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Bloqueio em estrada, preços altos: turistas relatam dificuldades na Bolívia

Advogada Carolina Martins relata preços abusivos em crise na Bolívia - Arquivo pessoal
Advogada Carolina Martins relata preços abusivos em crise na Bolívia Imagem: Arquivo pessoal

Heloísa Barrense

Colaboração para o UOL, na Bolívia

24/10/2019 11h01

O resultado das eleições ocorridas no último domingo (20) na Bolívia gerou uma série de protestos por todo o país. Opositores ao governo de Evo Morales, que busca emplacar a sua quarta reeleição, defendem que o processo eleitoral foi uma fraude em favor do atual presidente - houve interrupção da contagem de votos, fato que gerou questionamento da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Manifestantes tomaram as ruas das principais cidades do país, como La Paz, Sucre, Potosí e Santa Cruz de La Sierra. Além disso, ontem teve início uma greve geral, e Morales decretou estado de emergência. A situação tem perturbado a rotina de brasileiros que viajaram ao país vizinho.

Há bloqueios nas estradas em pequenos vilarejos, não permitindo a passagem de carros ou motos. A advogada paulista Carolina Martins foi uma das pessoas a tentar se locomover pelo país, mas não obteve sucesso. De férias na cidade de Samaipata, Martins revela que motoristas de transporte público tentavam cobrar U$ 45 para levá-la até Santa Cruz de La Sierra, onde pegará amanhã o voo de volta ao Brasil. O preço em média do serviço gira em torno de U$ 5.

"Eles querem cobrar esta fortuna para te largar no primeiro bloqueio da estrada. Você nem sabe se vai chegar", conta ao UOL. De acordo com a advogada, a viagem teria que passar por três bloqueios na estrada e que, entre um bloqueio e outro, é necessário ir caminhando.

Atualmente hospedada na pequena vila boliviana, Martins revela que não consegue trocar dinheiro nas casas de câmbio e tampouco remarcar o seu voo. "A questão é: se eu remarco meu voo e pago a multa, não sei se consigo chegar para pegar o voo depois", pontua.

"Não passa táxi"

De férias em Santa Cruz de La Sierra, a turismóloga Neide Rosa relata os problemas que tem enfrentado. "A situação está bem complicada aqui porque não passa táxi, não tem aplicativos de transporte para que eu possa me locomover até o aeroporto. Meu voo sai na sexta às 3h da manhã, mas fui orientada, pelo dono do hostel onde estou, que não é bom sair nas ruas à noite porque é perigoso", conta. Rosa revela ter ouvido, do gerente da hospedagem, casos de agressão a pedestres na cidade.

A boliviana Carolina Boll, que reside em Florianópolis há 9 anos, também enfrenta a mesma situação. A promotora de eventos declara que tentou comprar uma passagem de Sucre a Samaipata na última terça, mas nenhuma operadora de ônibus quis vender por conta dos bloqueios. Entretanto, conseguiu um ônibus ao preço de 80 bolivianos (equivalente a R$ 50). "Não tinha nem cinto de segurança no ônibus, eu fiquei até com medo."

Boll afirma que, quando o ônibus estava partindo, subiu um policial que tentou barrar a saída do transporte. Entretanto, a empresa discutiu com o agente e argumentou que tinha contato com pessoas que poderiam fazer o trâmite para a entrada em Samaipata e Santa Cruz de La Sierra antes das 6h da manhã, descreve a promotora de eventos.

"Eu previa ficar somente um dia, mas não estou conseguindo voltar para Santa Cruz porque os truffis [transportes coletivos] estão querendo cobrar caro e sem a garantia de chegar ao destino final", revela Boll. Ela também não consegue trocar dinheiro e nem pagar os serviços com cartão de crédito na cidade de Samaipata. "Eu preciso resolver o meu voo de volta para o Brasil que está marcado para o dia 30 de outubro", conta.

Consulado recomenda "alto grau de cautela"

O Consulado-Geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra soltou uma nota afirmando que está "ciente das notícias a respeito dos desdobramentos das eleições gerais da Bolívia de 2019" e recomenda "alto grau de cautela" aos brasileiros que estão no país. "Aos turistas que tenham viajado à Bolívia e se encontrem em zonas próximas a manifestações, sugere-se partir antes que possíveis bloqueios venham a afetar as vias de transporte e saída do país, tais como autoestradas e aeroportos".

Além disso, em nota, o Consulado-Geral afirmou que "se empenhará para prestar auxílios aos brasileiros em situação de necessidade. Em todo caso, a assistência consular não inclui a organização de viagens, seja por meio da marcação de voos ou da obtenção de outros bilhetes de viagens, a oferta de hospedagem ou de alimentação; ou o custeio de despesas médicas ou advocatícias, entre outros. Recomenda-se ter, sempre, água, alimentos para cerca de uma semana, bem como dispor de meios de comunicação operantes para o caso de necessidade urgente de contato com pessoas de confiança que possam oferecer ajuda, inclusive, financeira. É responsabilidade de cada um zelar por sua própria segurança".

O Consulado também avisa que estará funcionando em regime de plantão diante dos acontecimentos no país.