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Bactéria de hospital fica resistente ao álcool para limpeza das mãos

Bactéria sofre mutação genética e ganha resistência a desinfetantes à base de álcool - Reprodução/wonderopolis
Bactéria sofre mutação genética e ganha resistência a desinfetantes à base de álcool Imagem: Reprodução/wonderopolis

Do UOL, em São Paulo

01/08/2018 15h01

Uma espécie bacteriana multirresistente, causadora de infecções hospitalares, está se tornando cada vez mais tolerante ao álcool usado para lavagem das mãos, segundo estudo publicado na revista "Science Translational  Medicine" nesta quarta-feira (1º).

A conclusão foi obtida a partir de amostras colhidas em dois hospitais australianos. A análise do material sugere que a espécie Enterococcus faecium está se adaptando a uma das ferramentas mais baratas e populares empregadas no combate a infecções em instituições de saúde.

Nas últimas décadas, espécies bacterianas cada vez mais resistentes têm preocupado médicos e enfermeiros de todo o mundo. Os hospitais endurecem os procedimentos higiênicos para impedir que micróbios perigosos infectem os pacientes.

As infecções por E. faecium, no entanto, aumentaram, apesar do uso de desinfetantes à base de álcool isopropílico ou etílico, e atualmente representam uma das principais causas de infecções em hospitais.

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Essa constatação levou a pesquisadora Sacha Pidot e sua equipe a investigarem se o E. faecium teria desenvolvido resistência aos álcoois usados na lavagem das mãos. Eles rastrearam 139 amostras isoldas de E. faecium, coletadas entre 1997 e 2015 de dois hospitais em Melbourne, na Austrália, e estudaram como cada um sobreviveu à exposição de álcool isopropílico diluído.

Para o estudo, os autores limparam as gaiolas de camundongos com esse tipo de álcool e espalharam diferentes amostras de E. faecium. Todos os exemplares coletados depois de 2009 ficaram mais tolerantes ao álcool, em comparação com as populações de bactéria analisadas antes disso.

A análise do genoma bacteriano revelou que os exemplares tolerantes acumularam mutações em genes envolvidos no metabolismo que conferiam maior resistência ao álcool. Assim, as bactérias tolerantes colonizaram melhor o organismo dos camundongos.

Os autores defendem que essas amostras sejam testadas em hospitais de outras regiões do mundo antes que qualquer conclusão seja tomada.

Os resultados, no entanto, indicam que os esforços globais para reduzir a resistência bacteriana devem considerar como os micróbios podem se adaptar não apenas às drogas, mas também ao álcool e a outros ingredientes usados nos desinfetantes.