Topo

Mãe com sintomas de zika tem um dos gêmeos com microcefalia

Jaqueline Jessica Silva de Oliveira com seus filhos gêmeos Lucas e Laura. A menina nasceu com microcefalia e o menino não - Clayton de Souza/Estadão Conteúdo
Jaqueline Jessica Silva de Oliveira com seus filhos gêmeos Lucas e Laura. A menina nasceu com microcefalia e o menino não Imagem: Clayton de Souza/Estadão Conteúdo

Fabiana Cambricoli

Em São Paulo

18/01/2016 09h34

"Ninguém me disse o porquê. Só falaram que era caso para estudo." Foi assim, sem receber muitas explicações, que a dona de casa Jaqueline Jéssica de Oliveira, de 24 anos, saiu da maternidade do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no dia 27 de novembro. Nos braços, ela levava Laura e Lucas, seus filhos gêmeos nascidos dez dias antes. Oito centímetros indicavam uma diferença marcante entre as crianças. O menino veio ao mundo saudável, com 34 centímetros de perímetro cefálico. Já a cabeça da menina tinha apenas 26 centímetros, o que não deixou dúvidas sobre o diagnóstico: Laura nasceu com microcefalia.

A hipótese da má-formação em um dos bebês já havia sido levantada em setembro, no sétimo mês de gravidez, durante o pré-natal, mas Jaqueline e o marido acreditavam que o quadro poderia mudar até o nascimento. "Fizeram tudo quanto foi exame para ver se eu tinha alguma infecção que poderia ter causado a microcefalia e deu tudo negativo. Naquela época ainda não falavam muito da zika", conta ela. "A gente achava que ela podia se desenvolver ainda na barriga e nascer normal. Foi um choque quando a gente viu o menino normal e a menina com a cabeça menor", diz.

A surpresa não foi uma reação apenas dos familiares. Jaqueline ouviu dos médicos que, para ter respostas, o caso teria de ser estudado. E ficava aflita cada vez que entrava em um consultório e via na face do profissional mais interrogações do que esclarecimentos. "Eu nunca nem tinha ouvido falar de microcefalia. Perguntei para os médicos o que significava, se minha filha teria alguma sequela e me disseram que talvez ela teria um desenvolvimento mais lento do que o normal. Quis saber mais detalhes e a médica me falou: 'pergunte a Deus, porque ele é poderoso'", conta.

 

Causas

Ainda não há comprovação de que o zika tenha sido o responsável pela má-formação em Laura. No terceiro mês de gestação, Jaqueline teve dor de cabeça e manchas e coceira nos braços. Pensou que era dengue, mas, como os sintomas passaram em um dia, acreditou que tinha sido apenas uma alergia.
Após o parto, os bebês passaram por uma série de exames. Várias amostras de sangue foram colhidas. "Mandaram tudo para São Paulo, mas nunca ninguém disse o que deu", conta a mãe dos gêmeos.

A Secretaria Estadual da Saúde disse que as amostras foram enviadas para o Instituto Adolfo Lutz, laboratório de referência para investigação dos casos de microcefalia com suspeita de ligação com o zika. O vírus não foi achado no material de Laura, mas esse resultado não é definitivo. Como ainda não existem testes precisos para identificação do agente, há possibilidade de o resultado ser um falso negativo.

Enquanto isso, dúvidas não param de surgir na cabeça de Jaqueline. "Será possível que um vírus transmitido por um mosquito causou isso? Deus teria um propósito para me mandar uma filha assim? Como vai ser o desenvolvimento dela? Será que ela vai falar e andar?" Ao menos o choque pelo fato de ver um dos filhos saudável e o outro com microcefalia já se transformou em alento para a moradora de Santos. "No começo eu ficava triste. Agora, quando me perguntam se tem uma explicação para isso, falo que foi Deus quem permitiu que só um nascesse com o probleminha", conta.

Agora, o que mais vem preocupando Jaqueline é como dar a atenção que Laura precisa sem descuidar dos outros três filhos: o gêmeo Lucas, Gabrielle, de 4 anos, e Paulo, de 8. Em breve, a bebê vai iniciar o tratamento de estimulação com fisioterapia. "Por enquanto tem minha mãe, que veio de Pernambuco para me ajudar, mas e quando ela for embora?"

Com a família longe, Jaqueline não tem um parente a quem possa pedir ajuda nem condições de pagar uma babá. A única fonte de renda da casa é o salário de R$ 2 mil do marido, que trabalha na construção civil. "Só de aluguel vai R$ 800. O que sobra? Eu queria comprar todos esses objetos e brinquedos de estimulação para a minha filha, mas vai ser difícil. Só queria que ela tivesse a chance de andar, falar. Quero um dia ver ela aprender a sorrir." (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)