Há um ciborgue entre nós: homem instalou antena na cabeça para ouvir cores
Talvez você ainda não saiba, mas os ciborgues já vivem entre nós. A prova viva de que a tecnologia está tomando conta até do nosso corpo é o britânico Neil Harbisson, 33. Ele nasceu com uma condição visual rara chamada acromatopsia, que consiste em não ver cores e enxergar apenas em tons de cinza.
Cansado da "mesmice" nas imagens e curioso para conseguir compreender as cores, Neil se tornou um ciborgue e instalou uma antena em seu crânio. Sim, você leu certo, uma antena.
Durante sua visita ao Campus Party neste sábado (30), em São Paulo, o britânico que cresceu em Barcelona, na Espanha, contou que tudo começou com a grande curiosidade que ele sentia de ver as cores na cidade. “Não conseguia diferenciar as linhas do metrô por não identificar as cores e quando alguém me perguntava se eu tinha visto um homem com camisa vermelha e cabelos verdes eu não podia nem imaginar do que se tratava”, afirma.
Em 2003, a vontade de compreender as cores chegou ao auge e então o Neil pediu a ajuda do cientista da computação Adam Montandon e outros colaboradores para criar uma tecnologia que permitisse que ele entendesse as cores. O resultado da pesquisa foi um olho eletrônico, que se assemelha a uma antena, e foi implantado atrás de sua cabeça.
O dispositivo funciona como um sensor de cores, que detecta a frequência da cor e manda para um chip instalado na cabeça que, por sua vez, conduz essa frequência através do crânio e a transforma em sons. A engenhoca pode parecer coisa de ficção científica, mas é real e funciona bem. “Claro que não foi nada simples, tive que convencer médicos porque os primeiros que fui não aceitaram a proposta da cirurgia”, explica.
Com o aparelho Neil passou a ouvir cores, apesar de continuar a não vê-las. “Escolhi que as cores aparecessem independente dos meus olhos, e para mim cada cor tem um som diferente e assim sou capaz de compreendê-las e senti-las", afirma.
O britânico memorizou o nome que se referia a cada barulho e com o tempo essas informações se tornaram uma percepção. “Nos primeiros dias tive dor de cabeça, era muito barulho. Mas fui me acostumando e começou a soar natural. Virou um sentimento e conseguia até sonhar com as cores”.
A partir do momento que o cérebro de Neil conseguiu reproduzir as músicas por si só, como nos sonhos, ele compreendeu que o software e seu corpo estavam completamente unidos e que a tecnologia se tornou parte dele. Ele se transformou em um ciborgue.
“É uma extensão do meu cérebro, faz parte de mim e do meu corpo. Fica ligado 24h”, explica. O aparelho funciona até durante o banho, por ser a prova d'água e só para de tocar as cores na hora que Neil vai dormir, pois a escuridão mostra uma ausência de cor que não emite sinais.
Neil foi a primeira pessoa reconhecida por um governo como sendo um ciborgue e, mesmo não sendo permitido, conseguiu tirar a foto de seu passaporte usando sua antena após explicar para o governo inglês que não se tratava de um gadget e sim do seu corpo.
O britânico, então, passou a usar seu novo membro para criar, pois ele conseguia sentir as cores de um jeito único. “Ir para uma galeria de arte ou até ao mercado é como ir a um concerto de tantos barulhos de cores, enquanto ao ouvir uma música posso relacionar as notas com cores e pintar um quadro”.
Com os sentidos da audição e visão interligados, Neil começou a pintar e criar músicas. Seus quadros surgem dos discursos de pessoas, músicas famosas ou do colorido das cidades que visita. Suas músicas são criadas a partir do que ele "vê e ouve" no rosto das pessoas.
Descobri que ouvir Mozart é uma experiência amarela, Justin Bieber é rosa e o rosto do príncipe Charles soa muito bem
Neil Harbisson
Após sua grande transformação, Neil consegue distinguir 360 cores e ouve até ultravioleta e infravermelho. Ele criou a Fundação Ciborgue, para encorajar as pessoas a aumentarem seus sentidos com ajuda de tecnologia, uma vez que ele compreendeu que nossos conhecimentos vem dos nossos sentidos e se os aprimorá-los apreenderemos muito mais.
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