O papado subversivo de Francisco
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A morte do papa Francisco encerra um período marcado por profundas transformações na estrutura de poder da Igreja Católica. Durante seus 13 anos à frente do Vaticano, Francisco conduziu o que pode ser considerado uma "revolução" na distribuição do poder eclesiástico, democratizando a representação global dentro do colégio cardinalício.
O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.
"Dá para dizer, sem exagerar, que ele fez um papado meio subversivo do ponto de vista do poder dentro da igreja", afirma José Roberto de Toledo. Historicamente, a Igreja Católica apresenta uma grave desproporção na representação cardinalícia. "A Igreja até parecia ser democrática, porque tem eleição de papa, mas a representatividade deixa muito a desejar", pontua Toledo.
A Itália sozinha possui 17 cardeais eleitores — aqueles com menos de 80 anos e direito a voto no conclave — o mesmo número que toda a América do Sul, continente com a maior proporção de católicos no mundo. Os Estados Unidos, nação de maioria protestante, contam com dez cardeais eleitores, enquanto o Brasil, maior país católico do mundo, possui apenas sete.
Esta desigualdade tem raízes profundas relacionadas ao poder econômico. "Tem uma forte relação com a grana, com o dinheiro", destaca Toledo. Existe uma forte correlação entre o PIB per capita dos países e o número de sacerdotes. Isso se explica pelo alto custo de formação e manutenção de padres e paróquias. "Custa caro para você formar padres, para formar sacerdotes, custa caro para você manter os sacerdotes", explica o colunista.
Nos Estados Unidos, a relação é de um sacerdote para cada 2.000 fiéis, enquanto no Brasil essa proporção chega a um para 15 mil. De acordo com levantamento do Pew Research, entre 2013 e 2025, Francisco promoveu uma significativa redistribuição do poder cardinalício: a proporção de cardeais europeus caiu de 51% para 40%; na Ásia, o percentual quase dobrou, passando de 10% para 18%; na África Subsaariana, cresceu 50%, indo de 8% para 12%; na América Latina houve leve aumento, de 17% para 18%; já na América do Norte, diminuiu.
Essa redistribuição não apenas democratizou a representação, mas também alinhou o colégio cardinalício com as regiões onde a Igreja Católica experimenta crescimento em números absolutos, principalmente Ásia e África.
"Ele fez um trabalho de democratização da representação cardinalícia dos eleitores do papa ao longo dessa década", ressalta Toledo.
O próximo conclave, que deve ocorrer nas próximas semanas, revelará se o legado transformador de Francisco terá continuidade. "Saberemos quando a fumaça branca sair, mas também veremos, independentemente da nacionalidade do papa, se ele vai dar segmento a essa subversão do Francisco ou não", comenta Toledo.
Thais Bilenky acrescenta: "Se a política católica seguir a política tradicional, o pêndulo, quando vai para um lado, depois volta para o outro. Não me seria surpreendente se a gente tivesse um novo papa que fosse menos reformista do que foi o Francisco".
O que está em jogo vai além da nacionalidade do próximo pontífice — é a continuidade ou não de uma visão de Igreja mais representativa e menos eurocêntrica, um dos principais legados deste papado que priorizou não apenas os pobres em sua atuação pública, mas também na redistribuição do poder dentro da própria instituição.
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.
3 comentários
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Pedro Guilherme
Me permitam mostrar minha indignação com a chamada e até o texto, Thais e Toledo. Até apelativo, considero. O mundo precisa se transformar, evoluir e chamar evolução de subversão é estratégia de quem não quer que a mudança ocorra, ainda que ela produza melhoras a um grande número de beneficiários ou que melhore a condução do processo no futuro.
Edison Ramos
Subversivos são os que escreveram esse absurdo. Sem conhecimento de causa, fazem uma chamada de pura subversão dos valores Católicos. Deveriam ter vergonha de publicar tal coisa.
Gabriel Rufino Avila
Achei o artigo excelente quanto às informações sobre a “democracia” vaticana. Fiquei surpreso com a Influência de Itália, EUA e outros. Os termos da manchete podem ter sido escolhidos para trazer mais leitores.