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Visão política do médico pode influenciar o atendimento do paciente

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Imagem: Thinkstock

Do UOL, em São Paulo

03/10/2016 16h00

Um estudo da Universidade de Yale (EUA) sugere que a visão política do médico pode mudar a forma como ele atende o paciente.

Médicos mais conservadores tendem a ser contrários ao aborto e ao uso de maconha, mas a favor do armazenamento de armas -- medidas que são legalizadas em alguns Estados norte-americanos.

Já os médicos progressistas se mostraram mais complacentes com a interrupção da gravidez e o uso do entorpecente, mas contrários a ter armas em casa.

O estudo realizado por cientistas do Departamento de Ciência Política de Yale foi publicado nesta segunda-feira (3) na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a "Proceedings of The National Academy of Sciences (PNAS)”.

Os cientistas Eitan Hersh e Matthew Goldenberg avaliaram a conduta de mais de 20 mil médicos especializados em cuidados primários em 29 Estados dos EUA ao mesmo tempo em que investigaram a preferência política deles. No fim, a dupla examinou uma amostra de mais de 200 médicos de orientação republicana e democrata cujos atendimentos envolviam as questões polêmicas.

Os partidos Republicano e Democrata são os mais tradicionais dos EUA; o primeiro com um perfil conservador e o outro progressista.

Dada a politização de certos problemas de saúde, é imperativo que os médicos considerem como seus próprios pontos de vista políticos podem ter impacto em seus julgamentos profissionais."

Aborto e maconha

A pesquisa concluiu que médicos republicanos e democratas mostravam percepções e escolhas de tratamento bastante diferentes em pacientes quando o assunto era aborto, uso de drogas e porte de armas, mas pouco divergiam quando o assunto era abuso de álcool e depressão.

Segundo a pesquisa, os republicanos eram mais propensos do que os democratas a discutirem os riscos da maconha à saúde e sugerir aos pacientes a redução do consumo da erva.

Os republicanos também se apresentaram mais propensos do que os democratas a discutir os aspectos de saúde mental que envolvem o aborto e de encorajar as pacientes a não optarem pela interrupção da gravidez no futuro.

Já os democratas se mostraram mais propensos do que os republicanos a incentivar os pacientes a não armazenar armas de fogo em casa, enquanto os republicanos se mostraram mais propensos a perguntar sobre o armazenamento seguro de armas de fogo.

Religião também influencia

Entre os democratas e republicanos, os cientistas também observaram diferenças de ponto de vista nos assuntos polêmicos entre médicos homens e mulheres.

Quando o assunto era aborto, o efeito partidário se mostrou mais forte nos homens republicanos do que nas mulheres com a mesma tendência partidária, embora houvesse mais homens republicanos e religiosos do que mulheres e médicos democratas nas mesmas condições.

A pesquisa notou que os médicos homens e religiosos tendiam a tratar os pacientes de forma diferente das médicas mulheres e não religiosas nestas questões.

Conheça as ideias de seu médico

O estudo sugere que os pacientes devem estar cientes da visão política de seu médico, especialmente os que estejam envolvidos com "questões políticas sensíveis".

Na pesquisa eles citam:

Assim como já está sacramentada a ideia de que um paciente pode procurar um médico de um determinado sexo para se sentir mais confortável, a evidência sugere que um paciente pode precisar fazer o mesmo cálculo sobre ideologia política."

A pesquisa indica ainda "a necessidade de uma maior consciência e formação dos médicos no momento do contato com pacientes que demandem questões politicamente importantes".