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Lula ironiza denúncias contra sua família e diz que "vai sobreviver"

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

29/10/2015 13h02Atualizada em 29/10/2015 17h40

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou seu discurso na reunião do Diretório Nacional do PT, nesta quinta-feira (29) para fazer críticas às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público que envolvem seus familiares e afirmou que vai “sobreviver” à fase de adversidades.

O tom usado por Lula nas críticas, no entanto, foi bem-humorado. Ele citou as investigações enquanto fazia uma análise do momento atual na política do país.

“É tudo muito incerto. Eu falei pra vocês: são 19 pedidos de impeachment , denúncia contra o presidente da Câmara, denúncia contra o presidente do Senado, denúncia contra o filho do Lula, denúncia contra o Lula, e eu ainda tenho mais três filhos que não foram denunciados e sete netos”, disse. “Não vai terminar nunca isso. E ainda tenho uma nora que está grávida”, afirmou, provocando risos na plateia do auditório onde é realizado o encontro, em Brasília.

Lula criticou o fato de não ter sido identificado o nome da suposta nora dele que teria recebido R$ 2 milhões, segundo foi apontado pelas investigações da operação Lava Jato. O lobista e delator Fernando Soares, o Baiano, afirmou em sua colaboração com a Justiça que repassou o valor ao pecuarista José Carlos Bumlai, em pagamento que seria destinado a quitar uma dívida imobiliária de uma das noras do ex-presidente.

“E me criaram um problema desgraçado, porque eles não levam a sério quando eles fazem essas críticas. Eu tenho quatro noras, disseram que uma recebeu R$ 2 milhões, e aí todo mundo começou a falar: quem é que tá rica aqui na família”, disse. “Daqui a pouco uma começa a abrir processo contra outra para repatriar o dinheiro que uma pegou”, afirmou Lula.

O ex-presidente afirmou ainda que vai “sobreviver” ao atual momento político e prometeu dar trabalho à oposição.

“Eu só queria que vocês não ficassem preocupados com esses problemas, porque eu digo sempre, ninguém, pode ter certeza, precisa ficar com pena. Porque se tem uma coisa que eu aprendi na vida é enfrentar adversidade”, disse.

“Se o objetivo é truncar qualquer perspectiva de futuro, então vão ser três anos de muita pancadaria. E pode ficar certo, eu vou sobreviver”, afirmou, em referência indireta a 2018, ano de eleições presidenciais. “Eu não sei se eles [oposição] sobreviverão com a mesma credibilidade que eles acham que têm, mas eu vou sobreviver”, concluiu Lula.

Investigações sobre família de lula

A tese de que as investigações sobre familiares de Lula e sua repercussão na imprensa se devem a uma "perseguição" contra o PT tem sido reafirmada pelo presidente do partido, Rui Falcão.

Nesta semana um dos filhos de Lula, o empresário Luís Cláudio, teve seu escritório revistado por mandado de busca e apreensão expedido para a operação Zelotes, que investiga um esquema de pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) para reduzir ou anular multas tributárias. 

A empresa de Luís Cláudio é suspeita de ter recebido repasses da Marcondes e Mautoni, empresa de lobby investigada por ter atuado na aprovação da medida provisória que prorrogou a isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a indústria automobilística.

O advogado de Luís Cláudio diz que o pagamento se refere a serviços de marketing esportivo, área de atuação da empresa.

Defesa do ajuste e crítica ao impeachment

O ex-presidente defendeu que a "prioridade zero" do PT no Congresso Nacional deve ser aprovar as medidas de ajuste fiscal enviadas pelo governo da presidente Dilma. "Qual é a prioridade zero do nosso partido no Congresso Nacional hoje? É a gente criar condições para aprovar as medidas que a presidenta Dilma mandou para o Congresso Nacional para que ela encerre definitivamente essa ideia do ajuste [fiscal], para que a gente possa ver a economia voltar a crescer", disse Lula. "Sem a conclusão desse ajuste, ficamos numa confusão política muito grande", afirmou.

Também sobraram críticas para a oposição. A defesa do governo contra os pedidos de impeachment da presidente Dilma apresentados pela oposição foi citada por Lula como a segunda prioridade do PT. "Nós não temos o direito de permitir que se discuta impeachment da forma que se quer discutir: sem nenhuma base legal e sem nenhuma razão", disse. "Se a moda pega, qualquer um que perca a eleição entra com pedido de impeachment."

Eleições 2016

Lula defendeu que a oposição ao PT nos grandes centros terá um efeito limitado nas eleições do próximo ano, e afirmou que o partido tem chances de conquistar a reeleição na capital paulista, com Fernando Haddad (PT).

“Pode ficar certo que nós temos chance de ganhar a capital de São Paulo. Se a gente ficar analisando as pesquisas feitas na avenida Paulista, não. Mas nós nunca ganhamos lá”, disse. “Nós temos que olhar, é que toda cidade, apesar da zona rica, tem uma maioria de zona de média pra pobre. E exatamente nessa periferia que está nossa força”, afirmou.

“Normalmente o povo vai votar em função da realidade de sua cidade. Se o povo de uma capital está nervoso, isso não interfere no voto do cidadão lá da minha Garanhuns ou de minha Caetés”, disse Lula.