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Psicólogos ajudam pacientes a emagrecer com balão imaginário no estômago

A psicóloga Vânia Calazans simula sessão de hipnose; a paciente imagina que está num centro cirúrgico para inserção de um balão intragástrico  - Arquivo pessoal
A psicóloga Vânia Calazans simula sessão de hipnose; a paciente imagina que está num centro cirúrgico para inserção de um balão intragástrico Imagem: Arquivo pessoal

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

08/06/2013 07h00

Colocar um balão no estômago para comer menos é uma ideia que provavelmente já passou pela cabeça de quem já tentou de tudo para emagrecer e não teve sucesso. Mas todo mundo sabe que o procedimento, apesar de menos invasivo que a cirurgia de redução de estômago, tem seus riscos e só é indicado para pacientes graves. Então, que tal colocar um balão imaginário, numa sessão de hipnose?

Se para você hipnose é coisa de charlatão que faz show no circo, saiba que a ferramenta tem sido adotada, há bastante tempo, por profissionais de saúde para tratar problemas como dor, ansiedade e depressão. E lutar contra a compulsão por comida está no escopo de alguns especialistas.

Um dos profissionais que abraçou a estratégia é o psicólogo Benomy Silberfarb, de Porto Alegre, autor do livro "Hipnoterapia Cognitiva" (Ed. Vetor). Aplicado por ele desde 1998, o chamado "Balão Intragástrico Imaginário" foi adaptado de um método desenvolvido por especialistas espanhóis.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que só é hipnotizado quem quer, e a pessoa fica consciente o tempo todo. O transe é mais um estado de relaxamento profundo, em que é mais fácil visualizar o que o terapeuta propõe. "Se a pessoa quiser levantar no meio da sessão e ir embora, ela vai", explica o psicólogo.

Em segundo, o trabalho não consiste somente em colocar o balão imaginário e pronto. No método desenvolvido pelo psicólogo, a hipnose é apenas um coadjuvante da terapia cognitivo-comportamental clássica, que em resumo consiste em fazer a pessoa entender o que a leva a comer demais e propor instrumentos para modificar o padrão. Em paralelo, o paciente deve ter uma proposta alimentar bem definida e praticar alguma atividade física.

"Não é mágica", enfatiza a psicóloga Vânia Calazans, que aplica a técnica de Silberfarb em seu consultório, em São Paulo. O trabalho completo envolve pelo menos doze sessões e só nas consultas finais é que o balão é "colocado", desde que o terapeuta avalie que vai funcionar para aquele caso. Antes disso, porém, o paciente já aprende a identificar gatilhos e mudar seu comportamento diante da comida e, segundo a psicóloga, já começa a emagrecer.

Vídeo de curso mostra como é uma sessão para 'colocar' o balão 

Cirurgia imaginária

Embora seja apenas parte do processo, a "colocação" do balão é bem peculiar. Para ajudar o paciente a vivenciar o "procedimento", Silbefarb utiliza um software que simula sons de um centro cirúrgico, com monitor cardíaco e tudo. O braço de quem está sob hipnose é tocado no momento da "aplicação da anestesia" e a pessoa ouve até o "cirurgião" encher o balão, depois que ele é colocado no estômago por meio de uma pequena "incisão" na barriga.

"Peraí": mas o balão intragástrico, na vida real, não é colocado por endoscopia? Sim, mas no universo da hipnose, as coisas não precisam ser tão realistas. Afinal, o paciente hipnotizado precisa falar durante o processo (para dar feedback ao terapeuta). E, convenhamos, ninguém gosta de imaginar um cano entrando pela garganta.

Nas sessões seguintes, o paciente aprende a se auto-hipnotizar e é orientado a "fazer a manutenção" em casa. Algo simples - uma espécie de mantra que a pessoa entoa algumas vezes antes de dormir, uma ou mais vezes por semana. Terminada a fase das consultas semanais, o ideal é que o paciente vá ao consultório uma vez por mês até se sentir independente. O preço de cada sessão varia entre terapeutas, mas equivale a uma consulta com psicólogo.

