Topo

Quem é o belga suspeito de ter comandado ataques de Paris

Foto sem data mostra o belga Abdelhamid Abaaoud, suspeito de ser o mentor dos ataques terroristas em Paris - Reuters
Foto sem data mostra o belga Abdelhamid Abaaoud, suspeito de ser o mentor dos ataques terroristas em Paris Imagem: Reuters

Márcia Bizzotto

De Bruxelas (Bélgica) para a BBC Brasil

17/11/2015 06h47

Márcia Bizzotto

De Bruxelas para a BBC Brasil

Em agosto passado, um jihadista detido na França ao voltar da Síria confessava ao juiz Marc Trévidic que havia sido preparado para cometer um atentado durante um show de rock e identificou o idealizador do projeto: o belga Abdelhamid Abaaoud.

Esse nome aparece agora citado por fontes judiciárias francesas como suspeito de ser o mentor dos atentados que deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos em Paris, na sexta-feira, apoiado em indícios que ligam Abaaoud aos autores do múltiplo ataque.

Na busca por ele, a polícia francesa realizou uma operação nesta quarta-feira em Saint-Dennis, norte de Paris. E depois de 24 horas, autoridades confirmaram que Abaaoud morreu na violenta troca de tiros com a polícia - uma mulher, que detonou seu cinto com explosivos, também morreu.

Segundo as autoridades, a célula terrorista desmanchada na operação estava "pronta para agir".

Inicialmente, o próprio promotor francês, François Molins, desmentiu a possibilidade de o belga ter sido morto. Abaaoud só foi identificado por suas digitais, já que seu corpo ficara irreconhecível após ser crivado de balas.

Originário do notório bairro de Molenbeek, em Bruxelas, que serviços de inteligência em toda a Europa afirma ser um terreno fértil para o extremismo, Abaaoud seria amigo de infância de Salah Abdeslam, buscado internacionalmente por suspeita de participar dos ataques em Paris e irmão de Brahim, um dos homens-bomba.

Segundo a imprensa belga, Brahim e Abaaoud foram julgados juntos em 2010 e 2011 por roubo e tráfico de drogas em Bruxelas.

O nome de Abaaoud aparece em todas as investigações de atentados planejados contra a França ou a Bélgica nos últimos dois anos e é o ponto comum entre os vários terroristas que viveram ou passaram por Molenbeek.

Investigadores belgas desconfiam que o jihadista teve contatos com Ayoub El-Khazzani, suspeito de tentar cometer um atentado em um trem que ligava Amsterdã a Paris, em agosto, e com Mehdi Nemmouche, autor do atentado contra o Museu Judaico de Bruxelas, em maio de 2014.

Ambos estavam hospedados em Molenbeek quando cometeram seus crimes.

Além disso, a polícia francesa suspeita que Abaaoud estava por trás do projeto de atentado contra uma igreja de Villejuif (França), encarregado ao argelino Sid Ahmed Ghlam, em abril passado, detido pelo assassinato uma mulher antes de concretizar o plano terrorista.

Carreira jihadista

O jihadista mais procurado da Bélgica, Abdelhamid Abaaoud é filho de imigrantes muçulmanos de Molenbeek, descrito pelos amigos da escola como brincalhão, pacífico, religioso, mas não radical.

Seu pai, Omar, um marroquino instalado em Bruxelas há 40 anos, se orgulha de ter chegado ao país como mineiro e conseguido comprar uma loja de roupas, onde Abaaoud trabalhava a seu lado.

Como a maioria dos pais de combatentes estrangeiros, Omar diz não saber explicar como o filho pôde se radicalizar tão rapidamente.

Não há registros de que o jovem tivesse pertencido ao grupo extremista Sharia4Belgium, considerado principal recrutador de militantes de grupos extremistas na Bélgica.



Ainda assim, Abaaoud adotou o nome religioso de Abou Omar Soussi e se juntou aos combatentes radicais na Síria no começo de 2013.

Seu nome ficou conhecido na Bélgica um ano mais tarde, quando o pai revelou à imprensa que Abaaoud teria doutrinado e levado à Síria o irmão de 13 anos, Younes.

Pouco depois, o jihadista foi identificado em uma série de vídeos macabros publicados em redes sociais, nos quais aparece sorridente ao volante de uma caminhonete que reboca cadáveres mutilados de civis assassinados pelo grupo autodenominado Estado Islâmico (EI).

Abaaoud era, na época, um dos combatentes francófonos mais ativos nas redes sociais.

Em sua conta no Facebook, hoje fechada, ele publicava ameaças de atentados contra a França e a Bélgica, incitava seus conterrâneos a unir-se a seu grupo na Síria ou a "passar à ação" em seus próprios países, caso não conseguissem emigrar.

Ascensão

Em um ano, o jihadista de Molenbeek teria subido na hierarquia do Estado Islâmico; acredita-se que hoje ele é um dos membros estrangeiros mais importantes do EI.

Seu nome voltaria a aparecer nos noticiários em janeiro passado, citado como cérebro de uma célula terrorista desmembrada na cidade belga de Verviers que estava ponta para cometer um atentado de grandes proporções contra as forças de segurança do país.

O episódio ocorreu uma semana depois dos atentados contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado judeu em Paris.

Na ocasião, dois suspeitos foram mortos pela polícia belga. Abaaoud apareceria meses mais tarde provocando as autoridades belgas em uma entrevista publicada pela revista-propaganda do EI, Dabiq.



No texto, cuja autenticidade não pode ser comprovada, o terrorista afirmava ter entrado clandestinamente na Bélgica para preparar o atentado frustrado e conseguido sair sem ser detectado antes da operação policial.

"Tenho vergonha por Abdelhamid. Ele arruinou nossas vidas. Nós que devemos tudo à Bélgica", disse o pai do terrorista em uma entrevista concedida ao jornal belga Het Laatste Nieuws na época.

As autoridades belgas acreditam que Abaaoud tivesse se escondido na Grécia ou na Turquia.

Em julho passado ele foi condenado à revelia a 20 anos de prisão em um dos megaprocessos realizados na Bélgica por recrutamento de jihadistas.