Pobreza e violência põem em xeque futuro de brancos na África do Sul
Durante o apartheid, período de segregação racial na África do Sul, o país se preocupava apenas com os brancos. Agora, eles voltam a ser motivo de preocupação, mas por uma razão diferente: milhares deles estão mergulhados na pobreza e expostos à violência.
Todos na África do Sul, independentemente da cor, concordam que os brancos ainda têm uma vida melhor do que a dos negros. São eles que controlam a economia, detêm grande nível de influência na política e nos meios de comunicação e são proprietários dos melhores imóveis e ocupam os melhores empregos.
Tudo isso é verdade, mas olhando abaixo da superfície, encontra-se uma camada da população branca imersa na pobreza e na vulnerabilidade, cujo futuro está ameaçado. Parece que apenas determinadas partes da comunidade branca têm um futuro assegurado: os que sustentam melhor status social.
Os da classe trabalhadora, em sua maioria africáners, enfrentam uma crise. Mas não se trata de uma crise noticiada nos jornais ou na televisão porque despertaria questões sobre um passado que todos na África do Sul querem esquecer.
Segundo o ativista político Mandla Nyaqela, isto é consequência do terrível nível de brutalidade com que se tratou a população negra durante o apartheid.
"Os efeitos estão sendo sentidos entre os brancos de hoje, ainda que possuam a maior parte da riqueza do país", diz ele.
Acampamentos
Milhares de sul-africanos vivem na pobreza em acampamentos perto da capital, Pretória. Ernst Roets, líder africander membro da organização AfriForum, me levou a um desses acampamentos ocupados por brancos.
O local foi erguido dentro da propriedade de um fazendeiro branco que se solidarizou com o grupo. O lugar é batizado com o nome otimista de Canto Ensolarado.
Há carros abandonados e móveis velhos espalhados por toda parte. Entre as choupanas, há lixo amontoado, água parada onde se multiplicam mosquitos, e apenas dois banheiros.
No acampamento Canto Ensolarado não há água nem eletricidade. Seus habitantes sobrevivem a base de dois mingaus de aveia por dia doados por voluntários locais. Eles não têm seguro saúde nem seguro de vida, situação semelhante a dos negros durante o apartheid.
Segundo Roets, há ao menos 80 acampamentos que abrigam brancos pobres apenas nos arredores de Pretória. E em toda a África do Sul, cerca de 400 mil brancos podem estar vivendo na miséria. "Não quero viver num lugar assim", diz Frans de Jaeger, que antes era pedreiro e que, com sua barba, se parece com um dos pioneiros bôeres - colonizadores holandeses, alemães e franceses que se estabeleceram no país há quase 200 anos.
"Mas não tenho para onde ir", acrescenta. Sua mulher morreu há alguns anos de câncer e ele virou alcóolatra e indigente.
Fazendeiros ameaçados
E ainda há um outro grupo de sul-africanos brancos que ocupa uma posição mais alta na sociedade e que também sofre ameaças, literalmente.
Quase todas as semanas, a imprensa local noticia assassinatos de fazendeiros brancos, ainda que a informação não corra nos meios de comunicação internacionais.
Na África do Sul, um fazendeiro branco tem mais chance de morrer do que um policial, e os policiais são conhecidos por terem uma vida particulamente perigosa.
A organização de Ernst Roets publicou nomes de mais de 2 mil trabalhadores do campo que morreram nas últimas décadas e até o momento o governo não parece dar prioridade à resolução desses crimes. Há duas décadas, havia 60 mil fazendeiros brancos na África do Sul; em 20 anos esse número caiu para a metade.
Na pequena localidade de Geluik, (Felicidade, em tradução livre), pistoleiros invadiram uma propriedade e abriram fogo há poucas semanas, matando um fazendeiro e um de seus filhos.
Belinda van Nord, filha e irmã das vítimas, conta como viver no campo é perigoso. A polícia não se interessou muito pelo caso, diz ela. No pequeno cemitério onde seu pai e irmão estão enterrados há outros túmulos de fazendeiros assassinados recentemente. A paisagem maravilhosa que os rodeia se transformou em um campo de morte.
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