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Na dor, brasileiro está aprendendo a economizar

Especial para o UOL

28/11/2015 06h00

O brasileiro está aprendendo a economizar e a se planejar financeiramente, apesar de ser na dor. Os últimos anos –marcados primeiramente por uma oferta gigantesca de crédito, principalmente para a classe C, seguidos da recessão de 2015, com índices de inadimplência e taxa de desemprego em ascensão– foram uma verdadeira escola para o consumidor.

O Instituto Geoc,, que reúne 16 das principais empresas de cobrança do Brasil, foi às ruas conversar com a população e encontrou cidadãos mais maduros do que em anos anteriores. A pesquisa é feita regularmente para que a indústria que recupera crédito possa entender melhor a cabeça do inadimplente e posteriormente oferecer o melhor caminho para ele sair das dívidas.

As grandes soluções saem das crises, e com o consumidor não é diferente. Durante a pesquisa, boa parte dos entrevistados revelou soluções caseiras que estão ajudando, como sentar com a família, explicar o momento e economizar o máximo possível juntos. Existe a consciência de que a regularização das contas será a longo prazo, mas não dava para continuar consumindo desenfreadamente, segundo revelaram os entrevistados.

Paralelo ao bate papo nas ruas do centro de São Paulo, fizemos uma pesquisa em parceria com a empresa NetQuest com mais de 250 mil brasileiros que estiveram inadimplentes no último ano. Descobrimos que um terço (33,1%) das pessoas não vai ter condições de quitar seus débitos antes de 2017, e o principal motivo é o desemprego, que está hoje em 8,5% e deve chegar a 13% até o fim do ano que vem. Por isso, nós, empresas de cobrança, precisamos rever nossa estratégia de negociação para levar facilidades para estas pessoas que não estão enxergando um meio de regularizar a situação a curto e a médio prazos.

Outro dado preocupante é o percentual de pessoas que não sabem quanto devem. Atualmente 46,7% dos devedores não sabem o montante de suas dívidas. No ano passado este número era bem menor, 29%. O número de dívidas cresceu, e as pessoas perderam o controle da situação. E não estamos falando de consumidores que não têm acesso à informação. Mais de 62% dos pesquisados têm superior incompleto e completo. Apesar de terem demonstrado mais consciência na hora de consumir crédito, ainda falta educação financeira ao povo brasileiro.

As principais dívidas são do cartão de crédito (66,6%), crédito pessoal (43%) e varejo (31,8%). Entre as pessoas de renda mais baixa, o percentual de dívidas no varejo sobe para 41,7% para quem tem renda até R$ 1.450 e para 46,6% para aqueles que ganham entre R$ 1.450 e R$ 2.900. Já a modalidade financiamento de veículos é maior entre a classe média alta, que ganha acima de R$ 2.900.

Quando questionados sobre as contas que jamais deixam de pagar, 80,2% responderam água, luz e telefone. Aluguel e prestação da casa própria vêm em segundo lugar, com 42,9%. A pesquisa mostrou ainda que as contas de água, luz e telefone também são as primeiras a serem quitadas em caso de atraso (29,6%), seguidas de cartão de crédito (27,2%) e aluguel (14,6%). Já o cheque especial vem em último lugar (3,2%), o que nos preocupa muito, uma vez que ele tem juros muito altos, mas, ainda assim, acaba sendo o recurso mais fácil na hora do aperto, por estar ali, disponível automaticamente na conta corrente.

Para quitar os débitos pendentes, 42,7% dos entrevistados querem negociar os valores antes, 16,2% pretendem reduzir os gastos e 11,9% pensam em complementar a renda. Os solteiros foram os que mais citaram a alternativa reduzir gastos e os maiores de 40 anos são os mais dispostos a complementar a renda com outros trabalhos.

Olhando para o futuro, acredito que a concessão de crédito ainda tem espaço para crescer no Brasil, apesar da desaceleração dos últimos meses. E desejo que o crédito continue crescendo de forma moderada e consciente. Vamos superar as dificuldades. As pessoas são merecedoras de realizarem seus sonhos. Iniciativas por parte do credor e a cooperação entre todos nós que fazemos parte desta cadeia serão determinantes.

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