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EI obriga moradores de Mossul a pagar pela destruição de suas casas

Moradores descansam na entrada de casa em Al-Intisar, a sudeste de Mossul - Dimitar Dilkoff/ AFP
Moradores descansam na entrada de casa em Al-Intisar, a sudeste de Mossul Imagem: Dimitar Dilkoff/ AFP

Em Bagdá

05/02/2017 14h14

O grupo Estado Islâmico (EI), que enfrenta uma ofensiva do exército iraquiano no oeste de Mossul, está obrigando os habitantes a pagarem pela destruição das suas casas - buracos feitos nas paredes pelos próprios jihadistas para se esconderem e se protegerem dos bombardeios, relataram moradores neste domingo (5).

"O Daesh (acrônimo árabe do EI) faz buracos nas paredes de nossas casas sem que tenhamos escolha", afirma um habitante da cidade que se apresenta como Abou Assad.

"E nos obrigaram a pagar 7.000 dinares (cerca de R$ 16) aos que vêm danificar nossas casas", disse Assad, cuja casa foi afetada pelo grupo, assim como a de muitos outros habitantes.

Segundo Assad, os combatentes do EI usam este dinheiro para financiar sua defesa contra as forças iraquianas, que no último mês recuperaram a parte oriental da cidade, no âmbito de uma grande ofensiva lançada em 17 de outubro para expulsar os jihadistas de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque.

"Nos fazem escolher entre ficarmos nas nossas casas com as paredes quebradas ou irmos embora", disse Assad.

Os buracos nas paredes das casas permitem aos jihadistas passarem rapidamente de uma rua a outra sem chamar a atenção dos aviões do exército iraquiano ou da coalizão internacional.

Tal situação lembra o ex-ditador Saddam Hussein, que obrigava as famílias dos prisioneiros executados a pagar pelas balas. Hoje, muitos acreditam que os antigos dirigentes do seu partido, o Baath, formam a base do grupo EI, que em 2014 conquistou cerca de 30% do território do Iraque.

Escudos humanos

Mohamed Jalil, morador do bairro de Najjar, perto do rio Tigre, que divide Mossul, teve dois lados da sua casa destruídos por membros do EI.

"Estamos atônitos vendo como o Daesh continua dizendo que defende os valores islâmicos, quando na verdade está destruindo a intimidade das famílias cujas casas estão agora abertas e expostas aos olhares de todo mundo", lamenta.

"Tenho uma família grande (...) mas não temos aonde ir. Se ficarmos, ficaremos bloqueados no meio de uma operação militar" diz Jalil. Mas ao mesmo tempo, "como poderíamos ficar em uma casa que homens armados estão a ponto de utilizar para atirar contras as forças de segurança?", questiona.

Há rumores de que o grupo extremista está reforçando suas posições para defender seu último grande bastião no Iraque, diante de uma grande ofensiva que as forças iraquianas poderiam lançar em meados de fevereiro contra a margem direita do Tigre.

Segundo estimativas da ONU, quase 750.000 pessoas continuam vivendo na parte oeste da cidade, que inclui a Cidade Velha e vários pontos estratégicos, como a mesquita onde o líder do EI Abou Bakr al-Baghdadi proclamou a criação de um califado em junho de 2014.

O que os habitantes mais temem é que o EI os utilizem como escudos humanos. "É uma tática imunda", diz Zyad al-Zubaidi, ex-oficial de Mossul e hoje militante da sociedade civil baseado na região vizinha do Curdistão iraquiano.