Topo

Descoberta histórica pode levar à vacina universal contra a gripe

Pacientes suspeitos de estarem com gripe suína fazem fila para serem atendidos em hospital público na cidade de Bhopal, na Índia. A foto é de fevereiro de 2015  - Xinhua
Pacientes suspeitos de estarem com gripe suína fazem fila para serem atendidos em hospital público na cidade de Bhopal, na Índia. A foto é de fevereiro de 2015 Imagem: Xinhua

Débora Nogueira

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/08/2015 12h00Atualizada em 24/08/2015 16h16

Uma das características mais básicas sobre a gripe é que seu vírus é mutável. Isso explica por que sempre ficamos gripados e as vacinas nunca conseguem proteger totalmente contra a doença (e precisam ser atualizadas ano a ano). Porém, uma descoberta histórica pode mudar o rumo do combate à gripe.

Esqueça analgésicos e antitérmicos. Uma nova vacina promete dar conta de todas as mutações do vírus Influenza, incluindo as mortais gripes H5N1 (conhecida como gripe aviária) e a do tipo A (conhecida também como gripe suína). A descoberta histórica que pode evitar milhares de mortes anualmente foi divulgada nesta segunda-feira (24) nas duas mais importantes revistas científicas: Science e Nature.

Os pesquisadores Antonietta Impagliazzo, Fin Milder, Harmjan Kuipers, Michelle Wagner, Xueyong Zhu e Ryan M. B. Hoffman lideraram o estudo que teve como resultado a proteção total de ratos de laboratório e proteção ampla em furões. "Trata-se de um importante primeiro passo na busca por uma vacina universal contra a gripe em humanos, porém ainda não há data para que isso aconteça", afirmou o pesquisador Ian Wilson ao UOL.

A vacina foi desenvolvida a partir de uma proteína presente em todas as mutações do vírus Influenza, chamada de HA (hemaglutinina), que permite que o vírus se ligue à célula que está infectando. Parte dessa proteína é mutável e parte permanece a mesma nos vírus. A partir daí, os cientistas trataram de isolar essa parte da proteína que é permanente e criar uma vacina que forçaria o corpo a produzir anticorpos que teriam como alvo justamente essa parte em comum do vírus. Mesmo com as mutações do vírus, a vacina combate as pequenas partes da proteína que não se modificaram. O resultado foi surpreendente. Os ratos e furões foram infectados com uma dose letal do H5N1 (chamado de gripe aviária). A vacina protegeu quase todos os animais da morte induzida.

Mais pesquisas ainda são necessárias para determinar se a vacina funciona em humanos e para entender exatamente o mecanismo como a vacina funciona. "Nosso objetivo é criar um remédio capaz de proteger contra todos os tipos de gripes, tanto aquelas que são epidemias pequenas, temporárias, até as mais fortes", concluiu Wilson. 

Como funcionam as vacinas contra a gripe

Os cientistas desenvolvem as vacinas contra a gripe com base nas mutações recentes do vírus influenza. Análises de países do hemisfério Sul são usadas para "adivinhar" quais tipos de mutações do vírus podem atingir o hemisfério Norte. É como se eles fizessem a probabilidade de quais vírus terão maior chance de atingir a população.

A partir daí, os pesquisadores usam pedaços de vírus "mortos" na vacina, que força o sistema imunológico a produzir um anticorpo contra aquela mutação específica. Assim, quando a pessoa for infectada por aquele vírus que estava na vacina, porém sem a capacidade agressora, ela terá como combater a infecção sozinha, já que já terá os anticorpos. É como se fosse a chave para aquela fechadura específica.

Com o tempo, as vacinas passam a perder o efeito pois grande parte da população já está imunizada contra aquele vírus, seja por causa da vacina, seja porque já pegou aquela gripe específica. É por isso que a vacina da gripe precisa ser "atualizada" ano a ano.