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Trocar o carro pela bicicleta e caminhadas melhora a saúde; veja dicas

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

16/09/2014 06h00

Trocar o carro pela bicicleta, caminhada ou pelo transporte público no dia a dia traz uma série de benefícios à saúde. Ajuda a combater o sedentarismo, a emagrecer e a evitar várias doenças como o câncer, segundo médicos, cientistas, ciclistas e pedestres inveterados, que relataram em pesquisas ou testaram na prática os efeitos da mudança.

Esses hábitos, porém, podem ser reforçados por políticas públicas que estimulem e deem condições aos motoristas para se tornarem pedestres, ciclistas ou usuários de metrô, trem e ônibus. Tal estímulo já tem campo de estudo: a saúde urbana. 

Mas o que é necessário para começar? Vontade, tolerância com o outro e com a (possível falta) de estrutura da cidade, além de um tempinho disponível.

Evita doenças do coração e AVC

“Meia hora por dia de atividade física, seja caminhando até o ponto de ônibus, já é benéfico para a prevenção de doenças cardiovasculares, hipertensão, AVC encefálico e vários tipos de câncer, principalmente de cólon", diz o epidemiologista Alex Florindo, diretor do GEPAF (Grupo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Atividade Física e Saúde da USP). 

"Pesquisas mostram que quem adota a caminhada ou a bicicleta têm menor índice de gordura corporal”, completa o especialista.

Florindo cita uma pesquisa recente da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres que mostrou que deixar o carro em casa para adotar o deslocamento intermodal interfere no peso.

O estudo realizado com 7.500 pessoas no Reino Unido comprova que homens que adotaram esse estilo de vida tinham, em média, três quilos a menos do que os que eram motoristas. Entre as mulheres, as que não usavam carro tinham geralmente 2,5 quilos a menos do que as que dirigiam.

“Quem usa mais o carro tende a acumular maior índice de massa corporal. Vai ganhar mais peso e sofrer mais estresse, fatores que levam à obesidade. Em termos de indicador de saúde, as evidências mostram que os ciclistas e os pedestres ganham mais no ponto de vista da saúde”, completa o médico.

O técnico de informática Roberson Miguel, 34, morador do Jardim Peri, na zona norte de São Paulo, perdeu 20 kg em três anos de idas e vindas na magrela. Ele pedala mais de 20 km por dia até o trabalho na Lapa (na zona oeste) e outros tantos quilômetros no atendimento de clientes na mesma região da cidade. "Comecei por recomendação médica, mas me adaptei e vendi meu carro", diz.

Ciclistas são mais felizes

Pesquisa recente realizada pelas universidades de East Anglia e York, no Reino Unido, aponta que pedalar, caminhar ou mesmo tomar ônibus para o trabalho traz mais bem-estar do que dirigir. A constatação foi feita após estudos realizados com 18 mil pessoas durante dez anos.

A tese é reforçada por uma pesquisa anterior, mas também divulgada em 2014, na qual cientistas da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, mostram que pessoas que adotam a bicicleta como meio de transporte são mais felizes do que os usuários de automóvel. A constatação foi feita após avaliar o humor de 13 mil pessoas, entre usuários de automóvel e da "magrela".

“Na verdade, eu descanso mais depois de um dia cheio de trabalho se eu voltar andando do que ficar dormindo dentro do ônibus parada. Esvazia a cabeça, produz endorfina, me sinto mais descansada”, diz a turismóloga paulistana Paula Souza, 31, que anda mais de 10 km no trajeto do trabalho na USP, zona oeste da cidade, até o Itaim Bibi, na zona sul.

Há contraindicações?

Fazer caminhadas e andar de bicicleta são atividades recomendadas para qualquer pessoa sem doença pré-existente ou problemas de locomoção. Basta seguir algumas recomendações. (Veja mais no infográfico)

“Se for sedentário, é melhor começar aos poucos com as caminhadas. Já as pedaladas exigem um esforço e capacidades maiores, mas não têm contraindicação nem para idosos”, diz Alex Florindo, do GEPAF.

As duas formas de locomoção também são indicadas para hipertensos, mesmo com o fato de a poluição ser capaz de aumentar a pressão. “As caminhadas naturalmente ajudam a regular a pressão”, diz o especialista.

Arquitetura e design na saúde pública

A consciência de que o ambiente urbano influencia positiva e negativamente na saúde humana fez com que especialistas das áreas da saúde, arquitetura e design se juntassem para criar alternativas para melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades. A prática é bastante comum na Europa e nos EUA.

Nesta junção de ideias, ficou evidente a necessidade de mais quilômetros de metrô, ciclovias e calçadas amplas para permitir o abandono, mesmo que temporário, do carro. As consequências à saúde surgem com o tempo, explica o médico José Bittar, diretor geral da ONG Cidade Ativa, que estuda estratégias de mobilidade urbana.

“São Paulo precisa de ciclovias, mas ainda há trechos que não se comunicam. É preciso também resolver de quem é a calçada, se é pública ou privada. Se você trabalha para interligar o pedestre, o transporte público e o ciclista vai conseguir desafogar o trânsito. Essas medidas implicam na qualidade do ar, diminuição do estresse e o tempo que se perde no trânsito”, diz Bittar.