Após vitória de Trump, Robert Kennedy mente e diz que nunca foi antivacina
Robert F. Kennedy Jr., ex-candidato à presidência dos EUA que decidiu se retirar das urnas para apoiar Donald Trump, declarou hoje que "nunca foi antivacina" e que não pretende "tirar as vacinas de ninguém" enquanto fizer parte do governo do republicano.
O que aconteceu
Kennedy Jr. afirmou que não vai retirar as vacinas das pessoas. Declaração ocorreu em entrevista ao canal NBC News após a vitória de Trump. "Não vou tirar as vacinas de ninguém", disse Kennedy após ser questionado se há vacinas específicas que ele removeria do mercado.
O ex-candidato já deu diversas declarações mentirosas relacionando as vacinas a autismo.
Em 2021, disse: "Se vejo alguém numa trilha carregando um bebê, digo que 'é melhor não vaciná-lo.'"
Na entrevista de hoje, no entanto, ele disse que não é "antivacina". "Se as vacinas estão funcionando para alguém, não vou tirá-las. As pessoas devem ter escolha, e essa escolha deve ser informada pelas melhores informações", afirmou.
O ex-candidato à presidência destacou que escolhas sobre vacinas são individuais. "Vou garantir que estudos científicos de segurança e eficácia estejam disponíveis, para que as pessoas possam fazer avaliações individuais sobre se esse produto será bom para elas".
Kennedy Jr. disse que ainda não sabe qual será o seu trabalho na nova administração. Ele não descartou a possibilidade de ser secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos.
Robert F. Kennedy Jr. é um dos principais nomes de falsas teorias antivacina nos EUA. RFK Jr. é considerado um "conspiracionista". Várias vezes ele comparou a vacinação com um "holocausto" e afirmou que os imunizantes "causam autismo" em crianças, o que é falso. Em 2021, o Instagram suspendeu a conta dele por repetidamente compartilhar informações falsas sobre a covid-19.
Afastamento do clã Kennedy se deu por declarações na pandemia. Em um discurso de 2022, RFK Jr. sugeriu que as medidas de distanciamento promovidas pelo governo Biden deixava os americanos com menos liberdade do que judeus na Alemanha nazista. As falas foram rechaçadas pela família em uma carta de repúdio. Mais tarde, ele pediu desculpas.
Vacinas não causam autismo
A principal hipótese aceita hhoje para a causa do autismo --ou TEA (Transtorno do Espectro Autista)-- é uma combinação de fatores genéticos e ambientais.
Desinformação que relaciona vacina e autismo se baseia em pesquisa fraudulenta. A origem da desinformação é um artigo publicado em 1998 com informações falsas. O estudo preliminar publicado na revista científica The Lancet, pelo médico Andrew Wakefield, analisou 12 crianças que apresentaram sinais de autismo e inflamação intestinal grave. Onze delas haviam supostamente tomado a vacina da tríplice viral, pois teriam vestígios do vírus do sarampo no organismo.
Médico reconheceu que lidava com uma mera 'hipótese' e que as crianças não tinham vírus do sarampo. Wakefield relacionou a manifestação de autismo nas crianças à vacinação, mas reconheceu que se tratava de uma hipótese. A tese dele era de que as vacinas poderiam causar problemas gastrointestinais, os quais levariam a uma inflamação no cérebro —e, talvez, ao autismo. Ele omitiu, no entanto, que não foram encontrados vírus do sarampo nas crianças.
Conflito de interesses do médico. Em 2004, uma investigação jornalística revelou que Wakefield havia sido pago por advogados interessados em ações contra indústrias farmacêuticas para manipular informações. Além disso, antes da publicação do artigo, o médico tinha solicitado patente para uma vacina contra o sarampo que concorreria com a tríplice viral —a que ele erroneamente associou à causa do autismo.
Wakefield perdeu o direito de exercer a medicina. Em 2010, ele foi julgado como inapto para o exercício da profissão pelo Conselho Geral de Medicina do Reino Unido pela postura antiética, irresponsável e enganosa. No mesmo ano, a revista Lancet se retratou pela publicação do artigo. O estudo de Wakefield é considerado uma fraude.
Estudos posteriores não acharam relação entre vacina e autismo. Em 2015, uma pesquisa publicada no The Journal of the American Medical Association analisou 95 mil crianças americanas, todas com irmãos, e concluiu que não há vínculo entre autismo e vacina. Outra pesquisa, divulgada em 2019, analisou mais de 650 mil crianças dinamarquesas e concluiu que dos cerca de 6.500 diagnósticos de TEA, nenhum tinha sinais de relação com a vacina da tríplice viral.
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Vacinas diminuíram o número de mortes provocadas pelo coronavírus
Apenas no primeiro ano de vacinação, entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, foram preservadas as vidas de 19,8 milhões de pessoas no mundo, aponta artigo publicado na revista The Lancet Infectious Diseases, em junho de 2022.
No Brasil, as vacinas preservaram as vidas de cerca de 58 mil pessoas com mais de 60 anos, consideradas grupo de risco para a doença. A informação está em estudo publicado no The Lancet Regional Health Americas, de novembro de 2022. No Brasil, a imunização iniciou em 17 de janeiro de 2021.
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