Em polos opostos, Doria e Freixo traduzem mesmo sentimento, dizem analistas
Apesar de bem sucedidos em polos ideológicos opostos, as vitórias de João Doria Jr. (PSDB) como prefeito de São Paulo e a ida de Marcelo Freixo (PSOL) para o segundo turno no Rio têm algo em comum: o desejo pela renovação na política.
A análise é do cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael, para quem ambos representam a "novidade" que o brasileiro busca depois de se decepcionar com o sistema político anterior.
O paulistano foi eleito com 53% dos votos. Já o carioca recebeu 18% dos votos e disputará o pleito com Marcelo Crivella (PRB), que ficou com 27%.
"Doria vem de fora do sistema. É um empresário bem sucedido que fez a vida fora da política. O PSOL de Freixo vem de dentro da política, mas não foi contaminado pelos escândalos de corrupção. Sempre se colocou à margem. Eles representam uma renovação das lideranças", acredita Ismael.
O cientista político José Álvaro Moisés, da USP, afirma que o empresário paulistano explorou a descrença dos brasileiros ao não se apresentar como político, mas como gestor e distanciar-se dos desvios que seriam próprios da classe.
"Com a Operação Lava Jato se confirmou a ideia de que grande parte dos políticos está ligada à corrupção. Ele foi na direção oposta."
Outros fatores importantes para sua vitória teriam sido o apoio do governador Geraldo Alckmin (PSDB), o maior tempo no horário eleitoral e os recursos abundantes de campanha - Doria Jr doou R$ 1,6 milhão para si mesmo.
Nessa condições, teria sido bem sucedido ao vender uma imagem que agrada a pobres e ricos: o milionário que venceu na vida pelo próprio trabalho e encarna o discurso de antipetismo.
"A ideia de conquistar as coisas pelo próprio mérito é muito forte em São Paulo, uma cidade marcada pelo individualismo. O pequeno empresário da periferia se identificou com Doria, e a classe alta também", afirma o cientista social e professor da USP Wagner Iglesias.
Vácuo petista
No caso do Rio, Freixo foi a alternativa à política tradicional que se mostrou mais viável, dizem os entrevistados. Seu ingresso no segundo turno também seria um sinal de fortalecimento do PSOL, que ocuparia um espaço deixado pelo PT.
"O PSOL se beneficia do declínio do PT na cidade. Há um tempo, o Partido dos Trabalhadores era a principal força política de esquerda, mas perdeu essa possibilidade."
Os desempenhos das legendas são contrastantes. Enquanto o PSOL, que até então não tinha nenhum prefeito, está em três segundo turnos nas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores, o PT, que hoje tem 14 prefeitos, elegeu apenas um e está em sete disputas de segundo turno. O PSOL também foi bem em várias câmaras municipais, elegendo os vereadores mais votados de Porto Alegre e Belo Horizonte.
Apesar de as eleições municipais terem suas especificidades, a derrocada do PT foi uma tendência observada no país todo.
"Os eleitores varreram o PT do cenário nacional. Eles estavam atentos às circunstâncias que afetaram o desempenho da sigla, aos escândalos. O que abre espaço para que novos partidos possam surgir", afirma o cientista político José Álvaro Moisés.
Isso não significa, no entanto, que tal espaço esteja sendo preenchido. Para os entrevistados, foi justamente a falta de alternativas críveis que fizeram nomes da velha política se perpetuarem nas prefeituras, apesar de um desejo de renovação.
Em Salvador, por exemplo, ACM Neto (DEM), herdeiro de uma das mais tradicionais famílias políticas do país, foi reeleito no primeiro turno com 74% dos votos. Em Curitiba, Rafael Greca (PMN), que comandou a capital nos anos 1990, foi para o segundo turno com 36,38% dos votos.
"Por mais que haja uma negação do político, muitos candidatos não conseguem se fortalecer com um discurso diferente. A Rede, por exemplo, ainda está muito ligada à figura de Marina Silva. As pessoas querem algo novo, mas não têm opções consolidadas", diz Esther Solano, cientista social e professora da Unifesp.
Desintegração dos partidos
Se é certo que o PT não foi bem no pleito, é difícil apontar o grande vencedor. A fragmentação partidária seria outra tendência nacional, de acordo com os entrevistados.
As prefeituras ficaram divididas entre as siglas, com destaque para bons números do PSDB, que elegeu seus candidatos em 14 municípios e está em segundo turno em 19 disputas no grupo das capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores (G-93).
O PMDB elegeu candidatos no primeiro turno em sete municípios e está no segundo turno em 14 cidades desse grupo, mas perdeu o reduto importante do Rio. Já o PDT, com nove prefeituras no G-93, elegeu apenas um prefeito no domingo, e continua no páreo em oito cidades.
Mais do que a fragmentação externa, há a ruptura dentro das legendas, afirma Esther Solano. Ela destaca a existência de grupos rivais nas siglas, a exemplo do que aconteceu em São Paulo, com Doria lançando candidatura - e ganhando - a contragosto de boa parte do PSDB.
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