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Inclusão digital e gerência da rede dão o tom em evento sobre futuro da internet

23/04/2014 19h45

A conferência internacional sobre o futuro da internet NetMundial, que teve início nesta quarta-feira em São Paulo, foi marcada em seu primeiro dia por discursos pedindo uma maior pluralidade na governança da rede e uma maior inclusão digital ao redor do mundo.

O pedido mais enfático aconteceu já na cerimônia de abertura pela nigeriana Nnenna Nwakanma, fundadora da organização Free Software and Open Source Foundation for Africa.

"Minha primeira questão é levar internet aos dois terços da população mundial que ainda não estão conectados. O índice de penetração médio da internet em países desenvolvidos é de 31%, mas na África é de apenas 16%", disse.

As cifras apareceram nas palavras de vários outros palestrantes, como nas do subsecretário-geral da ONU, Wu Hongbo, que veio a São Paulo representanto o chefe da Nações Unidas, Ban Ki-moon.

"Apenas um terço da população mundial têm acesso a internet e às suas ferramentas. É preciso aumentar esse número e dar voz às opiniões, não só com uma maior participação da sociedade no comércio, mas também no processo de tomadas de decisões", disse.

Segundo o representante da ONU, "a internet pode contribuir ainda mais com os esforços para erradicar a pobreza, diminuir a desigualdade e proteger os recursos do planeta".

Internet plural

A pluralidade da rede deve se fazer refletir na governança da rede. Essa é outra tese bastante repetida nos salões do hotel Grand Hyatt, na zona sul da capital paulista, inclusive pela presidente Dilma Rousseff, que abriu o encontro.

"O Brasil defende que a governanca da internet seja multissetorial, multilateral, democrática e transparente", disse a presidente.

A ideia também é onipresente no documento feito de maneira colaborativa por representantes de governos, setor público, sociedade civil e universidades.

Mas nem todos parecem entender pluralidade na governança sob o aspecto multissetorial, ou seja, com a participação de diversos atores, e não só o dos governos.

Em uma das sessões, no período da tarde, um dos delegados do governo russo expôs a tese, compartilhada por outros países como a China, de que a governança da internet deveria se dar no âmbito da ONU, ou seja, com a participação exclusiva dos governos.

Icann

A discussão sobre a pluralidade ganhou força após a decisão dos Estados Unidos em acabar com o vínculo institucional com o Icann (Organização da Internet para Atribuição de Nomes e Números), o órgão baseado em território americano que atribui e administra os nomes e domínios usados na internet.

Em setembro de 2015, o órgão deve passar à administração de um grupo multissetorial, composto por representantes de governos, sociedade civil, setor privado e universidade.

Para o americano Vint Cerf, considerado um dos criadores da internet, esse é um dos grandes desafios aos debates em São Paulo.

"É preciso dar uma resposta ao fim da relação dos Estados Unidos com o Icann", disse.

Roteiro para a governança

A última sessão do dia foi a primeira a discutir a segunda parte do documento-base da conferência, o chamado Mapa para a Evolução Futura da Internet, que está conduzindo todas as discussões no evento.

As sessões foram acompanhadas em salas de conferência virtuais ao redor do mundo, onde participantes puderam fazer perguntas.

Para o secretário de Política de Informática do Ministério de Ciência e Tecnologia, Virgílio Almeida, a reunião em São Paulo é apenas o começo do processo.

"Queremos ver as bases das mudanças acontecerem. Esse é um dos objetivos da reunião em São Paulo", disse Almeida, ressaltando que o estágio inicial ainda é para afinar ideias.

A discussão sobre o roteiro de governança deve continuar na quinta-feira. Mais cedo, o criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, resumiu o estágio dos debates.

"Estamos fazendo progressos. Isso é ótimo, cara, mas ainda temos um grande caminho pela frente", disse.