Topo

Obama pede fim de 'cura gay' após petição motivada por suicídio de jovem transgênero

Leelah Alcorn, que nasceu menino, cometeu suicídio em dezembro, nos EUA. Ela deixou uma carta falando sobre as dificuldades com os pais, que se recusavam a aceitar a identidade que ela acreditava ter, feminina - BBC/cortesia de Abigail Jones
Leelah Alcorn, que nasceu menino, cometeu suicídio em dezembro, nos EUA. Ela deixou uma carta falando sobre as dificuldades com os pais, que se recusavam a aceitar a identidade que ela acreditava ter, feminina Imagem: BBC/cortesia de Abigail Jones

09/04/2015 10h54

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condenou publicamente terapias psiquiátricas criadas para "curar" jovens gays, lésbicas e transgêneros.

A declaração de Obama foi uma resposta a uma petição online que pede a proibição destas chamadas terapias de conversão. Em apenas três meses, o abaixo-assinado conseguiu 120 mil assinaturas.

A mobilização foi inspirada pelo caso de Leelah Alcorn, uma adolescente transgênero de 17 anos que cometeu suicídio em dezembro.

Em uma carta postada no Tumblr, Alcorn, nascido homem, afirmou que iria se matar após anos de dificuldades com os pais, cristãos rigorosos que se recusavam a aceitar a identidade que ela acreditava ter, feminina.

"A única forma de descansar em paz é se, um dia, pessoas transgênero não forem tratadas como eu fui... Minha morte precisa significar algo. Consertem a sociedade. Por favor", escreveu a jovem.

Em resposta à petição, Valerie Jarrett, assessora de Obama, escreveu: "Compartilhamos nossa preocupação a respeito dos efeitos potencialmente devastadores nas vidas de jovens transgêneros e também de gays, lésbicas, bissexuais e homossexuais".

"Como parte da dedicação à proteção da juventude dos Estados Unidos, este governo apoia os esforços para proibir o uso da terapia de conversão para menores", acrescentou.

Com a declaração, a Casa Branca não está pedindo de forma explícita que o Congresso norte-americano aprove uma legislação proibindo estas terapias em todo o país. Mas Mara Keisling, diretora-executiva do Centro Nacional para a Igualdade de Transgêneros, elogiou o comunicado.

"Ter o presidente Obama e o peso da Casa Branca por trás dos esforços para proibir a terapia de conversão é crucial na luta pelos jovens transgêneros e LGBT", afirmou.

A terapia de conversão conta com forte apoio de grupos conservadores e religiosos nos Estados Unidos. Aconselhamento e orações são usados frequentemente nessas terapias para ajudar cristãos a lidarem com seus desejos quando eles procuram tratamento.

David Pickup, terapeuta especializado em terapia de conversão, que trabalha nos Estados da Califórnia e do Texas, disse ao jornal "New York Times" que menores de idade não deveriam ser forçados à terapia, mas que o desejo homossexual muitas vezes está ligado a algum sério trauma emocional ou abuso sexual.

"Acreditamos que a mudança ainda é possível", disse ele. "As pessoas vão à terapia pois elas podem mudar, porque realmente funciona. Ajudamos as pessoas a se tornarem realmente elas mesmas."

Grupos de ativistas que defendem os direitos de homossexuais e LGBTs e também grupos de profissionais de saúde afirmam que as terapias de conversão podem aumentar o risco de depressão ou suicídio.

Os Estados da Califórnia e de Nova Jersey já proibiram a prática. Estados mais conservadores, entretanto, como Oklahoma, analisam legislações para proteger essas terapias de possíveis vetos ou proibições federais.