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Hitler e soldados se drogavam sistematicamente, diz escritor

Reprodução/Captain-cliché
Imagem: Reprodução/Captain-cliché

Dagmar Breitenbach (ca)

11/09/2015 10h58

Autor de livro sobre uso de drogas na Segunda Guerra afirma que ditador tomava esteroides e substância equivalente a heroína, enquanto soldados se dopavam com o que hoje é conhecido como metanfetamina

O livro "Der totale Rausch" (O delírio total, em tradução livre), de Norman Ohler, leva no título um jogo de palavras usando a referência da "guerra total", expressão que ganhou fama em 1943 durante discurso proferido por Josef Goebbels em Berlim.

Com ele, Ohler tenta descrever o apetite dos líderes nazistas por um "delírio total" - o uso compulsivo de drogas não só por soldados, mas também pelos mais altos nomes do Terceiro Reich, como o próprio Hitler.

"Os soldados alemães usavam Pervitin, um produto que contém metanfetamina, o que é hoje conhecido metanfetamina. Hitler aplicava esteroides na corrente sanguínea. E, mais tarde, usou Eukodal, produto farmacêutico que se aproxima da heroína", conta o jornalista e escritor à DW.

Deutsche Welle: Como nasceu a ideia do livro?

Norman Ohler: Um DJ berlinense me disse uma vez que os nazistas tomavam grandes quantidades de drogas. Eu nunca tinha ouvido falar sobre isso antes. Mas o fato despertou meu interesse, achei que tinha um fundo de verdade e passei a frequentar o Arquivo Federal da Alemanha e os Arquivos Nacionais americanos em Washington e no estado de Maryland.

A primeira coisa que quis ver foram as anotações pessoais do médico de Hitler, Theodor Morell. Para a minha surpresa, essas anotações eram bastante elaboradas, descrevendo como ele havia tratado Hitler ao longo dos anos, inclusive coisas como "injeção como sempre" e "Eudokal", que é um forte opioide.

Era a mesma droga tomada pelos soldados?

Não, os soldados usavam Pervitin, um produto alemão patenteado em 1937 e que contém metanfetamina, o que é hoje conhecido como metanfetamina. Até 1939, esse produto esteve livremente disponível em forma de remédio.

Em Berlim, ela se tornou uma das drogas preferidas, como beber café para despertar o ânimo. As pessoas tomavam grandes quantidades de Pervitin. A companhia queria que ela se tornasse rival da Coca-Cola. Assim, as pessoas a ingeriam e ficavam eufóricas - um estado de espírito que combinava com o humor geral da população antes da guerra.

E como a droga foi descoberta pela Wehrmacht?

As Forças Armadas alemãs perceberam que existia uma droga no mercado que poderia ser de interesse dos soldados, já que Pervitin mantém acordado por um longo período de tempo. Durante os primeiros dias, nem é preciso dormir.

Foi usado pela primeira vez quando a Alemanha invadiu a região dos Sudetos e a Polônia, e em seguida quando a Alemanha atacou a França, em 1940, uma estratégia de guerra relâmpago. Antes do ataque, as forças nazistas encomendaram 35 milhões de comprimidos de Pervitin para os soldados na frente francesa.

Pervitin foi muito usado pelos nazistas. Hitler não o utilizava, ele aplicava esteroides na corrente sanguínea. E, mais tarde, usou Eukodal, produto farmacêutico que se aproxima da heroína.

Hitler adorava Eukodal. Especialmente no outono de 1944, quando a situação militar deteriorou, ele usou essa droga forte para fazê-lo eufórico, mesmo que não parecesse estar nenhum pouco nesse estado de espírito.

Os generais lhe diziam: "Precisamos mudar nossa tática. Precisamos acabar com isso. Vamos perder a guerra." E ele não queria escutar nada disso. Ele tinha o seu médico, Dr. Morell, que lhe dava medicamentos que o faziam se sentir invulnerável e senhor da situação.

Isso era sabido na Alemanha?

Ninguém sabia o que o médico dava a Hitler. Ele não contou a ninguém, e Hitler, com certeza, também não. Mas muitas pessoas suspeitavam que estava acontecendo alguma coisa estranha. Houve algumas tentativas de fazer com que Morell revelasse o que estava dando a Hitler, mas ele recusou. Era um segredo entre dois homens.

Mas os soldados tomavam abertamente Pervitin?

Que os soldados estavam tomando Pervitin não era nenhum segredo. A princípio, a Wehrmacht não percebeu que se tratava de uma droga; pensavam que era como tomar café. Mas, em 1941, isso foi proibido e declarado uma droga ilegal.

Nas Forças Armadas, no entanto, a distribuição continuou em segredo, mas os registros da campanha contra a Rússia não são tão claros como os da guerra contra a França, onde é possível ver quantas pílulas foram distribuídas. Falei com um oficial militar médico que esteve em Stalingrado, que disse que Pervitin ainda era distribuído ali, mas que, basicamente, não fez nenhuma diferença.

Outras Forças Armadas também tomaram drogas semelhantes?

Eles acabaram descobrindo sobre as drogas alemãs, e os britânicos usavam anfetaminas. Basicamente, os alemães usaram a metanfetamina, e os britânicos utilizaram speed (anfetamina). Muito dos soldados americanos que se juntaram ao esforço de guerra entraram naquele cenário belicoso através do Reino Unido, onde recebiam anfetamina.

Os americanos tomavam a droga para poder concorrer com aqueles soldados alemães enlouquecidos. Isso fez escola entre os militares americanos: se você olhar para a Guerra da Coreia, em 1950, ela foi marcada pela anfetamina, e todos os pilotos estavam dopados.

O LSD, por exemplo, foi inventado por um químico suíço, e o serviço de inteligência americano tentou usá-lo, também com base em experimentos alemães no campo de concentração de Dachau, onde um médico chamado pelo nome de Plötner usava mescalina para desenvolver novas técnicas de interrogatórios.

Quando os americanos libertaram o campo de concentração, eles levaram esses estudos e os usaram no Projeto Alcachofra, utilizando-os na década de 1950 para descobrir quem era agente soviético ou não.

Qual foi para você a maior surpresa durante os muitos anos de pesquisa para esse livro?

Achei o abuso de drogas por parte de Hitler como a parte mais surpreendente.