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Dylann demonstrou tranquilidade, sem emoções, após massacre em Charleston

09/12/2016 18h57

Miami, 9 dez 2016 (AFP) - Dylann Roof, autor do ataque racista em uma igreja da comunidade negra no sudeste dos Estados Unidos, estava tranquilo e não demonstrou qualquer emoção durante sua confissão à Polícia - revela um vídeo exibido nesta sexta-feira (9) no tribunal, durante seu julgamento.

"Fui a essa igreja em Charleston e, bom, eu os matei, eu acho", declarou Dylann ao oficial do FBI (a Polícia Federal americana), que o interrogava após sua detenção no dia seguinte à tragédia, relatou o canal WCIV, afiliada da rede ABC.

"Eu não ia para outra igreja, porque podia ter gente branca lá", acrescentou.

Em 17 de junho de 2015, Roof, então com 21 anos, entrou na igreja metodista episcopal africana Mother Emanuel em Charleston, na Carolina do Sul, uniu-se a um grupo de estudos da Bíblia. Pouco depois, iniciou a chacina, que terminou em nove mortos.

"Você atirou neles", pergunta o agente do FBI, no vídeo apresentado na corte.

"Sim", responde o jovem, um supremacista branco que havia comprado sua pistola Glock .45 apenas dois meses antes, assim que completou 21 anos.

"Era seu objetivo se transformar em um mártir?" - continuou o oficial.

"Sim, seria agradável" - respondeu Roof.

Sem lágrimas, raiva, remorso, ou qualquer outra emoção, ele faz sua confissão neste vídeo de cerca de duas horas, algo "muito incomum", segundo o agente do FBI.

Roof foi preso por uma infração de trânsito no dia seguinte, na Carolina do Norte, quase 400 km ao norte do lugar do ataque.

No vídeo, Roof revela que tinha oito pentes de munição, cada um com 11 balas em vez de 13, sua capacidade máxima. Isso significa que eram 88 balas. Esse número é usado pelos supremacistas brancos em alusão à saudação nazista "Heil, Hitler".

Durante os três dias do julgamento que começou na quarta-feira, Roof se manteve praticamente imóvel, olhando fixo para baixo e sem demonstrar qualquer tipo de emoção, enquanto as imagens eram projetadas no tribunal, de acordo com o jornal local The Post and Courier.

Na quarta-feira, o júri ouviu o comovente depoimento da sobrevivente Felicia Sanders, que fingiu estar morta, ao lado da neta, enquanto via o filho sangrar até morrer.

"Nós achamos que ele tinha ido procurar o Senhor", afirmou Felicia, entre soluços. "Mas todo o tempo ele foi simplesmente ruim, ruim, tão ruim quanto se pode ser", declarou.

A mãe de Roof teve um ataque cardíaco durante o testemunho de Felicia Sanders e teve de ser hospitalizada.

A defesa pediu a anulação do julgamento, alegando que esses testemunhos carregados de emoção inclinam o júri contra o réu. O pedido foi negado pelo juiz federal Richard Gergel.

O massacre causou grande comoção na opinião pública nacional e internacional, no momento em que o país está mergulhado em uma série de episódios de tensão racial.