Vale dizer que nem todo mundo é suscetível à hipnose. "Cerca de 98% dos pacientes são, e isso é algo hereditário", diz Silberfarb. Em 1% dos casos, a pessoa simplesmente não quer ser hipnotizada, muitas vezes por não aceitar a ideia de não ser quem está no controle - algo que tem a ver com a personalidade. A parcela restante é de indivíduos com transtornos psicológicos graves ou com deficit de atenção alto.

Aversão ou âncora

Uma das etapas do trabalho consiste em fazer o paciente desenvolver autocontrole diante das tentações alimentares. E cada um tem seu ponto fraco: algumas pessoas não resistem a um pedaço de bolo, por exemplo, enquanto outras não abrem mão da cervejada no fim de semana.

"Recurso auxiliar"

A resolução nº 013, publicada em 2000 pelo Conselho Federal de Psicologia, regulamenta o uso da hipnose como "recurso auxiliar do trabalho do psicólogo".

O documento estabelece, no entanto, que a hipnose não pode ser usada pelo psicólogo como "instrumento de mera demonstração fútil ou de caráter sensacionalista", nem criar situações constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo

Com a hipnose, os terapeutas conseguem simular situações de exposição ao alimento e aversão. Se o paciente tem nojo de cabelo na comida, por exemplo, pode imaginar, durante o transe, um monte de fios espalhados naquele prato de macarronada que o faz sair da dieta todo domingo.

Calazans deixa claro que ninguém vai passar a ter náuseas toda vez que se deparar com o prato predileto. Apenas vai ter mais força de vontade para dizer "não, obrigado". E aí um padrão positivo se concretiza: a pessoa percebe que é capaz, sim, de recusar a iguaria sem sofrer. "Conforme isso se repete, vira um hábito", garante a psicóloga.

Outra estratégia utilizada no processo é o que a especialista chama de instalação de âncoras. Ou seja: a pessoa adota algum comportamento para desfazer o gatilho da compulsão. Se ela abre a gaveta e pega um chocolate sempre que está estressada, "aprende", com ajuda da hipnose, a trocar a atitude por um gesto, como fazer uma figa, por exemplo. Pode parecer coisa de maluco, mas Calazans esclarece que, à medida que a pessoa ganha autoconfiança, vai perdendo a necessidade de usar essas muletas.

Cada caso, uma saída

Mesmo sabendo que não viria a ter ânsia diante dos doces, sua maior paixão, a advogada Luciana Jantalia não quis fazer esse tipo de associação durante a hipnose. Nem por isso ficou sem alternativa: ela se condicionou, nas sessões, a trocar o pedaço de bolo por uma fruta ou um copo de água. E, para ela, deu certo. "Estou desde outubro do ano passado sem comer doce", comemora.

Depois da "colocação" do balão, a advogada também percebeu que podia se satisfazer com quantidades menores. Resultado? Ela perdeu 17 kg nos últimos oito meses e recuperou a autoestima (ela já evitava aparecer em fotos, por causa do peso).

Jantalia confessa que tinha "um pé atrás" em relação à hipnose, mas hoje acredita que a técnica pode ser útil em diversos aspectos da vida. Tanto que agora está utilizando o mesmo tipo de terapia com foco na profissão.

Vitória Pereira também admite que tinha uma noção estereotipada sobre a hipnose. Mas ela já tinha testado diversas soluções malucas, como a dieta da sopa e a do limão, e só continuava a engordar. Então decidiu matar a curiosidade, depois de ler sobre o balão imaginário na internet. Depois de começar a terapia, viu que o transe nada mais é que "um relaxamento gostoso".

  • Ilustração mostra como é o balão intragástrico de verdade

Após vencer a compulsão pelos doces e diminuir as porções, com ajuda do balão imaginário, ela emagreceu 14 kg. "Foram mais ou menos 3 kg por mês", conta. Está há dois meses fazendo a "manutenção", com uma sessão por semana de auto-hipnose. Assim como Jantalia, ela diz que "a comida deixou de ser o mais importante".

Resta saber se os efeitos serão duradouros. Os psicólogos juram que os pacientes com os quais ainda mantêm contato não voltaram a engordar. Dois especialistas em obesidade procurados pelo UOL preferiram não se manifestar sobre a técnica, por não conhecê-la, e comentaram que as pessoas que querem emagrecer devem buscar estratégias comprovadas por estudos científicos.