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Fase republicana? Os episódios pouco conhecidos da trajetória de Hillary

Hillary comemora vitória nas prévias que selou sua candidatura presidencial - Lucas Jackson - 8.jun.2016/Reuters
Hillary comemora vitória nas prévias que selou sua candidatura presidencial Imagem: Lucas Jackson - 8.jun.2016/Reuters

Ángel Bermúdez - BBC Mundo

26/07/2016 18h08

Primeira-dama dos Estados Unidos, senadora de Nova York, secretária de Estado e prestes a ser confirmada como a candidata à presidência americana pelo Partido Democrata.

Esses são os quatro pontos altos que podem resumir a trajetória de Hillary Diane Rodham Clinton.

Nascida no dia 26 de outubro de 1947 em uma família de classe média de Chicago, Hillary se transformará na primeira mulher a ser candidata presidencial por um dos grandes partidos americanos durante a Convenção Democrata, que será concluída na quinta-feira (28) na Filadélfia.

Confira alguns detalhes menos conhecidos da trajetória daquela que poderá se transformar na primeira mulher a governar os Estados Unidos:

1. De republicana a democrata

Apesar de ter uma trajetória de mais de 40 anos no Partido Democrata, Hillary nem sempre foi desse grupo político.

Durante sua juventude, chegou a ser filiada ao Partido Republicano e chegou até a participar ativamente da campanha eleitoral de Barry Goldwater, aspirante presidencial pelo partido em 1964.

Ela também foi líder da seção local da Juventude Republicana quando ainda era estudante no Wellesley College.

Essa proximidade com o partido vinha de família -- seu pai, um veterano da 2ª Guerra Mundial, sempre foi republicano.

Na universidade, Hillary foi se aproximando aos poucos do movimento pelos direitos civis e dos ativistas contra a Guerra do Vietnã.

Em 1968, participou da Convenção Republicana em Miami para apoiar a candidatura do então governador de Nova York Nelson Rockefeller. Ele foi derrotado por Richard Nixon.

Foi neste momento que Hillary abandonou os republicanos.

2. Astronauta

Em seu livro de memórias, "Living History", ela conta que queria ser astronauta quando adolescente.

"O presidente Kennedy acabava de iniciar sua campanha para chegar à Lua, estávamos em 1961, e eu tinha 14 anos... Escrevi essa carta para a Nasa perguntando quais eram os requisitos para ser astronauta e contei algumas coisas a meu respeito", afirmou no livro.

"Eles me responderam dizendo que não estavam aceitando meninas para ser astronautas, o que me deu muita raiva."

Em um discurso de 2012, Clinton contou que, depois do mal-estar causado pela rejeição pela Nasa, percebeu que não passaria no teste mesmo se a agência espacial aceitasse mulheres, já que tinha problemas de visão e não era muito atlética.

"Provavelmente não teria sido possível ser a primeira mulher astronauta."

3. Hillary Rodham

Hillary se casou em 1975 com Bill Clinton, que viria a ser seria eleito presidente dos Estados Unidos em 1993.

Eles se uniram apenas depois de três pedidos de Clinton - o primeiro deles em 1973. Os dois se conheceram na Universidade de Yale, onde estudavam Direito.

No anúncio de casamento publicado no jornal Arkansas Gazette, o destaque era que ela continuaria usando seu nome de solteira, Hillary Rodham -- argumentando que queria manter sua vida profissional separada da de seu marido.

"Precisava manter minha própria identidade", afirmou depois.

Mas essa decisão foi usada contra seu marido quando ele se candidatou pela primeira vez ao governo do Arkansas.

Para evitar mais prejuízos à imagem dele, ela decidiu adotar seu sobrenome no início da década de 1980 -- quando passou a ser chamada de Hillary Rodham Clinton.

No início dos anos 2000, seu nome de solteira começou a ser esquecido.

Na campanha por uma vaga no Senado por Nova York, ela se apresentava apenas como Hillary. Em outubro de 2001, registrou na web o domínio hillaryclinton.com.

4. Carreira jurídica

Apesar de ter ficado famosa mundialmente como a primeira-dama dos Estados Unidos, Hillary teve uma carreira de sucesso, iniciada antes mesmo de casar com Bill Clinton.

Como jurista, ela se destacou em trabalhos acadêmicos e chegou a publicar artigos sobre direitos das crianças e políticas públicas sobre a infância em revistas especializadas respeitadas, como a Harvard Educational Review e a The Yale Law Journal.

Também trabalhou como advogada em escritórios famosos -- durante anos, ganhou mais do que seu marido recebia como governador do Arkansas.

Um dos pontos de maior destaque de sua carreira jurídica foi a participação na equipe de advogados que investigou o então presidente Richard Nixon na década de 1970.

Esse grupo tinha como missão encontrar provas sobre a participação de Nixon na trama de espionagem e corrupção do escândalo de Watergate.

Ele renunciou ao cargo antes de ser submetido ao processo de impeachment -- a investigação é considerada um elemento fundamental nessa decisão.

5. Obamacare e Hillarycare

Em um comício durante as primárias em Iowa, em janeiro, Hillary lembrou sua participação no seguro-saúde obrigatório posto em marcha pelo presidente Barack Obama.

"Se chamava Hillarycare antes de ser chamado de Obamacare", disse aos presentes.

Com essa frase, a aspirante presidencial trazia à tona uma de suas iniciativas políticas mais arriscadas e, ao mesmo tempo, um de seus maiores fracassos.

Quando Bill Clinton chegou à Casa Branca em 1993, ele encarregou a primeira-dama de criar um plano de reforma do sistema de saúde.

Ela liderou uma iniciativa considerada por especialistas em políticas públicas como muito mais ambiciosa que o atual seguro-saúde obrigatório estabelecido por Barack Obama (o chamado Obamacare).

Mas ela não conseguiu que o plano sequer fosse levado a votação no Congresso, apesar de os democratas estarem em maioria em ambas as Casas na época.

A iniciativa custou muito caro em termos políticos para Hillary e Bill Clinton.

Durante a campanha legislativa de 1994, os republicanos usaram o Hillarycare como uma arma contra o governo e contra os democratas, que perderam o controle do Senado e da Câmara dos Representantes.

Alguns analistas garantem que esse fracasso serviu para que Obama tivesse mais consciência das dificuldades de uma reforma radical no sistema e se conformasse com uma proposta mais moderada, mas com maiores chances de ser aprovada.