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Votos de bolivianos na Argentina e no Brasil garantem controversa reeleição de Evo Morales

"Ganhamos com mais com mais de 10%, foi constitucional", diz Evo Morales à televisão estatal da Bolívia - GETTY IMAGES
'Ganhamos com mais com mais de 10%, foi constitucional', diz Evo Morales à televisão estatal da Bolívia Imagem: GETTY IMAGES

Matheus Magenta

Da BBC News Brasil, em Londres

25/10/2019 14h33

Os votos dos bolivianos que vivem na Argentina e no Brasil garantiram a margem necessária para a controversa reeleição em primeiro turno do presidente boliviano, Evo Morales.

Nos dois países, a votação dele foi esmagadora (83% na Argentina e 71% no Brasil).

O processo eleitoral foi bastante conturbado neste ano. Pela lei eleitoral boliviana, um candidato vence em primeiro turno em duas situações: se obtiver mais de 40% dos votos e uma diferença de 10 pontos em relação ao segundo candidato, ou se conseguir 50% dos votos mais um.

Durante a contagem dos votos, houve uma inexplicada interrupção temporária da divulgação em tempo real do resultado. Isso gerou uma onda de acusações de fraude pela oposição a Evo.

Antes da suspensão da divulgação dos dados pela Justiça Eleitoral, o resultado parcial sinalizava segundo turno, mas quando a divulgação da contagem no site oficial voltou ao ar, os dados indicavam uma vitória no primeiro turno.

Morales afirmou que a vitória é constitucional e acusou adversários de tentarem um golpe; o principal rival, Carlos Mesa, falou em fraude, disse que não aceitaria o resultado e convocou protestos pacíficos pelo país. A Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que só pode considerar o resultado legítimo após uma auditoria solicitada pelo próprio governo da Bolívia.

Até o momento, foram computados 99,99% dos votos, e segundo a Justiça Eleitoral, que anunciou a reeleição do presidente, os votos restantes não seriam suficientes para mudar o resultado.

De acordo com dados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), tabulados pela BBC News Brasil, Morales teve em território boliviano 2.768.427 votos (46,64% dos válidos) e seu principal rival, o ex-presidente Mesa, teve 2.186.326 votos (36,83% dos válidos), uma diferença de 9,81 pontos percentuais.

A margem que garantiu a vitória apertada e sem a necessidade de uma segunda votação viria do exterior, onde foram registrados 201.629 votos válidos (apenas 3,28% do total).

Os três principais colégios eleitorais bolivianos no exterior são Argentina, Brasil e Espanha, que juntos somam 80% dos votos válidos fora da Bolívia. Morales venceu nos dois primeiros.

O tamanho do eleitorado no Brasil é ligeiramente menor que o da Espanha, fator que equilibra a derrota de Morales para Mesa em território espanhol (61,15% a 21,62% para o oposicionista).

Na soma total dos votos válidos na Bolívia e no exterior, Morales teve 47,07% e Mesa, 36,51%.

Protestos e contestações

Desde a noite de domingo, dia em que a eleição foi realizada, manifestações pacíficas a favor e contra Morales acontecem nas ruas da Bolívia, além de vários distúrbios e episódios de violência.

Os conflitos começaram naquele dia quando o TSE suspendeu a contagem rápida das urnas de votação, quando a contagem totalizava 83% do total.

Naquele momento, Morales tinha 45% dos votos, e Mesa somava 38%, o que indicava a realização de um segundo turno.

Mas 23 horas depois o órgão eleitoral voltou a divulgar os resultados, já com mais de 95% dos votos contados, dando a Morales a vantagem de mais de dez pontos percentuais necessários para vencer no primeiro turno.

O TSE passou a ser questionado pela oposição e por organizações internacionais. A situação se agravou com a renúncia de Antonio Costas, vice-presidente do TSE, na terça-feira.

País vive, desde a eleição no domingo, uma série de manifestações pacíficas e episódios pontuais de violência - GETTY IMAGES - GETTY IMAGES
País vive, desde a eleição no domingo, uma série de manifestações pacíficas e episódios pontuais de violência
Imagem: GETTY IMAGES

Costas disse que a suspensão da divulgação de números preliminares "desacreditou todo o processo eleitoral, causando uma convulsão social desnecessária".

Brasil, Estados Unidos, Argentina e Colômbia defenderam a realização de um segundo turno para dirimir questionamentos sobre a legitimidade do pleito, caso a OEA não seja capaz de fazer uma auditoria adequada dos resultados.

A União Europeia, por sua vez, cobrou a realização o segundo turno para restabelecer a confiança no pleito.