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Mantida pela prefeitura, casa de parto no Rio registra 2.000 nascimentos em oito anos

Isabela Vieira

Repórter da Agência Brasil, no Rio

22/10/2012 11h36

Pela segunda vez em menos de um ano, a dona de casa Valéria Ferreira Pinto, 43 anos, participa da apresentação da Casa de Parto David Capistrano Filho a gestantes e acompanhantes. Vinculada à rede municipal de saúde, a unidade, localizada em Realengo, zona norte da cidade do Rio, faz o pré-natal e o parto de grávidas consideradas de baixo risco, aquelas que nunca passaram por uma cesárea e não têm doenças como hipertensão e diabetes, que podem gerar complicações.

O atendimento cuidadoso e a tranquilidade do ambiente fizeram com que Valéria incentivasse a filha mais nova, Raquel Ferreira, 16 anos, a conhecer a casa. A jovem ficou grávida um pouco depois da irmã mais velha, Aline Ferreira, 21 anos, que também foi à casa de parto acompanhada da mãe. Elas souberam da existência da unidade por recomendação de vizinhos.

No local, o parto é feito por enfermeiras especializadas em obstetrícia, sem a presença de médicos. “O meu primeiro questionamento era a falta de médicos. Mas, nas oficinas, a diretora explicou claramente que o parto sem complicações pode ser feito aqui, por enfermeira”, lembra Valéria.

A filha mais velha, Aline, conta que as informações dadas pelas funcionárias durante as oficinas sobre gestação saudável e parto natural a deixaram mais segura. “Tudo isso passa tranquilidade e confiança para a família e a gestante.”

A apresentação faz parte de uma série de oficinas obrigatórias para quem escolhe a casa como local de pré-natal e parto. No encontro, a diretora Leila Azevedo explica a importância do acompanhamento para identificar riscos na gravidez, o que impede a grávida de ser atendida na unidade. Também apresenta as opções para o parto natural (como de cócoras e na banheira), além de cuidados oferecidos à parturiente como massagens e exercícios.

Desde a criação da casa, há oito anos, 2 mil bebês nasceram sem registro de morte materna. O resultado reflete o cumprimento dos rígidos protocolos de atendimento, avalia a   superintendente de Maternidades e Hospitais Pediátricos da Secretaria Municipal de Saúde, Maria Auxiliadora Gomes. Quando são identificadas complicações e as gestantes precisam de tratamentos à base de remédios – como uma infecção urinária, por exemplo –, elas são levadas a um médico.

“Na casa, um parto não começa no final da gravidez, começa antes”, diz a superintendente. “A segurança se baseia em uma criteriosa e constante avaliação da gestante. Se há algum indício de que algo possa exigir maior complexidade, de que algo possa não ir bem, ela vai terminar o pré-natal em outra unidade. Se for na hora [de o bebê nascer], vai de ambulância [para um hospital]”, reforçou.  

Embora questionada por médicos, a Casa de Parto David Capistrano Filho ganhou “fama” e passou a ser conhecida principalmente pela divulgação “boca a boca”. A maioria das mulheres que procuram o local – único estabelecimento do tipo no Rio – é do próprio bairro. A unidade foi instalada em Realengo por causa da concentração de mulheres em idade fértil. Mas hoje, é procurada por gestantes de várias classes sociais e de bairros como Jacarepaguá e Recreio, que viajam pelo menos uma hora até chegar ao local.

Para as irmãs Keila Fernandes, 23 anos, que está grávida, e Kelly Cristina da Silva, 21, que teve o bebê na casa de parto, o acolhimento e o carinho na unidade são o diferencial. “Eles ligam quando o exame dá alteração, têm as oficinas. Não é como no posto, medir a barriga, perguntar se você está bem, e pronto, acabou”, contou Keila que mora no bairro de Anchieta, próximo a Realengo.

Para emergências durante o parto normal, uma ambulância está à disposição 24 horas. Nesses casos, as grávidas são levadas para o Hospital Maternidade Alexander Fleming, a oito minutos do local.