Cunha segue vivo e se transforma em homem-bomba imprevisível
Após ter tido seu mandato cassado, o outrora todo poderoso Eduardo Cunha não deve sair imediatamente da história como alguns já apostam e nem mesmo dos pesadelos de muitos de seus pares que de alguma forma precisaram dele para viabilizar seus projetos de poder. Definitivamente, ele se transforma num homem-bomba e passa a representar uma ameaça com desdobramentos ainda imprevisíveis para peemedebistas e ex-aliados, tanto dentro do governo quanto fora dele.
Cunha fica de imediato privado de dois ativos importantes que antes funcionavam como recursos de proteção contra ataques de seus adversários, e, inclusive, eram utilizados para protelar ações da Justiça e de órgãos de controle que estavam sendo desencadeadas contra ele: o foro privilegiado e os direitos políticos. Sem esses dois ativos que se interligam, o agora ex-deputado não tem mais como protelar o andamento das acusações que pesam contra ele na esfera penal.
A consequência imediata é que o processo contra Eduardo Cunha sai do STF e vai para as mãos de Sérgio Moro em Curitiba. Com isso, pode ganhar celeridade e se juntar com as investigações que já pesam contra membros de sua família –esposa e filha. A delação premiada, algo que também pode se estender a seus familiares, passa a ser sua única alternativa para diminuir o tamanho da pena decorrente de alguma condenação.
Os sinais de ameaça já emitidos por Eduardo Cunha tendem a aumentar e a ganhar materialidade não apenas numa eventual delação premiada contra ex-aliados, mas também pode trazer instabilidade na relação do governo Temer com a Câmara dos Deputados. Não custa lembrar que para além dos 10 deputados que votaram contra a sua cassação, 9 se abstiveram e 44 se ausentaram. Esse pode ser um forte indicador de que Cunha ainda tem influência sobre cerca de 60 parlamentares. Tal número, no momento de apreciação de uma PEC, pode fazer diferença se eles somarem com a oposição.
As pautas legislativas, sobretudo aquelas ligadas às propostas de reformas, não são nada consensuais e dividem, inclusive, a base de apoio de Michel Temer. Eduardo Cunha, que já criou muitas dificuldades para Dilma durante a apreciação de importantes pautas legislativas na Câmara –quem não se lembra da MP dos Portos– sabe muito bem como tirar proveito desse tipo de situação para buscar algum ganho.
Todavia, convém lembrar que a partir de agora ele não tem mais como atuar diretamente como parlamentar. Para tanto, teria que ter um preposto que agisse orientado por ele falasse também como líder do chamado centrão, tido como o espaço de aglutinação do baixo clero onde Cunha tinha força. Como, nesse momento, tal possibilidade é nula, resta a Eduardo Cunha jogar com a única arma que lhe restou: a ameaça de delação contra aqueles que ele acusa de traição. É assim que Cunha deve seguir vivo e fazendo ameaças pelo menos no curto prazo.
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