Aplicativos prometem despertar em melhor momento do ciclo do sono; médicos não indicam
O despertador toca às 7h15. Você abre dificilmente um olho e coloca a soneca. Em dez minutos: "trim, trim". Você, de novo, liga a soneca e fica nesse processo até que resolve acordar.
A história soou familiar? Pois exatamente por ser tão difícil acordar de manhã, aplicativos para celular que prometem despertar no melhor momento do ciclo do sono estão virando febre. Apesar disso, especialistas ouvidos pelo UOL Saúde têm ressalvas quanto a seu uso, que deve ser apenas recreativo.
Sleep as Android
O Sleep Cycle (US$ 0,99) para iPhone e o Sleep as Android (trial gratuito), apps entre os mais baixados para as duas plataformas, funcionam de maneira semelhante. Eles usam o acelerômetro do smartphone para detectar movimentos na cama enquanto você dorme. Movimentos são interpretados como se você estivesse em um sono leve e/ou acordado, já a ausência de movimentos é lida como se você estivesse em sono profundo.
"Existe um equipamento que chama actigrafia que registra os movimentos para detectar se a pessoa está dormindo ou não. Geralmente é um equipamento usado na forma de um relógio. Estes aplicativos usam o mesmo princípio, de que em sono profundo você não se mexe ou se mexe muito pouco", explica a especialista do Instituto do Sono de São Paulo, Sonia Togeiro. Apesar disso, ela lembra que os movimentos na fase 2 do sono, considerado leve, são muito parecidos com as fases de sono profundo.
Segundo a pneumologista, o uso deste princípio no celular traz grandes imprecisões. Primeiro, porque os apps usam o acelerômetro do celular para detectar movimento. Assim, uns são mais sensíveis ao movimento e outros menos, dependendo do aparelho e não do software. Portanto, a detecção do sono é menos precisa.
Além disso, como o aparelho deve ficar ao lado da pessoa na cama, depende de quanto o colchão vai se mexer. Por fim, ela lembra que você ainda pode estar acordado, mas imóvel, e o aplicativo irá dizer que você está em sono profundo.
Sleep Cycle para iPhone
Sonia afirma que realmente é mais difícil acordar no sono REM, que é um sono mais profundo, por isso, a ideia de acordar no momento do ciclo em que você estiver no sono leve facilita o processo de acordar. "Nesta fase, a inércia para sair do sono é grande, por isso acordamos mesmo 'bêbados' de sono neste estágio", afirma a médica. Mas ela lembra que para detectar o sono REM só com eletrodos no cérebro, e equipamentos especiais para detectar o movimento dos olhos e contração muscular.
Já o neurologista Rubens Reimão, do Grupo de Sono do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, é mais duro. "Nada que diminua seu tempo de sono é aconselhável. O ideal do sono é que apessoa durma bem o número de horas necessário para que ela se sinta bem".
Ele diz isso porque o aplicativo pede para que você coloque a hora em que quer acordar e dê uma margem de 25 minutos a 2 horas para que ele possa te acordar antes, se você estiver em um sono mais leve. Sonia concorda: "o sono precisa ser respeitado, se você ainda estiver com sono, vai querer dormir de qualquer jeito", destaca.
O aplicativo gera ainda um gráfico do sono durante a noite, o que, para Sônia, pode ser usado como um diário, apenas, para investigação prévia em caso de suspeita de algum distúrbio do sono, como a insônia. O fato de os aplicativos acordarem com luz e com sons suaves, como canto de pássaros e barulho do mar, em vez da tradicional campainha também é vista como positiva pela médica. "Ninguém gosta de acordar assustado, né?".
Para o neurologista o aplicativo deve ser usado como um "brincadeira para a pessoa ter uma ideia de como é o sono". Ele lembra que,é importante analisar a continuidade do sono. "O sono sem muitas interrupções é essencial para se sentir bem no dia seguinte. É preciso estar no sono profundo e que ele não seja interrompido".
Ciclo do sono
O sono não é igual durante todo o tempo em que estamos adormecidos. Durante as 8 horas médias que uma pessoa precisa dormir para "recarregar as baterias", temos de 3 a 5 ciclos de 1h30, mais ou menos.
O primeiro estágio do sono é a sonolência, é a passagem da vigilância para o sono. É quando você adormece em frente à TV, mas se alguém muda de canal, você desperta e jura que estava assistindo. Este estágio dura em torno de 5 minutos ou 5% do tempo total de sono.
O período maior de sono, 45% do total, é composto da segunda fase do sono. O eletroencefalograma mostra frequências de ondas mais lentas, aparecendo o complexo K e fusos, que são ondas de alta amplitude. Já pode apresentar sonhos.
As fases três e quatro do sono não REM são chamados também de sono profundo, nesta fase os músculos estão muito mais relaxados e quase não há movimentação. Servem para recuperação física, muscular e esquelética de um dia para outro e é também quado ocorrem as secreções hormonais. Depois, há uma rápida volta para o estágio 2 e, então, entra-se no sono REM.
No sono REM (que significa rápido movimento de olhos), a atividade cerebral está em pleno vapor, a frequencia cardíaca e respiratória voltam a aumentar, já os músculos ficam paralisados. É quando há recuperação das funções cognitiva e da memória. No início do período de sono, o tempo do REM é mais curto e vai aumentando ao longo dos ciclos. Ele corresponde a cerca de 25% do total do tempo de sono e é quando ocorrem a maioria dos sonhos, especialmente aqueles que você lembra.
CICLO DO SONO
AS PESSOAS EM GERAL DORMEM 8 HORAS
SÃO DE 3 A 5 CICLOS DE 1H30 CADA
OS SONOS REM E NÃO REM SE ALTERNAM
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