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As consequências de uma queda

Mesmo que esteja ciente dos perigos e equipado para encarar o risco de perder o equilíbrio sobre as superfícies escorregadias, não há garantidas de que você não vai cair - Giselle Potter/The New York Times
Mesmo que esteja ciente dos perigos e equipado para encarar o risco de perder o equilíbrio sobre as superfícies escorregadias, não há garantidas de que você não vai cair Imagem: Giselle Potter/The New York Times

Jane E. Brody

14/03/2015 06h00

Embora as estatísticas mostrem que a maior parte das quedas ocorre dentro de casa e que os idosos, especialmente aqueles com doenças crônicas ou perda dos sentidos, são as vítimas mais frequentes, há casos abundantes de quedas de pessoas de todas as idades nas ruas das cidades durante o inverno. Principalmente no inverno deste ano, em cidades como Atlanta, onde não se faz muito para controlar o gelo e a neve que se acumula nas calçadas.

É muito fácil levar um tombo, conforme descobri às 7h10 da manhã em um domingo de janeiro. A temperatura estava um pouco acima de zero, e quando minhas amigas e eu começamos nossa caminhada às 7, não nos importamos com a garoa que caía.

Porém, de uma hora para a outra o chão sob nossos pés não estava mais firme. Ele havia se convertido em uma fina camada de gelo formada quando a chuva entrou em contato com a calçada fria. E, de repente, eu estava no chão, com gelo sujo ao meu redor e incapaz de me levantar sem ajuda.

Escapei com o quadril machucado, mas no dia seguinte me encontrei com dois homens que haviam quebrado os braços quando, ignorando os perigos do gelo, tiveram a coragem de sair para comprar pães para o café da manhã.

Mesmo que esteja ciente dos perigos e equipado para encarar o risco de perder o equilíbrio sobre as superfícies escorregadias, não há garantidas de que você não vai cair. Testei sapatos com todo o tipo de solado, e finalmente recorri a um par de solas removíveis com cravos metálicos para acoplar às minhas botas quando saio nos dias em que a calçada está coberta de neve, pra que o meu cachorrinho Max possa correr livremente no parque todas as manhãs. (Um aviso: Os cravos são terrivelmente escorregadios quando andamos sobre chãos de mármore e piso frio.)

Contudo, é fácil cair mesmo quando as ruas estão secas, conforme minha amiga Lynda Gould, de Manhattan, pode comprovar. Aos 63 anos de idade, ela escorregou em uma saída de ar do metrô e quebrou o cotovelo. Dois anos depois, correndo para mudar o carro de lugar, ela bateu a sola de borracha do tênis em uma irregularidade no chão, caiu e quebrou a bacia. E quatro anos mais tarde, em uma manhã seca de março, ela enroscou o pé na raiz de uma árvore, caiu e quebrou o ombro.

"Tinha sido um inverno sem muita neve e eu comentei com o cirurgião que os negócios deviam estar meio parados. Ele respondeu que os negócios nunca param em Nova York. As pessoas caem o tempo todo", afirmou ela.

"Eu arrasto um pouco os pés e sempre tropeço em coisas na calçada, especialmente quando estou cansada. Ou também quando ando distraída", quando o modelito de uma moça bem vestida chama a atenção, por exemplo, afirmou Lynda, de 71 anos. "Pra piorar, meu equilíbrio não é muito bom."

Ela fez um pouco de tai chi, o que é excelente para melhorar o equilíbrio, e fez exercícios em uma tábua de equilíbrio com a ajuda de um fisioterapeuta. Seguindo a sugestão de seu médico, vai começar a fazer aulas de Pilates.

E eu espero que ela também siga meu conselho: pare de correr tanto, lembre-se de levantar mais os pés quando está cansada, e sempre – sempre – olhe por onde está andando. Os amigos sempre me perguntam como é que encontro tanto dinheiro na rua. É porque sempre presto atenção na calçada à minha frente. E depois de tropeçar duas vezes no mesmo buraco, aprendi a não carregar sacolas que bloqueiem a minha visão.

Apesar da dor e do sofrimento, Lynda, que é superotimista, vê um lado bom em todos os seus acidentes. "Sempre havia alguém que parava e buscava a ajuda de que eu precisava. As pessoas podem ser incríveis – e isso renova minha fé na humanidade."

Naturalmente, crianças pequenas caem mais do que qualquer outra faixa etária, mas as consequências raramente são maiores do que um joelho ralado ou um sorvete derrubado e, por isso, praticamente não entram para as estatísticas. O número de machucados decorrentes de quedas que exigem tratamento médico cresce linearmente a partir dos 18 anos de idade, chegando ao pico de 115 a cada 1.000 adultos com mais de 75 anos.

As estatísticas envolvendo idosos são realmente assustadoras. O Dr. Laurence Z. Rubenstein, diretor de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Oklahoma, relata que pessoas com 65 anos ou mais constituem cerca de 13 por cento da população, mas correspondem a três quartos de todas as mortes causadas por quedas. Cerca de 40 por cento das pessoas nessa faixa etária sofrem ao menos uma queda ao ano; 1 em cada 40 acaba no hospital e a taxa de sobrevivência é de no máximo um ano para metade dessas pessoas.

Entre os fatores responsáveis por esses dados assustadores estão problemas físicos subjacentes, incluindo a osteoporose; mudanças fisiológicas decorrentes da idade, como a lentidão dos reflexos; perdas sensoriais como a visão degradada; efeitos colaterais de medicamentos; uma passada mais dura e desordenada; perda de tônus muscular e força; quedas de pressão após se levantar; e perigos ambientais como calçadas molhadas ou desiguais e calçamentos soltos.

Outro fator é o medo de cair, especialmente comum entre pessoas que já tiveram alguma queda mais grave. O medo pode se converter em uma profecia que se concretiza quando a pessoa passa a fazer menos atividade física, o que leva à perda de tônus muscular, equilíbrio e densidade óssea, o que aumenta ainda mais o risco de uma queda desastrosa.

"Em curto prazo, o medo protege e evita que você se meta em situações perigosas, mas ao limitar as atividades e o exercício, ele pode resultar em fraqueza que, por sua vez, aumenta o risco de quedas", afirmou Rubenstein.

"Nas piores situações, o medo pode levar a uma neurose real, na qual as pessoas têm medo de sair de dentro de casa, se isolam, tornando-se fracas e, por fim, mais predispostas a quedas tanto dentro quanto fora de casa."

Manter a força muscular com o avanço da idade é fundamental para reduzir o risco de quedas, afirmou Rubenstein. O mesmo vale para o equilíbrio. "A perda de equilíbrio é inevitável com a idade, mas parte desse processo pode ser revertido", afirmou. Ele sugeriu um autoexame: com alguém por perto para ajudar caso seja necessário, levante-se com os pés lado a lado e com os olhos fechados. Quanto tempo demora até que você perca o equilíbrio? Você consegue fazer isso?

Ou então, fique de um pé só atrás de uma cadeira sem precisar segurar. Se você não conseguir se manter estável por mais de 30 segundos, isso significa que você precisa de ajuda com o equilíbrio. Agora tente fazer isso com os olhos fechados. Uma pessoa normal de 25 anos de idade consegue fazer isso por 30 segundos, enquanto uma pessoa de mais de 65 anos só aguenta cinco segundos em média.