Rússia declara guerra a caixas-incubadoras para crianças abandonadas
Ignacio Ortega.
Moscou, 26 ago (EFE).- O Parlamento da Rússia e a Igreja Ortodoxa se aliaram ao declarar guerra às caixas-incubadoras instaladas em hospitais, que salvam anualmente a vida de dezenas de crianças indesejadas, segundo seus defensores.
"O Estado não pode promover o abandono de crianças. As 'baby-box' (caixas-incubadoras) não são outra coisa que um estímulo para a rejeição de recém-nascidos", afirmou Yelena Mizulina, presidente do Comitê para Família, Mulheres e Crianças da Duma, a Câmara dos Deputados russa.
Mizulina, conhecida por controvertidas iniciativas como a lei contra a propaganda homossexual, concentra suas forças agora contra essa prática, comum em países como Alemanha e Japão, mas que na Rússia só tem cinco anos de existência.
A política apresentou na Duma um projeto de lei para proibir essas incubadoras que poderia ser aprovado já este ano, ao mesmo tempo que exigiu da Procuradoria que comprove a legalidade das já existentes.
Paradoxalmente, a famosa deputada apoiou então fervorosamente a introdução de incubadoras, dada a grande quantidade de crianças abandonadas em plena rua na Rússia, mas agora mudou de ideia.
"A prática em todos os países demonstra inequivocamente que o número de abandonos aumentou de maneira drástica", destacou, lembrando que a própria ONU também se pronunciou contra essa prática, que tem sua origem na Idade Média e que foi abandonada pelos czares no século XIX por seu alto custo.
Seu principal argumento é que o anonimato torna impossível controlar os que recorrem a essas incubadoras, entre os quais poderia haver desde redes criminosas de tráfico de crianças até maridos contrariados.
A deputada conta com o apoio da Igreja, que considera que essa prática é uma arma a mais na guerra amoral declarada pelo Ocidente para "destruir" a instituição familiar neste país.
Também se pronunciou na mesma linha o titular da Defensoria do Menor, Pavel Astajov, que destacou que o número de crianças nos orfanatos caiu notavelmente devido ao aumento da adoção, mas, por outro lado, se duplicou a compra e venda de recém-nascidos.
No outro lado da linha está Yelena Kotova, presidente da fundação Berço de Esperança, que administra as 17 incubadoras que funcionam atualmente na Rússia.
"Instalamos a primeira delas na região de Perm (Urais), para o que contamos com o apoio unânime das autoridades e dos representantes de todas as confissões religiosas: ortodoxos, católicos, judeus e muçulmanos", declarou Kotova à Agência Efe.
Kotova lembrou que "a Constituição garante o direito à vida" e que se existem as caixas-incubadoras é porque o Estado não cumpre sua parte do trato e, além disso, as infratoras são mandadas para a prisão.
"As mães não sabem aonde ir e por isso abandonam as crianças. Têm medo da máquina estatal. O ser humano não é perfeito. Existe o direito ao erro. Nossas incubadoras salvam vidas", ressaltou.
Kotova estima que cerca de 20 crianças russas são colocadas todo mês nessas incubadoras e só "em casos extremos" os bebês morreram.
"No total, nestes cinco anos, 42 dessas crianças foram adotadas e oito puderam ser reunidas com suas famílias originais, seis com suas mães e outras duas com suas avós", afirmou.
Uma análise genética é suficiente para que a mãe possa recuperar seu filho nos tribunais, caso admita seu erro e demonstre que pode cuidar da criança.
A incubadora não pode ser aberta do lado de fora, já que, depois que a criança é colocada, a caixa se fecha depois de 30 segundos, quando é acionado automaticamente o sistema de calefação e ventilação, e um alarme alerta os funcionários do hospital.
"Antes as crianças eram abandonadas em parques ou portas. Os piores são os contêineres de lixo. Isso significa a morte certa para o bebê", disse à imprensa um médico de emergência na região de Krasnoda.
Assim que o médico encontra uma criança na incubadora, onde não existem câmeras de vigilância para garantir o anonimato, deve avisar imediatamente à Polícia.
"A criança não tem culpa de nada. Não pode pedir ajuda ou escapar. Fica onde a deixam, inclusive na intempérie no inverno", ressaltou Kotova, cujo trabalho foi qualificado de "positivo" pelo próprio Comitê de Instrução da Rússia, adscrito ao Kremlin.
Sua fundação não se limita a salvar crianças abandonadas, uma vez que também abriu mais de 200 centros de ajuda para receber grávidas e mulheres que não podem cuidar de seus filhos.
Kotova admite que esses "berços de emergência" não são a solução ao problema, mas insiste que a única alternativa seria uma lei que permitisse às mulheres realizar partos anônimos em hospitais sem consequências penais.
