Livre Comércio das Américas ).

Seria preciso ainda avançar nos subtemas da reunião, principalmente porque parecem ser de menor interesse imediato: saúde, educação, fluxos migratórios, governança democrática e participação popular.

Destaques da cúpula

No final das contas os assuntos que acabam se destacando são aqueles mais midiáticos, que rendem boas fotos nos jornais, mas são incapazes de mudar determinadas estruturas continentais não funcionais. Dentre os assuntos que irão chamar mais atenção, três são os destaques.

O primeiro deles será a volta de Cuba à mesa de discussões, de onde havia saído no começo da década de 1960 por conta do embargo econômico e por ter sido suspensa da OEA (Organização dos Estados Americanos ).

Apesar desse marco histórico, pouco se discute sobre como integrar o regime cubano sem perder de vista os ganhos sociais existentes. Como se a enxurrada de dólares que está prestes a entrar fosse o suficiente para resolver todos os problemas cubanos.

Venezuela e Estados Unidos protagonizam o outro encontro esperado, tendo em vista os conflitos recentes entre os dois países. Ricardo Zúñiga, o responsável pela América Latina no Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos, declarou que a Venezuela não é uma ameaça à segurança nacional americana, e que tudo não passou do uso de um jargão protocolar. Disse esperar, com isso, que haja reuniões dentro da normalidade e “corretas”.

Por fim, o Brasil ocupará outra porção das manchetes, principalmente devido ao encontro entre Barack Obama e Dilma Rousseff, que tentará pôr fim ao mal-estar gerado pela revelação, em 2013, que o governo brasileiro era espionado pelos americanos. Espera-se que desse encontro saia o convite para uma visita da presidente brasileira aos EUA e negociações que ajudem a economia brasileira a se recuperar.

O desafio da cooperação é uma constante em nosso continente. Esperamos, em sentindo semelhante ao das palavras do secretário de Estado americano, John Kerry, que esta seja uma cúpula em que todos os países “estejam focados em como lidar com alguns grandes desafios” e em como “aproveitar algumas grandes oportunidades".

Colaborou Nelson Damico Junior, graduando em Relações Internacionais

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