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Dispositivo criado por gregos permite que pessoas deficientes entrem no mar

Do UOL, em São Paulo

09/08/2013 13h29

Na Grécia,com suas centenas de ilhas, um dos maiores litorais do mundo e um clima excelente, as pessoas têm a sorte de desfrutar da praia durante quase metade do ano. Nadar no mar é um modo de vida para muitos gregos e um hábito ao qual já estão acostumados desde os primeiros anos. Com o turismo sendo a maior indústria do país, quase todos os visitantes planejam pelo menos "tocar" o mar durante as férias.

Mas para alguns,as coisas não são tão simples. Aqueles com deficiência sempre tiveram de pedir ajuda para desfrutar do simples prazer de nadar no mar, já que cadeiras de rodas não podem ser conduzidas na areia ou sobre pedras. Infelizmente, isso não é incomum em um país onde as facilidades de acesso para os deficientes são, em geral, muito pobres, mesmo no nível mais básico. A falta de infraestrutura por parte do Estado e o comportamento hostil de muitos moradores é um “coquetel de envenenamento” da vida cotidiana daqueles que dependem de cadeiras de rodas para se locomover.

Em um ambiente tão difícil, uma equipe de estudantes e professores universitários desenvolveu um dispositivo movido à energia solar, que permite acesso autônomo à praia para pessoas com deficiência: o "Seatrac", um projecto inovador, coberto por patentes europeias e dos EUA, mas criado para a realidade grega.

"Eu sinto como se construísse um apartamento de cobertura, sem um edifício debaixo dela", diz o engenheiro Ignatios Fotiou, um dos inventores. O dispositivo, que foi vendido e colocado em algumas praias em todo o país, tem sido muito bem recebido por seus usuários. Aqueles que o utilizaram no ano passado esperaram ansiosamente pela temporada de verão para usá-lo de novo. Muitos ainda agendaram suas férias de verão e alugaram casas perto de praias onde o dispositivo foi colocado.

"Isso faz você se sentir livre e capaz de fazer coisas que não poderia imaginar que poderia fazer em seu próprio país", diz Lefteris Theofilou, de 52 anos, paraplégico e preso a uma cadeira de rodas desde 1992.

Ainda assim, não importa o quão moderno e inovador seja o dispositivo, não é suficiente para superar as "deficiências" - não das pessoas, mas da realidade grega. Em Alepochori, uma cidade costeira a poucos quilômetros de Atenas, os pais deixam seus filhos utilizar o aparelho como um trampolim e vandalismo não é um fenômeno raro. Enquanto nos municípios que compraram os dispositivos, os moradores dizem que não foi feito nada em termos de desenvolvimento de uma infra-estrutura de apoio e, além disso, as autoridades não são capazes de resolver um problema quando ele surge.

Em uma praia movimentada em Alepochori, foi necessária a construção de uma pequena rampa para permitir o acesso da rua para o dispositivo e se tornou um enorme problema. Ela não foi construída pelo município, mas por um morador. O corrimão para dar apoio às pessoas com deficiência no caminho para a praia era uma construção muito cara e complicada para o município local. "O apoio das autoridades locais simplesmente não existe", diz Minas Georgakis, cuja esposa Matoula sofre de esclerose múltipla e tem utilizado uma cadeira de rodas durante os últimos seis anos.

Boa idéia, belas praias, excelente clima, mas a falta de respeito e a forma como o Estado trata seus cidadãos que te faz pensar que há um longo caminho pela frente para tê-los todos trabalhando em harmonia.

No Brasil

Por aqui, a Adaptsurf promove a inclusão e a integração social das pessoas com deficiência (física, intelectual, sensorial ou múltipla) por meio do esporte e do lazer, aproveitando a praia como ambiente. Pioneira, é referência no Brasil em acessibilidade de praias e no uso do surfe adaptado como instrumento de desenvolvimento físico e emocional. Os empreendedores sociais beneficiaram diretamente e de modo transformador 520 pessoas desde 2008 em seus projetos no Rio de Janeiro, onde está baseada, e em cidades como Guarujá (SP), Niterói (RJ) e Arraial do Cabo (RJ) e foram os vencedores do Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro de 2011.

(Com Reuters)