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Repórter vai ser jurado de concurso de miss plus size e se pergunta: afinal o que é ser bonito?

Thiago Varella

Do UOL, em São Paulo

30/01/2012 14h00

Confesso que só acompanho concursos de beleza quando estou a trabalho. Entre uma final de Miss Universo e um jogo do Santos, vou na segunda opção. Por isso, quando fui chamado para ser jurado do Miss Brasil Plus Size, não sabia muito bem o que fazer.

Beleza é algo pra lá de subjetivo. E não sou nenhum Brad Pitt para poder julgar a beleza alheia. Mas, pensei, "isso é só um concurso de miss, não vai afetar a vida de ninguém". E, então, topei o convite feito pela organização do concurso.


Chegando ao local do concurso, na zona oeste de São Paulo, na noite de domingo (29), vi que tinha me enganado. O que para mim era "apenas um concurso de miss" para as 26 participantes, suas famílias e amigos era a realização de um sonho. Quando cheguei, vi aquele corre-corre frenético de mulheres arrumando cabelo, maquiagem, roupa, tudo para ficar o mais bonita possível para a grande noite.

Uma coisa que eu aprendi nesse domingo é que por trás de uma grande miss tem sempre uma mãe. Como torcem, gritam, ajudam, empurram e fazem tudo o que for preciso para que a filha leve a coroa no fim da noite. Toda mãe de miss é uma espécie de Luiz Felipe Scolari de saias. Elas dão bronca, esbravejam, mas tudo faz parte do jogo, da família.

Enfim, assustado com a responsabilidade resolvi pedir ajuda para alguém que manjasse do assunto. Ao meu lado, na mesa de jurados, estava a bela Aline Nunes, atual Miss São Paulo Turismo. Me apresentei e já fui logo falando que nunca havia julgado a beleza de ninguém.

Aline também não tinha experiência como jurada, mas, como já havia estado na passarela, logo me deu uma dica. "Miss tem de ser elegante", cravou. Fiquei com aquilo na cabeça. Achei que bastava ter beleza para ser uma boa miss.

Quando recebemos as fichas de votação, notei que beleza era apenas um ítem a mais. Teria de analisar cada uma das 26 candidatas nos quesitos desenvoltura, simpatia, beleza de corpo e rosto, postura e elegância. As cinco finalistas -- que no final acabaram sendo seis -- ainda teria de responder uma pergunta em que seriam analisados o conteúdo da resposta e o comportamento. Uau, quanta coisa!

O concurso que estava marcado para começar as 20h só teve início as 22h30. O local estava repleto de familiares e repórteres. Dois, em especial, faziam muito barulho e animavam a festa: Dicesar, ex-BBB e atual repórter do programa da Eliana, no SBT, e Tiago Barnabé, um comediante que estava caracterizado de Narcisa Tamborindeguy e gravava para o SuperPop, da RedeTV.

A presença dos dois davam um ar ainda mais kitch ao concurso. Porque, cá entre nós, esse tipo de evento lida com beleza, glamour, sofisticação... mas sem uma pitada de cafonice e humor tudo fica muito mais chato. Na hora pensei no Donald Trump, bilionário que é o dono do Miss Universo. Ninguém personifica melhor a mistura entre breguice e riqueza do que ele -- e talvez as protagonistas do reality show Mulheres Ricas.

Quando os desfiles começaram, disparei a dar minhas notas. Confesso que fiquei meio perdido em um quesito: corpo. Todas eram gordinhas, é óbvio, e estamos acostumados a achar que somente as magras têm corpo bonito. As 26 mulheres que desfilaram na minha frente não tinham a menor vergonha de suas celulites, estrias, pneus e quilinhos a mais. Foi um banho de auto-estima. No fim, dei nota alta nesse quesito para todas.

Quando o nome das vencedoras foram anunciados senti um misto de alívio e felicidade. Não é que no final eu estava curtindo aquilo ali. A Barbara Monteiro, ganhadora do concurso, foi, de cara, uma das que eu considerei como favoritas. Estava até me achando meio especialista no assunto.

A terceira colocada, Roberta Breves, foi a vencedora do Duelo de Misses que UOL Tabloide promoveu durante a semana, o que mostra que você, internauta, também entende do assunto.

Fui embora convencido de que o conceito de beleza vai além de ter um rostinho ou um corpo simétrico. Para ser bonito é preciso auto-estima, alegria, elegância e, talvez, não se levar muito a sério. É isso. Difícil vai ser convencer minha namorada disso tudo e fazer com que ela deixe eu cabular a academia para continuar cultivando minha simpática barriguinha.