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Dilma terá que mostrar liderança se quiser sobreviver, diz "New York Times"

Roberto Stuckert Filho/PR
Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR

De São Paulo

19/04/2016 11h30

Para sobreviver politicamente, a presidente Dilma Rousseff vai precisar mostrar liderança mais forte e maior clareza de suas ideias, afirma o jornal "The New York Times" em editorial publicado nesta terça-feira (19). A publicação norte-americana diz ainda que a presidente precisa arrumar a economia do Brasil e barrar o avanço da corrupção, que virou prática comum em Brasília, duas coisas que ela não foi capaz de mostrar até agora. Já em uma reportagem sobre o impeachment, o jornal afirma que o impedimento foi comemorado como uma partida de futebol, mas não vai resolver a turbulência política no país.

"A presidente Dilma Rousseff deve ser expulsa do cargo com base em alegações de que usou o dinheiro de bancos estatais para equilibrar o orçamento", afirma o Times no editorial. Para o jornal, Dilma tem duas escolhas: lutar até o fim ou convocar novas eleições. Esta opção agradaria as pessoas que defendem que a única forma de acabar com a crise política brasileira é uma nova liderança. Em uma entrevista coletiva na segunda, 18, a presidente afirmou, entretanto, que vai lutar até o fim, ressalta o jornal.

O Times destaca que a mesma estratégia de Dilma para equilibrar o orçamento, as chamadas pedaladas fiscais, foi usada anteriormente por outros dirigentes no Brasil sem chamar muita atenção. Na essência, afirma o editorial, o PT está sendo culpado pela crise política e pelo avanço da corrupção que envolveu diversos políticos do partido e de outras siglas em Brasília.

O substituto de Dilma, Michel Temer, "não é exatamente um cavaleiro de armadura brilhante", afirma a reportagem do Times, que destaca ainda que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e o do Senado, Renan Calheiros, também estão envolvidos em escândalos de corrupção.

"Guardian"

O jornal britânico "The Guardian" publicou editorial na noite de segunda (18) em que alerta que o processo de impeachment em curso no Brasil pode resultar no fim do atual esforço contra a corrupção. "Muitos temem que a campanha anticorrupção vai desaparecer depois da concentração de fogo final contra Lula", cita o editorial. Para o jornal, a situação pode piorar porque "longe de ajudar a resolver a polarização política e social do Brasil, o impeachment tem exacerbado o problema". O texto faz, ainda, uma dura crítica ao modo que o PT financiou campanhas eleitorais.

Além do possível revés no esforço contra a corrupção, o jornal destaca que eventual governo Michel Temer terá as mesmas dificuldades para superar a crise política e econômica.

O Guardian chama atenção para o "paradoxo" que envolve a acusação contra Dilma Rousseff em país que investiga o grande caso de corrupção na Petrobras. "A presidente não foi implicada no escândalo da Petrobras. Os motivos para o seu impeachment são a manipulação de recursos estatais antes das últimas eleições - não muito mais que delito menor para os padrões brasileiros", cita o editorial. Por outro lado, "quase todos os envolvidos no impeachment são suspeitos de corrupção, incluindo Eduardo Cunha, o presidente da Câmara".