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Sob a diplomacia do PT, país vai na contramão da Argentina de Macri

Especial para o UOL

11/11/2015 06h00

Se as sondagens de opinião e as avaliações dos principais analistas estiverem corretas, Mauricio Macri deverá ser eleito presidente da Argentina em 22 de novembro. Este resultado, embora provável, não está assegurado, pois não se deve menosprezar a capacidade de mobilização da máquina peronista na reta final das eleições.

Caso seja eleito, Macri iniciará ainda em dezembro um programa de profundas transformações na Argentina, tanto no plano interno quanto no externo.

Em matéria de politica econômica, Macri já anunciou a retomada das negociações com os credores da Argentina, a independência do Banco Central, o respeito aos índices estatísticos, a desregulamentação e a abertura da economia e, o que é relevante para os importadores brasileiros de trigo, o fim dos registros (ROE) e dos impostos à exportação.

No plano externo, as mudanças não seriam menores. O novo governo promoverá um esforço concentrado para a conclusão de acordos comerciais. Primeiro, com a União Europeia, que ainda não foi possível não por culpa do Brasil, mas sim pelas artimanhas de Cristina Kirchner com a cumplicidade brasileira. As manobras deram à UE o argumento –ou pelo menos o pretexto– para rejeitar o  que seria, na verdade, o início da negociação. Com a possível eleição de Macri, estaria a UE disposta a sentar-se à mesa novamente para concluir uma negociação que já dura mais de uma década? Só os próximos meses dirão.

Mas esse será apenas o princípio. A seguir, virão as negociações com a aliança para o Pacífico, que o Brasil tem buscado evitar, sob o argumento ou a escusa de que já temos acordos de livre comércio com a maioria dos seus membros.

Na verdade, o Brasil não se dispõe a aceitar a presença do México num acordo em nossa região. A aliança para o Pacifico é mais do que um acordo de comércio, para ser a convergência de políticas econômicas, com o objetivo de formar um espaço econômico integrado na costa do Pacifico, como preâmbulo para uma convergência mais ampla no âmbito da Parceria Transpacífica (TPP, em inglês).

Por fim, Macri planeja lançar-se na negociação de novos acordos com diferentes parceiros comerciais para recuperar o tempo perdido pelo Mercosul.

No plano político, a guinada pode ser mais drástica, a começar pela Venezuela. Macri já anunciou que pedirá a aplicação da cláusula democrática do Mercosul à Venezuela, antes mesmo de Maduro sinalizar a possibilidade de fraude nas eleições. Que fará o Brasil, possivelmente em minoria dentro do próprio Mercosul, diante da nova posição argentina, que colocaria uma pá de cal à aventura bolivariana? Cuba hoje está mais próxima dos Estados Unidos do que da Venezuela. Buenos Aires, sob o governo de Macri, estaria mais distante de Caracas.

Onde ficaria o Brasil no caso de uma vitória da Frente Cambiemos? Macri tem reafirmado com convicção que sua prioridade será o Brasil. Mas como? Enquanto perdurar a diplomacia petista, voltaríamos a estar na contramão um do outro. O Brasil continuaria a pregar uma política econômica da intervenção, da regulação e do fechamento externo. Já a Argentina trilharia o caminho inverso.

A vitória provável de Macri apontaria assim o aprofundamento do isolamento a que a política das afinidades ideológicas conduziu o país. Já estamos isolados dos grandes centros da economia, com a exceção da China, pelo desastre em que se encontra a economia brasileira. Investidores estrangeiros não se mostram dispostos a conversar sobre as oportunidades de investimento no Brasil, no momento em que vivemos uma recessão de 3% e em que o governo ainda não conseguiu definir o marco regulatório para a maioria dos programas de concessão em infraestrutura.

O Brasil está isolado em sua própria região por ter negligenciado o traçado de uma nova linha de Tordesilhas entre os países do Atlântico e os do Pacífico. Caso Macri vença, a fratura será mais profunda, pois afetaria o eixo propulsor do Mercosul, ou seja as relações entre o Brasil e a Argentina. Resta-nos a aliança com o valoroso comandante Maduro. Por quanto tempo?

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