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Por que a poderosa Samsung pode perder quase um terço de seu lucro?

Logo da Samsung na sede mundial da empresa em Seul, Coreia do Sul - Lee Jae-won/Reuters
Logo da Samsung na sede mundial da empresa em Seul, Coreia do Sul Imagem: Lee Jae-won/Reuters

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

08/01/2019 12h49

Quanto maior o coqueiro, maior a queda. Depois de obter lucro recorde no terceiro trimestre de 2018, a Samsung afirmou que espera uma queda impactante em seu lucro no quarto trimestre. Os motivos levantados são a fraca demanda por chips (um dos produtos mais rentáveis da marca) e a concorrência maior em smartphones.

Segundo um comunicado da empresa nesta segunda-feira (7), a expectativa de lucro operacional para o período, que termina em 31 de dezembro, é agora de cerca de 10,8 trilhões de wons (R$ 35,6 bilhões), uma queda de 30% em relação ao mesmo período do ano passado.

A empresa também deve registrar receita de 59 trilhões de wons (R$ 194 bilhões), um declínio de quase 15% em relação ao ano anterior.

Essa nova orientação não forneceu resultados específicos por área de atuação da empresa, mas o portal "CNET" obteve um comunicado da Samsung que forneceu algumas pistas sobre isso, especificamente em seus negócios de memória e de telefonia móvel.

"Sob fraca sazonalidade, os ganhos com chips de memória caíram significativamente na comparação entre trimestres devido à demanda mais fraca que o esperado em meio a ajustes de estoque em clientes de servidores (datacenters), resultando em um declínio nas encomendas e uma queda maior do que o esperado", disse a Samsung no comunicado.

"Em meio a um mercado estagnado e ferozmente competitivo, os lucros móveis diminuíram devido ao aumento das despesas de marketing sob forte sazonalidade e um volume discreto de vendas de smartphones", afirmou a Samsung.

A Samsung mantém a cautela, pois espera que os lucros "permaneçam controlados no primeiro trimestre de 2019 devido às condições difíceis para o negócio de memória", mas aposta que tudo vai melhorar no segundo semestre do ano.

Quanto ao mercado de smartphones, a Samsung disse que espera aumentar seus ganhos com a chegada dos aparelhos dobráveis e 5G.

Desafios dos sul-coreanos

Na semana passada, o executivo-chefe da Apple, Tim Cook, também disse que a expectativa de receita trimestral da empresa caiu devido a uma retração da posição da empresa na China, um dos maiores mercados de celulares do mundo. De US$ 93 bilhões, a estimativa de receita caiu para US$ 84 bilhões, ou seja, quase 10% a menos. Com isso, as ações da empresa caíram quase 10%.

A "sazonalidade" citada pela Samsung diz respeito à forte concorrência feita pelas empresas chinesas, que, antes mesmo de afetar a Apple, já assombrava a gigante de tecnologia sul-coreana.

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Uma análise da IDC de novembro diz que a Samsung teve um terceiro trimestre "desafiador":

O líder em participação de mercado continua a sentir a pressão de todas as direções, especialmente com a Huawei sendo a segunda maior fornecedora [de smartphones] em seu segundo trimestre consecutivo

Além disso, mercados crescentes como Índia e Indonésia, onde a Samsung ocupa posições de liderança há muitos anos, estão sendo alterados pelo rápido crescimento de outras marcas chinesas como Xiaomi, Oppo e Vivo.

Os consumidores asiáticos estão comprando mais celulares das empresas locais. Afinal, estas empresas nos últimos anos trouxeram celulares mais próximos da qualidade das antes imbatíveis Apple e Samsung, e já começam a avançar para o Ocidente --a Huawei, por exemplo, está ganhando força na Europa e virou pivô de uma grande guerra comercial e de segurança entre EUA e China, que resultou até na prisão temporária de sua diretora financeira, Meng Wanzhou.

Tanto Apple quanto Samsung estão sofrendo para ampliar sua atuação na China, que, apesar de representar um terço dos celulares do mundo, se tornou um mercado mais maduro com crescimento mais lento desde o segundo trimestre de 2017.

Em 2018, mais de 750 milhões de chineses já possuíam um smartphone. Há dez anos, este indicador era de 400 milhões de pessoas. "Agora a maior parte das vendas acontece para substituição do modelo anterior e não pela entrada massiva de novos consumidores no mercado", diz o blogueiro do UOL Felipe Zmoginski.

"O mercado interno da China continua a ser desafiado, já que os gastos gerais dos consumidores com smartphones diminuíram", disse Ryan Reith, vice-presidente do acompanhamento global de celulares da IDC. "Altos níveis de penetração, misturados com tempos econômicos desafiadores, desaceleraram o maior mercado de smartphones do mundo".

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Apesar disso, ele concorda com que a ascensão da tecnologia de dados móveis 5G poderá dar uma renovada neste cenário. 

"Acreditamos que este mercado começará a se recuperar em 2019 e além, impulsionado no curto prazo por um grande ciclo de atualização todos os segmentos e nos anos exteriores da previsão suportados pela migração 5G".

Chips de memória: concorrência acirrou

O outro motivo alegado --a queda de demanda em chips-- teve um fato novo em outubro do ano passado, quando a Samsung cortou o investimento deste setor em 2018 e alertou para lucros menores até o início de 2019, decretando o fim de um boom de dois anos em chips de memória que alimentou o lucro recorde do terceiro trimestre do ano passado.

"Olhando adiante para 2019, os lucros deverão ser fracos no primeiro trimestre devido à sazonalidade, mas depois se fortalecerão conforme as condições de negócios, particularmente no mercado de memória, melhorarem", disse a Samsung em outubro. Três meses depois, a empresa manteve este discurso.

A Toshiba e a Hynix em breve iniciarão a produção em massa de chips de memória flash, trazendo novas configurações para este mercado. 

"O excesso de oferta deve continuar", disse Song Myung-sup, analista da HI Investment & Securities, à Reuters. Mas a Samsung procurou acalmar as preocupações dos investidores citando a sólida demanda dos servidores, à medida que os serviços de dados baseados em nuvem crescem rapidamente.