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"Meirelles não é o resultado do governo Temer", diz Jucá

Para Jucá, candidatura de Meirelles é contra o "status quo" da política - Pedro Ladeira/Folhapress
Para Jucá, candidatura de Meirelles é contra o "status quo" da política Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Vera Rosa

Brasília

28/07/2018 07h51

O presidente do MDB, Romero Jucá (RR), disse em entrevista que a campanha de Henrique Meirelles ao Palácio do Planalto vai olhar para o futuro, e não pelo retrovisor. Às vésperas da convenção que oficializará a candidatura de Meirelles, na quinta-feira (2), a cúpula do MDB e o governo decidiram adotar nova estratégia. A ordem, agora, é descolar o ex-ministro da Fazenda da impopularidade do presidente Michel Temer (MDB), na tentativa de fazer com que ele saia do 1% de intenção de voto.

"Vamos mostrar que Meirelles não é o resultado do governo Temer. Quem inventou o Meirelles na área econômica não foi o Temer. Foi o Lula", afirmou Jucá, líder do governo no Senado, ao lembrar que o ex-ministro comandou o Banco Central na gestão do petista. Meirelles é definido pelo senador como "um outsider na política, um radical de centro".

O Estado de S. Paulo - O MDB diz em Carta Aberta à Nação, divulgada na sexta-feira (27), que livrou o País do desastre econômico e social. Mas o desemprego supera 13 milhões e a estimativa de crescimento é de 1,6%. Que recuperação é essa?

Romero Jucá - Saímos da pior recessão da história. Estávamos com inflação galopante, taxa de juros muito alta, crescimento em depressão. Agora, inflação e taxa de juros estão controladas. O crescimento não foi o esperado porque tem tanto maluco falando besteira que os empresários vão aguardar. Temos instabilidade política e jurídica no País, liminares sendo dadas sem pé nem cabeça.

A campanha de Meirelles quer se descolar da impopularidade de Temer. É por isso que essa carta não cita o presidente?

A carta fala das realizações do governo. Michel não é candidato. O candidato é Meirelles. Estamos fazendo uma transição e não negamos o governo. Mas Michel será julgado pela história, não na eleição.

Ao dizer que "o Brasil não quer ir nem para a direita nem para a esquerda", a ideia do MDB é carimbar Meirelles como o "verdadeiro" candidato de centro?

Meirelles é um radical de centro. Tem posição firme, sabe o que fala. É o único candidato que não precisa recorrer a ex-ministro da Fazenda para dar credibilidade ao governo.

Como romper o isolamento da candidatura de Meirelles, agravado depois que o Centrão decidiu apoiar Geraldo Alckmin (PSDB)?

A posição do Centrão era esperada. Estavam oscilando entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo. A solução Ciro seria antinatural por tudo o que o Centrão representa. Temos condições de disputar a eleição sozinhos, apesar de ainda estarmos conversando com alguns partidos. Se tempo de TV fosse tudo, descartaríamos as chances da Marina (Silva, Rede) e do (Jair) Bolsonaro (PSL), que lideram pesquisas.

Por que o senhor disse que o Centrão é muito esperto?

Acho que cada um deve avaliar sua própria consciência. É só ver o que eles tiveram do governo e o que estão fazendo com o presidente. O Centrão tem dez ministérios. O MDB só tem quatro. Querer dizer agora que não tem nada a ver com o resultado do governo é um pouco demais para a minha beleza.

O senador Renan Calheiros defende aliança do MDB com o PT e está pedindo votos contra Meirelles na convenção. Diz que a candidatura envergonha o partido. Como conter a resistência?

O MDB é o maior partido do Brasil e seria uma covardia ficar fora dessa eleição. Vergonha seria se esconder. Os membros do MDB vão escolher se querem sentar no colo do PT, como pregam Renan e uns poucos, ou se querem ter independência e candidatura própria.

O senhor não teme que Meirelles seja cristianizado na campanha?

Acho que qualquer um pode ser cristianizado. O Alckmin pode ser cristianizado pelo Centrão. Será que o Centrão vai pedir voto para ele no Nordeste? Temos estrutura partidária, bons candidatos a governador, que reforçam o palanque, e tempo de TV. Então, vamos partir para o embate e enfrentamento, colocando em comparação os candidatos.

Enfrentamento com quem?

Temos de enfrentar o status quo.

Mas o status quo é o governo...

Falo do status quo da política. Meirelles não é um político profissional, embora seja experimentado na gestão. É um outsider na política. Vamos mostrar que Meirelles não é o resultado do governo, mas, sim, do seu trabalho na vida pública e privada. Quem inventou o Meirelles na área econômica não foi o Temer. Foi o Lula. E o Meirelles passou quatro vezes mais tempo com o Lula (como presidente do BC) do que com o Temer.

Mas isso é mais uma tentativa de colar a imagem de Meirelles ao ex-presidente Lula, que, embora preso, lidera as pesquisas...

Isso é a tentativa de mostrar que ele é um cara que fez o trabalho certo, que não é sectário. O Lula tentou fazer o Meirelles ministro da Dilma (Rousseff, presidente cassada). Ela é que não aceitou. O grande desafio do Meirelles, agora, é ser conhecido. Não confunda a imagem do presidente Temer, que foi alvo de ataque do Ministério Público e massacre midiático, com o resultado da economia.

O MDB vai esconder o presidente na campanha?

O presidente está preocupado em governar. Ele vai dizer que tipo de participação quer ter ou não na campanha. Nem cabe deslocá-lo para comício. Tem a liturgia do cargo.

Na primeira eleição presidencial após a Lava Jato, o MDB, o PSDB e o PT vão para a campanha alvejados por denúncias. Como enfrentar esse desgaste?

Quem vai falar da Lava Jato? O Janot (Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República) tentou, irresponsavelmente, extirpar a classe política e os partidos. Pegou uma metralhadora giratória, forjou delações, montou gravações. As investigações contra o MDB estão sendo arquivadas. A gente tem que dar tempo para a Lava Jato decantar. As i