Topo

Sofri, mas apaguei DE VERDADE os dados de celulares e PCs velhos; veja como

Dica número 1: repita, pela manhã, o seguinte mantra: "Já pratiquei o desapego hoje?" - Getty Images/iStockphoto
Dica número 1: repita, pela manhã, o seguinte mantra: "Já pratiquei o desapego hoje?" Imagem: Getty Images/iStockphoto

Matheus Pichonelli

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2019 04h00

Na escala dos acumuladores sou do tipo compulsivo.

Em casa, guardo desde desenhos e recortes de jornais e revistas dos anos 90 até tênis com sola furada. Até pouco tempo, preservava na gaveta da casa dos meus pais uma caixa de sapato com os restos mortais do rabo de cavalo que usei durante anos da adolescência.

A vida digital prometeu organizar minha bagunça, digo, minhas memórias, em nuvens e dados de equipamentos cada vez menores. Seria a libertação de um latifúndio entre pilhas, retratos, CDs e DVDs em quartos e salas onde finalmente poderia plantar minha própria quitanda.

Essa era a expectativa.

A realidade era uma casa repleta de laptops com acesso danificado a wi-fi, letras do teclado estouradas, tablets com software desatualizado e celulares sem chip guardados por puro valor afetivo. Como quem acessa labirintos de pastas e arquivos, recorria a um desses velhos aparelhos toda vez que precisava encontrar um arquivo em texto ou jpeg. Era uma forma de estar sempre com eles.

É duro aceitar, mas em algum momento da vida temos de dizer adeus a tudo isso - e mudar de casa, como fiz recentemente, é sempre um momento de decisão. O que devo levar e o que posso me desfazer?

Essa parece a decisão mais difícil, mas ela sucede uma espécie de ritual de passagem para não transformar desapego em risco. É aí que a coisa entorta.

Como lembrou o Dell Cameron neste texto de utilidade pública, a maioria das pessoas deixa um monte de dados em celulares e laptops vendidos para terceiros e há basicamente dois caminhos para evitar problemas com isso: apagar os dados corretamente ou literalmente destruir os aparelhos no martelo, ácido ou eletrólise. Prefiro não.

Em uma época em que os aparelhos guardam segredos que nem as profundezas do inconsciente ousam abrigar, percebi os riscos de uma exposição indevida ao doar meu antigo smartphone para minha mãe. Por algum motivo (que só agora entendi), toda vez que ela fazia foto no novo (para ela) velho (para mim) celular, a imagem aparecia na minha nuvem do Google. Por sorte, os registros se resumiam ao dia a dia do nosso gato e das tortas que ela vende para a vizinhança.

Da casa velha, trouxe comigo uma estrutura fossilizada que um dia me serviu como laptop. No mais perverso esquema Marie Kondo, o UOL Tecnologia me desafiou a praticar o desapego e apagar os dados que havia ali.

Aceitei o desafio com dor no coração.

Com meu notebook vivi grandes momentos - como prova o adesivo do ex-goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras, colado nele. Juntos fomos à praia, assistimos a filmes, fizemos selfies, lemos as notícias. Brigamos algumas vezes (não nego nem confirmo que sua protuberância no teclado seja resultado dos muitos socos trocados toda vez que ele travava).

De toda forma, passei mais tempo com ele, nos últimos anos, do que com a maioria dos meus familiares.

Como apagar tudo isso de uma hora para outra?

  • Dica número 1: repita, pela manhã, o seguinte mantra: "Já pratiquei o desapego hoje?".
  • Dica número 2: chame um especialista.

É aí que entra meu amigo Cléber J. Santos, programador e estudante de análise e desenvolvimento de sistema, que pelo WhatsApp ele me explicou que há muito mais entre as nuvens e a Terra do que supõe nossa vã filosofia acumuladora.

Primeira pergunta: seu HD é convencional ou SSD? (Se você não sabe do que estamos falando, explicamos a diferença neste texto).

Neste segundo caso, ele explica, se você deletar qualquer arquivo, esse arquivo realmente será deletado, sem deixar trilha.

Para quem não tem SSD nem é profissional, como eu, a melhor ferramenta é um programa gratuito chamado Low Level Format Tool, um software que faz a formatação de baixo nível em qualquer máquina. "Ele realmente limpa o HD e evita que seja recuperado qualquer dado. Para usuário comum, não conheço ferramenta melhor", explica o Cléber.

Com o passo a passo em mente, tomei fôlego, salvei em um pen drive o que realmente precisava salvar (fotos, filmes guardados há anos e que nunca vou assistir, livros iniciados que jamais terminei de escrever - quem sabe agora?), fechei os olhos e...

... Foi mais fácil do que eu imaginava.

