Honey Boo Boo: reality show mostra como não alimentar seu filho
Sucesso de audiência nos EUA, o reality show "Here Comes Honey Boo Boo" estreou no Brasil no último dia 27, pelo canal pago TLC. Protagonizado pela rechonchuda miss mirim Alana Thompson o programa vira e mexe é alvo de críticas na imprensa americana. E, apesar de ser veiculado à noite, teoricamente longe da vista das crianças, os hábitos alimentares bizarros da família prometem deixar especialistas em obesidade com os cabelos em pé por aqui, também.
Os hábitos alimentares da família são expostos logo no primeiro episódio, da primeira temporada, quando a miss mirim aparece com um pote de salgadinhos de queijo. Não se trata de um lanchinho - que nem assim seria considerado saudável -, mas sim do café da manhã da criança. Sua família chama o snack de "café da manhã dos campeões".
A nutricionista Gisela Savioli, do programa Mais Saúde, explica que essa é a pior maneira de começar o dia: "O café da manhã é a refeição mais importante, que sinaliza para nosso cérebro como será nosso dia: fartura ou escassez? Salgadinhos ricos em gordura e sódio, além de trazer prejuízos à saúde, sinalizam para o nosso cérebro que esta faltando nutrientes, estimulando o aumento do apetite em busca de mais comida para suprir as necessidades que temos".
A lógica da família Thompson é simples: comida pronta e enlatada é prática e barata. O tipo de alimentação vem a calhar para a mãe de Alana, June, que é declaradamente viciada em cupons de descontos. O almoço de Ação de Graças, mostrado em um dos episódios, dá uma dimensão da preferência: "Se não está na lata, não é para a gente", afirma a mãe. O saldo do almoço festivo foram 14 latas de feijão, dez de milho, oito de ervilha e 12 de doce de cranberry, uma das iguarias prediletas de Alana.
O peru não era enlatado, mas nem por isso ficou mais saudável - June besunta a ave com uma porção generosa de manteiga. Alimento que, junto com o açúcar, "melhora o gosto de qualquer coisa". O que explica outra preferência alimentar da família: o Sketti, um macarrão com molho de manteiga e ketchup, aquecido no micro-ondas.
Os hábitos alimentares da família são expostos logo no primeiro episódio, da primeira temporada, quando a miss mirim aparece com um pote de salgadinhos de queijo. Não se trata de um lanchinho - que nem assim seria considerado saudável -, mas sim do café da manhã da criança
Muita gente pode achar que o reality revela hábitos que têm mais a ver com o universo dos EUA, país campeão em obesidade. Mas o brasileiro não está tão atrás, assim: o problema afeta 15% da população. E o excesso de gordura e de carboidratos também é a causa dessa realidade. "Infelizmente não se vê apenas crianças comendo o que esta mais fácil ao alcance das mãos. Já vi mães darem refrigerante em mamadeira para seus bebes!", comenta Savioli.
Energético com refrigerante
Alana Thompson foi descoberta no programa “Todlers and Tiaras”, que mostra a preparação de crianças para concursos de miss mirins. Gravado quando a garota tinha seis anos, o programa mostra uma bebida que "mama June" prepara com o intuito de manter a garota alerta nas competições. A mistura de energético e refrigerante foi batizada pela família Thompson de “Go Go Juice”. As outras candidatas também têm seu "doping": elas esvaziam canudos de açúcar antes de entrar no palco.
Qualquer pessoa sabe que entupir uma criança de açúcar e de energético não faz bem. Mas Savioli explica o motivo: essas substâncias "nos estimulam num primeiro momento e deprimem em seguida". Ela conta que essas "drogas" promovem, ao longo do tempo, um desgaste nas mitocôndrias, organelas das células que são usinas de energia e têm papel primordial no envelhecimento. "Essas meninas estão “gastando” as suas antes do tempo e com certeza acabarão devedoras delas mesmas no futuro", relata.
A bizarrice é tanta que o reality pode até estimular a crítica e levar muita gente a prestar mais atenção no que come. Mas Claudio Leoni, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do grupo de trabalho da Ilsi, não é tão otimista. "Todos os programas de TV exercem um efeito de indução de comportamentos", acredita.
Na opinião dele, os hábitos nada saudáveis da família acabam virando "algo normal" para os olhos do público só pelo fato de estar na telinha. "A obesidade não precisa ser discriminada, mas também não precisa ser promovida", considera.
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