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Exercícios podem diminuir os ataques de dores nas costas

Monica Almeida/The New York Times
Imagem: Monica Almeida/The New York Times

Gretchen Reynolds

09/02/2016 06h00

Sentir dor na lombar é uma experiência quase universal, apesar de indesejada. Cerca de 80 por cento das pessoas que vivem no mundo ocidental podem sofrer de dor incômoda na região lombar em algum momento da vida. Mas, se começarem e continuarem com o tipo certo de programa de exercícios, podem evitar ataques seguidos, segundo uma grande revisão científica sobre prevenção de dor nas costas.

A dor lombar se desenvolve por muitas razões, incluindo estilo de vida, genética, ergonomia, danos causados por esportes, esforços e até má sorte. Frequentemente, na verdade, a causa é desconhecida.

Para a maioria das pessoas, um primeiro episódio de dor nas costas vai desaparecer dentro de uma semana mais ou menos.

No entanto, esse é um tipo de dor que volta com uma frequência desesperadora. Na maioria das estimativas, 75 por cento das pessoas que passam por um episódio debilitante de dor lombar terão outro em um período de um ano.

Esses ataques repetidos podem desencadear o que os médicos chamam de "espiral de declínio", na qual a pessoa não consegue se levantar por causa da dor; essa falta de atividade enfraquece os músculos e as articulações; as costas e o centro do corpo agora mais fracos se tornam menos capazes de sustentar a mesma quantidade de atividades de antes e sucumbem quando a pessoa tenta voltar à vida normal, levando a mais dor e mais inatividade, e a uma aceleração da espiral.

Esse cenário obviamente faz com que prevenir a dor nas costas, especialmente em pessoas que tiveram pelo menos um episódio, seja algo muito desejável. Mas até agora, poucos estudos haviam examinado sistematicamente o que realmente funciona contra dores lombares repetidas.

Assim, para o novo artigo, publicado no JAMA Internal Medicine, pesquisadores afiliados do Instituto George de Saúde Global da Universidade de Sydney, na Austrália, e outras instituições se dispuseram a recolher e analisar a maior quantidade possível de estudos disponíveis.

Surpreendentemente, existem poucas pesquisas de boa qualidade, aquelas que contaram com participantes aleatórios, que seriam ou não tratados. Mas depois de vasculhar mais de seis mil estudos sobre a prevenção de dores nas costas, os pesquisadores escolheram os 23 que acharam mais robustos metodologicamente. Esses estudos examinaram, no total, mais de 30 mil participantes com dores nas costas.

As técnicas de prevenção avaliadas incluíam educação sobre mudanças de estilo de vida, órteses de calçados, cintos para as costas e vários tipos de programas de exercícios, inclusive alguns que incluíam educação sobre prevenção de dores lombares.

Para os efeitos da avaliação, um programa de prevenção bem sucedido foi definido como aquele em que os participantes não relataram outros casos de ataques de dores nas costas por um ano ou mais ou que não se afastaram muito tempo do trabalho por causa dessas dores.

Esse sucesso, como se viu, foi desencorajadoramente limitado. Os esforços educacionais sozinhos não mostraram qualquer capacidade de prevenir a volta da dor nas costas, de acordo com os pesquisadores. Os cintos e órteses também foram praticamente ineficientes, deixando as pessoas que os usaram muito propensas a experimentar mais casos de dor nas costas no período de um ano.

Mas os programas de exercícios, com ou sem elementos educacionais, provaram ser preventivos potentes, segundo os pesquisadores.

Na verdade, "o tamanho do efeito protetor" do exercício "foi bem grande", afirma Chris Maher, professor do Instituto George, que supervisionou a avaliação. "Exercícios combinados com educação reduzem o risco de um episódio de dor lombar no ano seguinte em 45 por cento. Em outras palavras, quase corta o risco pela metade."

O interessante é que o tipo de programa de exercícios não importa. Em algumas experiências que Maher e seus colegas avaliaram, a rotina era apenas fortalecer os músculos do centro do corpo e das costas. Em outros, o treinamento era mais geral, combinando condicionamento aeróbico com força e treino de equilíbrio. A maioria pediu aos participantes para completar duas ou três sessões supervisionadas todas as semanas, geralmente por dois meses, embora algumas tenham durado mais. Poucas incluíam um programa educativo também.

Pelos resultados finais se conclui que, se uma pessoa com histórico de dor nas costas se exercitar de maneira regular, ela terá consideravelmente menos chances de passar por episódios de dores nas costas dentro de um ano.

No entanto, os efeitos protetores geralmente diminuem com o tempo, com as recidivas aumentando depois de 12 meses, provavelmente porque muitas pessoas que estiveram envolvidas nos estudos pararam de se exercitar, diz Maher, e seus problemas nas costas voltaram.

Baseado na evidência disponível, conta ele, ainda é impossível saber se os exercícios melhoram a saúde das costas a longo prazo ou se um tipo de programa de exercícios é comprovadamente melhor do que outros. Ele e seus colegas esperam juntar estudos que comparem diferentes rotinas e sigam as pessoas por vários anos.

Mas, por enquanto, afirma Maher, "de todas as opções que existem hoje para prevenir dores nas costas, o exercício é realmente a única que possui qualquer evidência de sucesso".

Se você tem curiosidade sobre os detalhes de um programa de exercícios efetivos para as costas, Maher dá como exemplo uma rotina incluída em um estudo de 1991, publicado no jornal Physical Therapy, que ele aproveitou na análise. A sugestão de se exercitar ouvindo músicas populares suecas dos anos 90, no entanto, é opcional.