Baixado o programa, uma tela se abre indicando qual partição será limpa. Você escolhe, espera alguns (longos minutos) e pronto: está tudo apagado.

Não foi como cortar o rabo de cavalo depois de anos de cabelo nos ombros, mas agora, aparentemente, estou mais leve: a mesa reservada para o laptop que já não usava pode ser usada para receber outras tralhas. Já posso passar o aparelho para frente sem risco de alguém achar nos escombros, e compartilhar por aí, alguma foto minha antiga com cabelo comprido e camiseta No STRESS.

A salvo, minhas memórias podem agora viver reclusas em uma casca de noz (vulgo pendrive) e ainda assim viver como rainhas do espaço infinito.

Vou me desfazer. Como saber se não deixei rastros?

Antes de vender, doar ou mesmo se livrar de aparelhos eletrônico, é preciso ter certeza de que você não deixou nenhum dado registrado para trás. A maioria das pessoas não toma esse cuidado.

Cléber explica o que fazer para evitar transtornos e preservar a nossa privacidade. Antes, um alerta importante: se for vender ou repassar, faça backup dos seus dados.

Como formatar computadores?

Há uma diferença entre HD convencional e o SSD, que é mais caro. No SSD, se você deletar qualquer arquivo, esse arquivo realmente será deletado, sem deixar trilha. O ideal seria que todo mundo pudesse utilizar um SSD: você formata, entrega para quem for doar ou vender e acabou.

Isso acontece com os computadores da Apple, que já vem com SSD: quando formatados, não dá pra voltar atrás, assim como ocorro com o iPhone e o iPad.

Além de terem SSD, esses aparelhos são criptografados. Isso significa que, para recuperar esses dados, é necessário quebrar a criptografia, o que é bem difícil.

Para donos de Mac, não há necessidade de fazer uso de aplicativo externo. É só abrir o utilitário de disco, selecionar a unidade e fazer a formatação.

Para outros computadores, PC ou notebook, é recomendado usar aplicativo externo, desses em que você seleciona a unidade que deseja apagar e formata.

Programas externos

Existem programas como o DBAN, que não é pra uso pessoal. É comercial. Não recomendo.

Para Linux há um software chamado SHRED, que faz uma formatação/escrita em arquivos, partições ou disco inteiro. Nele, você ordena até dez formatações. (Normalmente, programas de "desformatação" conseguem recuperar até três formatações. Os mais modernos recuperam até cinco. Ou seja, se ele for formatado cinco vezes, você consegue recuperar. Mais que isso, fica ilegível).

É um aplicativo de linha de comando, quase impossível para o usuário comum utilizar. É pra usuários mais avançados.

Há também uma ferramenta que serve para Linux e Windows e é desenvolvida chamada BleachBit. É uma ferramenta open source que faz uma limpeza total do disco ou, se você desejar, simplesmente faz uma otimização do sistema. Ela limpa e não tem desformatação.

Por fim, temos o Low Level Format Tool, que faz uma formatação de baixo nível. Ele realmente limpa o HD e evita que seja recuperado qualquer dado. Para usuário comum, não conheço ferramenta melhor. O problema é que este tipo formatação demora. Quando mais informações, mais demorada ela é.

Veja abaixo o passo a passo:

apagar dados - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

apagar dados 2 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

apagar dados 3 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

apagar dados 4 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

apagar dados 5 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Como formatar tablets e smartphones?

Em tablet e smartphone, o ideal é, antes de passar para qualquer pessoa, fazer com que aparelhos voltem à configuração de fábrica. Antes disso, o ideal é garantir que os dados estejam criptografados. Se você criptografa, quando "desformata", a pessoa não consegue ler os arquivos.

Donos de iPhone e iPad podem ficam tranquilos porque o padrão já é criptografado.

  • Vá até Ajustes > Geral > Redefinir > Trocar/apagar todo o conteúdo.

Em aparelhos Android, é preciso ir até:

  • Configurar > Segurança > Codificar (ou criptografar) telefone.

O passo seguinte é fazer uma cópia de segurança e redefinir ou restaurar os dados de fábrica. Isso vai garantir que não vai ter volta a recuperação dos dados.

Formas mais drásticas

Quem assiste a série "Mister Robot" sabe que a destruição é uma arte. Os métodos para apagar definitivamente os registros de um aparelho vão desde martelar o HD até colocar tudo num micro-ondas. Colocar chip do celular ali destrói permanentemente os dados por causa do pulso eletromagnético (PEM). Se você realmente não quer que alguém descubra o que tem ali, não tem quem recupere.

O problema, lembra o especialista, é que isso é "estupidamente perigoso".

Outras opções são incinerar, triturar o disco ou o chip ou jogar ácido ou perfume, com álcool, na face do disco. Isso impossibilita qualquer leitura de dados.