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Ascensão de Trump preocupa imigrantes brasileiros

1.mar.2016 - Donald Trump acena para seus apoiadores em Louisville, Kentucky, na Superterça das primárias das eleições norte-americanas - Aaron P. Bernstein/Getty Images/AFP
1.mar.2016 - Donald Trump acena para seus apoiadores em Louisville, Kentucky, na Superterça das primárias das eleições norte-americanas Imagem: Aaron P. Bernstein/Getty Images/AFP

Mariana Santos, de Chicago

15/03/2016 18h06

Provável indicação do magnata como candidato republicano tem levado medo à comunidade brasileira e estimulado quem está apto a votar a ir às urnas. Ilegais temem promessa de deportação em massa.

No fim do ano passado, quando pesquisas de opinião já apontavam Donald Trump à frente na corrida pela candidatura republicana à Casa Branca, a brasileira Luciana Torgoman, de 33 anos, resolveu tentar fazer algo para barrar as pretensões do bilionário. Um ano após estar apta a pedir a cidadania norte-americana, ela finalmente deu entrada no processo e agora aguarda o documento chegar a tempo de fazer o registro e ir às urnas no dia 8 de novembro. A ideia é uma só: votar contra Trump.

"Ele é racista, louco e despreparado. Um pesadelo para qualquer imigrante, com essa visão ignorante de que eles estão aqui para roubar empregos", afirma a consultora em gestão, que vive em Chicago há seis anos.

A administradora de empresas Dayana Voss, de 30 anos, amiga de Luciana, também está animada sobre participar do pleito presidencial neste ano e ser mais uma voz contra Trump. "Ele não pode ganhar, seria um desastre. Ele iria acabar com tudo o que o Obama construiu nos últimos anos, especialmente nas relações internacionais", avalia a baiana, que nesta terça-feira (15), pela primeira vez, votou nas primárias no Estado de Illinois.

A ascensão de Donald Trump na eleição presidencial deste ano vem preocupando não apenas a comunidade brasileira que vive nos EUA, estimada em 1,3 milhão de pessoas, mas os latinos de maneira geral. Em junho do ano passado, o polêmico bilionário declarou que o México manda para os Estados Unidos pessoas "com problemas", que trazem "drogas e criminalidade" ao país, além de "estupradores".

Logo após o episódio, grupos latinos intensificaram atividades de conscientização sobre a importância do voto na defesa dos interesses da comunidade. O diretor-executivo da organização Mi Familia Vota, Ben Monterroso, conta que campanhas lançadas há alguns meses tentam estimular o registro de eleitores de origem latina nestas eleições.

Enquanto 27 milhões deles estão aptos a votar neste ano nos EUA, Monterroso calcula que apenas metade está registrada para participar das eleições norte-americanas, nas quais o voto não é obrigatório.

"Neste ano temos algo inédito: nunca havíamos sido tão atacados por um partido político como agora", destaca Monterroso, referindo-se ao Partido Republicano. "Nossos desafio é fazer com que os latinos entendam que o voto deles importa".

Medo de deportações

Há nove anos, a diarista Selma Nunes deixou a pequena Chonin de Baixo, em Minas Gerais, e mudou-se com as duas filhas para os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor para a família. Apesar de estar ilegal em Boston, Selma garante que paga os impostos, e sonha, um dia, regularizar sua situação.

Sem documentação de residente, a filha mais velha, hoje com 19 anos, teve que largar a faculdade de Engenharia Civil por não ter dinheiro para bancar o curso. "Sem os 'papéis', ela tinha que pagar mil dólares por matéria, enquanto um norte-americano paga 300 dólares. Ficou muito caro", explica Selma, contando que a filha hoje trabalha numa creche.

O avanço de Trump, porém, ameaça não só a tentativa dos Nunes de se regularizarem, mas amplia o risco de que a família toda tenha que deixar os EUA. Além da promessa de construir um muro na fronteira com o México e de enviar a conta ao governo do país vizinho, o pré-candidato também afirma que, se eleito, vai deportar os cerca de 11 milhões de imigrantes atualmente ilegais no país.

A diarista afirma estar com medo de se ver obrigada a voltar para o Brasil, onde teria que começar do zero: "Não temos estrutura lá, minhas filhas foram criadas aqui. Vai ser muito difícil se isso acontecer."

Repúdio a imigrantes

"Se mandarem os imigrantes embora, como Trump propõe, muitos restaurantes vão ficar vazios, por exemplo. Não vai ter quem atenda", argumenta o desenvolvedor web Francisco Malafaia, 39.

Para o brasileiro, Trump chegou tão longe por tocar no "orgulho norte-americano". "Os norte-americanos têm um certo complexo com imigrantes, e essa postura do Trump só aumenta o repúdio", avalia Malafaia, que vive nos EUA há dois anos.

Luciana também ressalta que a ascensão do magnata entre os republicanos revela uma xenofobia presente em várias partes dos Estados Unidos. Com Trump, ela diz, essas pessoas se sentem "à vontade para se expressar".

Para quem vive nos Estados onde a retórica antimigratória encontra mais eco, o temor é ainda mais latente. Moradora de Houston, no Texas (Estado considerado reduto republicano), a consultora de vistos Silvana Shelton, de 43 anos, acredita que muitos norte-americanos estejam apoiando Trump por associarem a criminalidade na fronteira aos imigrantes.

Ela não esconde a preocupação. "O medo é que ele seja desequilibrado e passe a perseguir imigrantes, tratando todo mundo como criminoso", afirma Silvana.