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Cirurgia desenvolvida em SP devolve ereção a homens que operaram a próstata

A próstata é uma glândula localizada na base da bexiga. Ela tem o formato de uma maçã e é responsável pela produção de 90% do sêmen (os outros 10% têm origem nos testículos) - Getty Images
A próstata é uma glândula localizada na base da bexiga. Ela tem o formato de uma maçã e é responsável pela produção de 90% do sêmen (os outros 10% têm origem nos testículos) Imagem: Getty Images

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

16/10/2013 07h00

Uma técnica cirúrgica desenvolvida por professores da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu (a 238 km de São Paulo) pode ser a solução para casos de impotência sexual de homens que extraíram a próstata após diagnóstico de câncer.

A técnica faz com que os nervos responsáveis pela ereção rompidos durante a extração da próstata sejam reatados ao nervo femoral dos pacientes. Em outras palavras, é como religar os fios de uma casa às escuras à rede elétrica.

De acordo com o urologista José Carlos Souza Trindade, quatro de um total de dez homens submetidos à técnica, a partir de março de 2011, retomaram suas atividades sexuais após um período entre 12 e 18 meses.  As respostas ao tratamento variam conforme os pacientes. Os outros seis casos ainda estão na fase pós-operatória, mas com evolução favorável.

Injeções e comprimidos

Tradicionalmente, segundo Trindade, pacientes com impotência sexual decorrente da retirada da próstata costumam ser submetidos a tratamentos à base de injeções no órgão sexual e de comprimidos estimulantes, mas nem sempre o resultado é positivo.

  • Arte UOL

    O câncer de próstata é o segundo mais comum em homens no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2010, foram registradas quase 13 mil mortes causadas pela enfermidade

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A técnica de reatamento de nervos dos corpos cavernosos do pênis, para reativar a ereção, já havia sido colocada em prática antes, mas com resultado insatisfatório porque os médicos uniam os feixes nervosos pelas extremidades, segundo o urologista da Unesp. A inovação dos professores de medicina da Unesp de Botucatu consistiu em religar os nervos não mais pela extremidade, mas pelas laterais. A técnica foi batizada de neurorrafia término lateral.

Os nervos femorais de ambos os lados são ligados lateralmente aos nervos dos corpos cavernosos do pênis mediante “pontes” nervosas de 16 centímetros de comprimento.  Esse nervo que serve de ponte é retirado das pernas. As novas fibras nervosas geradas pelo nervo femoral avançam do nervo doador (nervo femoral) ao nervo receptor (no pênis) na base de meio a um centímetro por mês. “É como um gato na fiação elétrica", afirma Fausto Viterbo, cirurgião plástico da equipe.

 

Brasil ‘exporta’ a técnica

Foi em Botucatu, em 1994, na tese de doutorado de Viterbo, que se demonstrou com sucesso, pela primeira vez no mundo, que religar os nervos pelas laterais - algo até então considerado inviável - era possível. Trindade afirma que o trabalho, desenvolvido inicialmente para casos de paralisia facial, recuperação de cordas vocais e restauração de sensibilidade em paraplégicos, foi mal recebido no meio científico internacional.

Posteriormente, segundo o urologista, pesquisadores reconheceram os resultados, e a técnica desenvolvida em Botucatu passou a ser aplicada pelos serviços de saúde de alguns países para tratar paralisia facial, problemas nas cordas vocais e pacientes com paraplegia.

O uso com resultados favoráveis em homens que perderam a próstata em decorrência de câncer é novidade, de acordo com Trindade, e será comunicada oficialmente no congresso anual da ASPN (American Society Peripheral Nerve) em janeiro de 2014, no Havaí, e no Congresso Brasileiro de Urologia, em Natal, em novembro deste ano.

Atualmente, a Faculdade de Medicina de Botucatu aplica a técnica em pelo menos um paciente vítima de câncer de próstata por mês. Ela é indicada para homens cujas idades variam de 45 a 70 anos, após 24 meses da extração da próstata, que sejam portadores de disfunção erétil e que não apresentem melhora com os tratamentos tradicionais.

Além de Trindade e Viterbo, assinam o trabalho o urologista José Carlos Souza Trindade Filho, o radiologista André Petean Trindade e Wagner José Fávaro, este atualmente professor de anatomia da Unicamp (Universidade de Campinas).