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Suspeito do assassinato de repórteres nos EUA alegou motivos raciais

27/08/2015 01h43

Washington, 26 ago (EFE).- Vester Lee Flanagan, o suspeito de ter matado dois jornalistas a tiros na manhã desta quarta-feira, durante uma entrevista transmitida ao vivo, alegou ter sido vítima de discriminação racial, algo negado por seus ex-companheiros e ex-empregadores.

Em um documento de 23 páginas enviado por fax à emissora "ABC" após o ataque desta manhã, Flanagan, conhecido como Bryce Williams nos meios de comunicação, afirmou que sua ira "estava crescendo pouco a pouco" por causa de supostos casos de discriminação racial e assédio sexual.

Alison Parker, uma jovem jornalista de 24 anos, e Adam Ward, seu cinegrafista de 27, ambos brancos, morreram hoje em plena transmissão ao vivo para o canal local da Virgínia "WDBJ7", filial da "CBS", após serem baleados por Flanagan.

Flanagan, que tinha sido despedido há dois anos pela emissora, iniciou depois uma fuga de mais de cinco horas na qual finalmente disparou contra si mesmo quando se sentiu encurralado pelas autoridades, morrendo mais tarde no hospital.

Em sua mensagem à "ABC", Flanagan assegura ter sido assediado no trabalho por ser negro e homossexual, e expressa sua admiração pelos autores de massacres nos EUA como o da escola de Columbine em 1999 e o da Virgínia Tech em 2007, cujo autor, o coreano Seung-hui Cho, diz ter conhecido.

Além disso, Flanagan indica como "detonante" de seus atos o tiroteio que aconteceu no último dia 17 de junho em Charleston (Carolina do Sul) no qual um jovem branco assassinou nove fiéis de uma igreja negra com o objetivo de iniciar uma "guerra racial".

"O tiroteio na igreja foi o ponto final, mas minha ira cresceu ao longo do tempo. Fui um barril de pólvora humano durante muito tempo... só esperando para fazer BOOM!", afirmou o repórter no documento divulgado pela "ABC".

A emissora também informou que um homem que dizia ser Bryce Williams (nome usado por Flanagan) estava ligando para o canal durante as últimas semanas dizendo que tinha uma história a contar, mas sem nunca dizer do que se tratava exatamente.

Nesta manhã, cerca de duas horas depois do ataque, a "ABC" recebeu o fax e logo depois uma ligação de Flanagan na qual admitia ter disparado contra os dois jornalistas.

No documento, que o próprio autor classifica como uma "nota de suicídio para os amigos e a família", Flanagan insiste em repetidas ocasiões que sofreu ao longo de sua vida por ter sido atacado por homens e mulheres brancos por sua condição de negro e homossexual.

Dan Dennison, diretor de notícias da "WBDJ7" quando Flanagan foi contratado em 2012 e também quando foi despedido um ano depois, disse à emissora americana "CNN" que a demissão foi motivada por seu comportamento, e que no dia em que lhe comunicou, tiveram que chamar a polícia para levá-lo para fora do edifício.

"Quase desde o primeiro dia apresentou várias queixas contra seus companheiros. Após muitas investigações tanto internas como externas, todas estas acusações se demonstraram infundadas. Eram supostos casos, em sua maioria, de discriminação racial, mas não encontramos nenhuma prova que ninguém tivesse discriminado este homem por sua raça", relatou Dennison.

Os meios de comunicação americanos falaram ao longo do dia de hoje com vários ex-companheiros de Flanagan, que em sua maioria concordaram em assinalar que era uma pessoa "com quem era difícil trabalhar".

Em sua conta no Twitter, Flanagan acusou a repórter a quem assassinou esta manhã, Alison Parker, de ter "realizado comentários racistas", e o cinegrafista, Adam Ward, de "ter ido à área de recursos humanos" após trabalhar com ele em uma ocasião.

No entanto, o diretor-geral da emissora, Jeff Marks, explicou que Flanagan e Parker não chegaram a trabalhar para o canal de televisão ao mesmo tempo, uma vez que ela foi contratada após sua demissão.

Já Ward, que trabalhou na emissora ao mesmo tempo que Flanagan, foi o responsável de filmar a chegada da polícia ao edifício da televisão no dia da demissão do repórter.

O histórico de Flanagan por questões raciais é longo, e no ano 2000 apresentou uma denúncia contra outra rede de televisão para qual tinha trabalhado, a "WTWC-TV" de Tallahassee (Flórida), por suposta discriminação racial depois que a emissora decidiu não renovar seu contrato.

Nesse caso, a "WTWC-TV" e Flanagan chegaram a um acordo amistoso fora dos tribunais em 2001.