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Eficiência em reciclagem antevê fim de mineração por alumínio

24/11/2013 09h36

Duzentos anos atrás, ninguém sabia que o alumínio existia. Hoje, o material está em toda parte - em latas, janelas, embalagens, carros.

Mas mesmo enquanto novos usos para o alumínio seguem sendo descobertos, o avanço da reciclagem pode fazer com que, em algum momento, não precisemos mais minerar em busca do material.

De um lado, o alumínio é um dos metais mais reativos da tabela periódica. "Incêndios de alumínio são assustadores", diz Andrea Sella, professor de química da Universidade College London. Por isso, ele não é ideal para a construção de aeronaves, por exemplo.

Mas, de outro lado, essa desvantagem é compensada por sua força, flexibilidade e leveza excepcional.

Seu alter ego é o óxido de alumínio, que é macio e maleável e forma uma camada sobre o metal puro no momento em que é exposto ao ar (e isso torna improvável que uma aeronave pegue fogo).

De tão resistente, esse óxido é usado para fazer lixa e outros produtos abrasivos.

E, apesar de o alumínio ser o terceiro elemento mais abundante na crosta da Terra, ele só foi isolado em 1825 e por décadas era tão escasso que valia mais do que a prata.

O motivo pelo qual ficou tanto tempo "escondido" é que, ao contrário do ouro e da prata, ele é extremamente reativo para ocorrer em sua forma pura. É encontrado na forma de bauxita, minério avermelhado e marrom.

Minerar a bauxita é a parte fácil do processo. O mais difícil é extrair o metal - algo que foi obtido pela primeira vez em 1886, com o derretimento da bauxita em outro mineral, criolita, e de uma passagem de uma corrente elétrica por ele, separando os átomos de oxigênio do alumínio.

São necessárias quatro toneladas de bauxita para produzir uma tonelada de alumínio, em um processo que consome bastante energia.

Reciclagem e energia

Mas a reciclagem desse material consome uma fração muito pequena dessa energia.

"Latinhas de bebida podem ser recicladas em 60 dias, ou seja, uma lata de refrigerante pode voltar à prateleira 2 meses depois (de ser usada)", diz Nick Madden, responsável por comprar o material em estado bruto para a Novelis, maior manufatureira global de folhas de alumínio.

O material pode ser reciclado diversas vezes, praticamente de forma infinita.

"É um dos poucos materiais que é genuinamente 100% reciclável", afirma Madden.

E o Brasil é um dos líderes desse mercado, diz um relatório deste ano produzido pelo Pnuma, braço ambiental da ONU: em 2010, o país reciclou 97,6% de suas latinhas de alumínio, maior porcentagem do mundo.

Demanda

Em teoria, pode chegar o dia em que o mundo terá minerado todo o alumínio de que necessita - talvez possamos apenas seguir reutilizando o que já temos.

"Se a demanda parar de crescer e (reutilizarmos) resíduos, começaremos a reduzir (a exploração) da matéria-prima", agrega Madden.

Por enquanto, porém, a demanda está crescendo, e um dos motivos é a produção de automóveis. Carros de carcaças mais leves significam mais eficiência no gasto de combustível e menos emissões de gás carbônico.

A Novelis aumentou em 25% seu suprimento a montadoras no ano passado, a maior parte dele para um de seus maiores clientes, a Jaguar Land Rover - que começou a produzir Range Rovers com alumínio.

O novo carro usa 25% a menos de combustível em parte porque sua carcaça é 39% mais leve, o que ajuda a reduzir o peso total do carro no equivalente a cinco pessoas.

Quase a metade do alumínio que a Novelis vende para a produção de Range Rovers vem do lixo - latas vazias, resíduos de veículos e de construção. A empresa quer aumentar essa porcentagem para 80% até 2020. Para isso, o desafio é garantir que mais alumínio entre no ciclo da reciclagem.

Se a exploração de bauxita vai persistir nas próximas gerações, isso vai depender da proporção que conseguirmos reutilizar do material já existente, bem como dos novos usos que inventarmos para ele.