Wálter Maierovitch

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Opinião

União Europeia: o jantar fatal

Um jantar informal nesta segunda feira (17) definirá a pretensão da alemã Ursula von der Leyen de receber um segundo mandato para continuar a dirigir a Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia.

A escolha competirá aos 27 líderes dos Estados-membros. Não é o Parlamento recém-eleito a escolher. Portanto, Von der Leyen não vai pode usar o cacife do PPE (Partido Popular Europeu), o mais votado, para reivindicar o cargo.

Volto a frisar: são os líderes, chefes de governo e Estado, a escolher a presidente da Comissão Europeia. E pesam as escolhas de Macron, Scholz, Meloni, o polaco Tusk, o grego Mitsotákis, o demissionário De Croo, etc.

Como disse o presidente francês Macron, que estará no jantar e lidera os liberais, "a discussão é feita entre os 27". Referia-se aos 27 Estados-membros da União Europeia.

Pelo resultado da recentíssima votação europeia, foram três os partidos vencedores: Popular Europeu, socialistas e liberais. Cada um desses partidos vencedores terá seu representante no informal jantar de escolha, que acontecerá em Bruxelas.

Trocando em miúdos, a faca será o talher mais importante do jantar. E a faca afiada estará com o francês Macron (liberal) e o alemão Olaf Scholz (socialista).

Entre os conservadores, uma divisão. É que na reunião do G7 na região italiana da Puglia, que terminou no último sábado (15), surgiu o nome do português António Costa, ex-premiê português, renunciante ao mandato lusitano após operação policial a envolver vendas de hidrogênio verde e lítio.

Fora Meloni

Giorgia Meloni foi a grande vencedora das eleições europeias na Itália. Mas o seu passado fascista e a ligação com a extremista francesa Marine Le Pen nunca são esquecidos entre europeus progressistas, democráticos e, principalmente, republicanos.

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Meloni liderou, nas eleições para o parlamento europeu, o partido ECR (European Conservatives and Reformits). Na pesquisa da última sexta-feira (14) na Itália, o seu governo teve mais de 50% de aprovação.

Esses conservadores do ECR, nascidos partidariamente em 2009 com a meta de reformar a União Europeia, aproximaram-se, por iniciativa de Meloni, de Ursula Von der Leyen.

A aproximação Meloni-Leyen não pegou bem, ao contrário do previsto inicialmente para essa dupla de mulheres políticas.

Em entrevista sobre análise do acontecido no G7, o chanceler alemão Scholz detonou Meloni. Sem papas na língua, disparou: Meloni representa a extrema direita.

Na interpretação dos especialistas europeus em política, Von der Leyen, diante do aviso de Scholz, deverá ficar bem longe da premiê italiana. Nada de composição para obter votos.

E Von der Leyen sabe que poderá ganhar com os votos dos líderes liberais, socialistas e conservadores, como, por exemplo, Macron.

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Por outro lado, Macron e Meloni são figadais adversários. Meloni está umbilicalmente ligada à francesa Marine Le Pen, a radical direitista que, nas pesquisas, está na frente como candidata ao Eliseu.

Macron x Meloni: aborto

Durante o G7 de Puglia, Macron trocou cotoveladas com Meloni, para usar uma linguagem política tirada das lutas marciais. O presidente francês lembrou que a França colocou na Constituição, como direito e garantia às mulheres, o aborto.

E lembrou para constar o tema aborto no relatório conclusivo do G7. Seria, como frisou Macron, algo a representar o prosseguimento das conclusões do relatório do G7 de Hiroshima (Japão).

Meloni é contra o aborto. Retrucou e afirmou não merecer o tema destaque, pois, conforme decidido em Hiroshima, os esforços seriam para a proteção e atendimento humanitário às mulheres.

No encontro do G7 estava, como convidado, o papa Francisco. Só que Bergoglio estava convidado para participar das discussões sobre inteligência artificial e evoluções tecnológicas.

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Como todos sabem, o papa Francisco é contra o aborto. Considera o aborto um crime de homicídio, com a agravante de se matar uma vítima sem culpa.

Na verdade, Macron, o grande perdedor das eleições europeias e que antecipou na França as eleições parlamentares de modo a polarizar (esquerda e centro contra a ultradireita de Le Pen), provocou Meloni de maneira a mostrar ser uma extremada direitista, ou seja, uma política a manter o seu passado de fascista.

Num pano rápido. O segundo mandato de Von der Leyen complicou-se embora tenha o seu partido (PPE) ganhado as eleições. A aproximação com Meloni, uma garantia do apoio do ECR e do voto no jantar de segunda-feira, foi tiro político a sair pela culatra. Macron e Scholz, unidos, poderão derrubar a reeleição da alemã Von der Leyen e eleger António Costa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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