Moscou, 26 ago (EFE).- O Parlamento da Rússia e a Igreja Ortodoxa se aliaram ao declarar guerra às caixas-incubadoras instaladas em hospitais, que salvam anualmente a vida de dezenas de crianças indesejadas, segundo seus defensores.
"O Estado não pode promover o abandono de crianças. As 'baby-box' (caixas-incubadoras) não são outra coisa que um estímulo para a rejeição de recém-nascidos", afirmou Yelena Mizulina, presidente do Comitê para Família, Mulheres e Crianças da Duma, a Câmara dos Deputados russa.
Mizulina, conhecida por controvertidas iniciativas como a lei contra a propaganda homossexual, concentra suas forças agora contra essa prática, comum em países como Alemanha e Japão, mas que na Rússia só tem cinco anos de existência.
A política apresentou na Duma um projeto de lei para proibir essas incubadoras que poderia ser aprovado já este ano, ao mesmo tempo que exigiu da Procuradoria que comprove a legalidade das já existentes.
Paradoxalmente, a famosa deputada apoiou então fervorosamente a introdução de incubadoras, dada a grande quantidade de crianças abandonadas em plena rua na Rússia, mas agora mudou de ideia.
"A prática em todos os países demonstra inequivocamente que o número de abandonos aumentou de maneira drástica", destacou, lembrando que a própria ONU também se pronunciou contra essa prática, que tem sua origem na Idade Média e que foi abandonada pelos czares no século XIX por seu alto custo.
Seu principal argumento é que o anonimato torna impossível controlar os que recorrem a essas incubadoras, entre os quais poderia haver desde redes criminosas de tráfico de crianças até maridos contrariados.
A deputada conta com o apoio da Igreja, que considera que essa prática é uma arma a mais na guerra amoral declarada pelo Ocidente para "destruir" a instituição familiar neste país.
Também se pronunciou na mesma linha o titular da Defensoria do Menor, Pavel Astajov, que destacou que o número de crianças nos orfanatos caiu notavelmente devido ao aumento da adoção, mas, por outro lado, se duplicou a compra e venda de recém-nascidos.
No outro lado da linha está Yelena Kotova, presidente da fundação Berço de Esperança, que administra as 17 incubadoras que funcionam atualmente na Rússia.
"Instalamos a primeira delas na região de Perm (Urais), para o que contamos com o apoio unânime das autoridades e dos representantes de todas as confissões religiosas: ortodoxos, católicos, judeus e muçulmanos", declarou Kotova à Agência Efe.
Kotova lembrou que "a Constituição garante o direito à vida" e que se existem as caixas-incubadoras é porque o Estado não cumpre sua parte do trato e, além disso, as infratoras são mandadas para a prisão.
"As mães não sabem aonde ir e por isso abandonam as crianças. Têm medo da máquina estatal. O ser humano não é perfeito. Existe o direito ao erro. Nossas incubadoras salvam vidas", ressaltou.
Kotova estima que cerca de 20 crianças russas são colocadas todo mês nessas incubadoras e só "em casos extremos" os bebês morreram.
"No total, nestes cinco anos, 42 dessas crianças foram adotadas e oito puderam ser reunidas com suas famílias originais, seis com suas mães e outras duas com suas avós", afirmou.
Uma análise genética é suficiente para que a mãe possa recuperar seu filho nos tribunais, caso admita seu erro e demonstre que pode cuidar da criança.
A incubadora não pode ser aberta do lado de fora, já que, depois que a criança é colocada, a caixa se fecha depois de 30 segundos, quando é acionado automaticamente o sistema de calefação e ventilação, e um alarme alerta os funcionários do hospital.
"Antes as crianças eram abandonadas em parques ou portas. Os piores são os contêineres de lixo. Isso significa a morte certa para o bebê", disse à imprensa um médico de emergência na região de Krasnoda.
Assim que o médico encontra uma criança na incubadora, onde não existem câmeras de vigilância para garantir o anonimato, deve avisar imediatamente à Polícia.
"A criança não tem culpa de nada. Não pode pedir ajuda ou escapar. Fica onde a deixam, inclusive na intempérie no inverno", ressaltou Kotova, cujo trabalho foi qualificado de "positivo" pelo próprio Comitê de Instrução da Rússia, adscrito ao Kremlin.
Sua fundação não se limita a salvar crianças abandonadas, uma vez que também abriu mais de 200 centros de ajuda para receber grávidas e mulheres que não podem cuidar de seus filhos.
Kotova admite que esses "berços de emergência" não são a solução ao problema, mas insiste que a única alternativa seria uma lei que permitisse às mulheres realizar partos anônimos em hospitais sem consequências penais.
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