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Porto Alegre registra mais um caso de superbactéria com a enzima NDM

Flávio Ilha

Do UOL, em Porto Alegre

20/05/2013 12h38

O Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre confirmou na manhã desta segunda-feira (20) a ocorrência de um caso de colonização por bactéria com a enzima NDM 1 (New Delhi Metallo-B-lactamase-1), resistente a antibióticos. O paciente está internado no Hospital Santa Clara e, segundo a assessoria de imprensa do complexo, permanece isolado e não desenvolveu infecções.

O caso foi notificado às autoridades de saúde do Estado na última sexta-feira (17). É o segundo hospital de Porto Alegre a confirmar a existência da superbactéria, que pode levar à morte.  A NDM-1 foi identificada pela primeira vez no Brasil dentro do Hospital Conceição, que registrou cinco casos de colonização (quando a bactéria está no organismo, mas não causa infecção) desde setembro de 2012. Quatro receberam alta e um deles morreu após deixar o hospital. O quinto paciente continua internado.

NDM causa resistência a antibióticos usados em pacientes graves

Tatiana Pronin
Do UOL, em São Paulo

As chamadas "superbactérias" são micro-organismos resistentes a diferentes classes de antibióticos. O uso incorreto e abusivo desse tipo de medicamento é a principal causa do problema.

Segundo o especialista Jorge Luiz Sampaio, responsável pela área de microbiologia do laboratório Fleury, em São Paulo, há vários mecanismos envolvidos nesse processo: a bactéria pode mudar a configuração do alvo do antibiótico, ou bombeia a substância para fora, por exemplo.

É possível, ainda, que a bactéria produza uma enzima que degrada o antibiótico. Esse é o caso da enzima NDM (New Delhi Metallo-B-lactamase-1), identificada em enterobactérias no RS, e também da KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase).

A NDM foi descrita pela primeira vez em 2009, com um caso na Índia. Depois disso, foi encontrada na Europa e em outros países, mas os casos recentes no RS são os primeiros no Brasil. "A NDM está numa estrutura genética que se dissemina rapidamente entre as bactérias", explica Sampaio. Daí o receio dos especialistas em relação às ocorrências.

Tanto a NDM quanto a KPC geram resistência a antibióticos que costumam ser usados em pacientes graves, que estão na UTI. Sempre que há uma infecção, os médicos costumam administrar antimicrobianos de amplo espectro, já que os resultados das culturas para identificar o tipo de bactéria demoram pelo menos 72 horas para sair. É por isso que superbactérias representam uma enorme ameaça nos hospitais.

Segundo a chefe de controle de infecção do Complexo Santa Casa, Teresa Sukiennik, a NDM-1 foi detectada após investigações minuciosas em pacientes do hospital. “Desde que foram registrados casos no Conceição, realizamos exames em várias pessoas chegamos a este caso em particular. As precauções necessárias já foram to madas”, tranquilizou a coordenadora.    

Ela não descartou, entretanto, a possibilidade de novos casos de pessoas que tenham tido contato com o paciente atual, que estão sendo investigadas. A Santa Casa também confirmou o registro de cinco casos de KPC (Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase), todos sem infecção.

De acordo com Teresa, o paciente com NDM 1 necessitou de acompanhamento no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do complexo, mas já tem alta programada para esta semana. A liberação, no entanto, ainda depende do resultado de exames que comprovem a condição de saúde do infectado.

Bloqueio 

Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou o bloqueio de 15 leitos do Hospital Conceição para higienização do ambiente da Unidade de Tratamento Intensivo. Os leitos permanecem interditados. Além da NDM 1, o Conceição também registrou 18 casos de colonização por KPC; nenhum deles desenvolveu infecções.

O Laboratório de Biologia Molecular da Santa Casa validou um teste molecular para a detecção do mecanismo de resistência no próprio laboratório da instituição. O chefe do laboratório, Alessandro Pasqualotto, colocou a técnica à disposição de outros hospitais interessados em investigar seus pacientes.

Conforme a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde, a situação que mais preocupa na capital é o registro da NMD 1, já que ela não responde a tratamentos por antibióticos e deve ser combatida apenas pelo próprio sistema imunológico do paciente.

A Secretaria Estadual da Saúde também reforçou, nesta manhã, o alerta a todos os estabelecimentos de saúde do estado para que previnam a disseminação de micro-organismos multirresistentes com a higienização de mãos e do ambiente hospitalar.