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O vestuário africano do papa

A peça principal é uma elegante casula com estampa africana - Jéssica Martorell/Efe
A peça principal é uma elegante casula com estampa africana Imagem: Jéssica Martorell/Efe

Jéssica Martorell

Em Nairóbi

25/11/2015 15h52

Há dois meses, as máquinas de costura não descansam em um pequeno bairro de Nairóbi, onde dezenas de alfaiates trabalham lutando contra o tempo entre tecidos, fios e agulhas para vestir o papa Francisco durante sua estadia no Quênia, primeira etapa de sua visita ao continente africano.

Em uma humilde oficina de confecção em Kangemi, a irmã Ida Lagonegro, de 73 anos, supervisiona as tarefas deste grupo de costureiros que tem o "privilégio" de confeccionar roupas para o pontífice usar a partir desta quarta-feira (25), quando chegou à capital queniana.

A peça principal --e que provavelmente mais curiosidade desperta-- é uma elegante casula com estampa africana com a qual Francisco homenageará a herança de todo um continente.

"Tenho certeza de que ele gostará porque não é nada extravagante. É um símbolo da cultura, acredito que gostará", disse à Agência Efe irmã Ida na oficina, que fica muito perto de uma das igrejas que receberão o santo padre.

Sobre um fundo branco, a casula tem bordados coloridos com motivos feitos "com o mesmo material utilizado pelas mulheres masai para seus adornos", explicou a religiosa italiana que vive há 48 anos no Quênia.

Antes mesmo de o papa estrear a peça, um pároco italiano já entrou em contato com a oficina para pedir uma batina exatamente igual.

"Também elaboramos outra clássica, feita com fio de ouro" e uma alvorada decorada com a insígnia JHS (abreviatura do nome de Jesus) que o pontífice vestirá durante as missas.

Além disso, os mais de 30 costureiros de Kangemi --alguns deles contratados especialmente para a ocasião-- elaboraram duas mil estolas com a inscrição "Papa Francisco 2015" com uma cruz bordada com tela africana que todos os sacerdotes que participarem da visita papal usarão, assim como 560 alvoradas e 70 batinas.

Nas mesas de corte da oficina, os alfaiates arrematam todas estas peças --que começaram a ser elaboradas em meados de setembro-- e as passam para deixá-las impecáveis.

A irmã Ida supervisiona até o último detalhe desta importante encomenda, que avalia e considera como um lindo gesto do papa para com os quenianos.

Durante sua estadia, Francisco deve visitar o bairro Kangemi por cerca de uma hora, quando se encontrará com 1.400 pessoas.

"Estamos muito contentes que o papa venha. Há muitas paróquias em Nairóbi e em todo o Quênia, mas ele elegeu Kangemi. É um enorme privilégio. As pessoas estão mais do que emocionadas", disse a religiosa sem tentar disfarçar o orgulho.

A irmã Ida será uma das privilegiadas que poderá assistir a este encontro e conhecer pessoalmente o pontífice.

"Será um privilégio poder estar ali", afirmou, lembrando que em 1995 teve a oportunidade de conhecer o papa João Paulo 2º durante sua visita ao país.

Esta será a primeira vez que Francisco visitará a África, uma viagem muito esperada, reconheceu ele mesmo, e onde uma agenda repleta de atos o aguarda.

Além de visitar Kangemi, o papa oficiará uma missa no campus da universidade pública e terá um encontro com membros do clero, religiosos e seminaristas.

Após três dias em Nairóbi, o papa viajará a Uganda e terminará seu tour pela África na República Centro-Africana, onde, entre outros eventos, terá um encontro com a comunidade muçulmana em uma mesquita da capital, Bangui.