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Mundo está cego e surdo perante as tragédias humanas, diz chefe de órgão da ONU

Kathy Seleme

Em Beirute

09/03/2018 14h00

O comissário do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), FilippoGrandi, afirmou nesta sexta-feira (9) à Agência Efe que o mundo "está ficando cego e surdo perante as tragédias humanas", como a que está ocorrendo em Ghouta Oriental, o principal reduto dos rebeldes nos arredores de Damasco, na Síria.

Grandi, que terminou hoje uma visita de três dias ao Líbano, insistiu que Ghouta [onde as forças do governo estão imersas numa ofensiva] é "símbolo do fracasso da solução militar" e enfatizou que "as organizações humanitárias estão fazendo o máximo para pôr fim à colossal tragédia humana que ocorre na Síria".

"Mas hoje o mundo está ficando cego e surdo perante as tragédias humanas. Antes, as coisas mudavam quando as pessoas viam imagens de gente morta e de destruições, mas atualmente se tornou uma rotina. Ou seja, a lógica militar prevalece sobre a lógica política."

Apesar da insensibilidade mostrada pela comunidade internacional, o responsável do Acnur insistiu que continuarão "contando ao mundo as consequências do medo, do terror, do sofrimento e da fome que a guerra provoca".

"Conheci o país antes (da guerra) e parte o coração ver como agora está. As pessoas estão comendo mato. Eu vi em Yarmouk, Homs, Aleppo e agora em Ghouta" declarou.

Prestes a completar sete anos de guerra civil, Grandi disse que a situação política é mais complicada, atualmente, "pelo número dos atores que intervêm no conflito". 

siria - Ghouta Media Center via AP - Ghouta Media Center via AP
Imagem de pai se despedindo de filho morto vira retrato dos bombardeios do governo sírio em Ghouta
Imagem: Ghouta Media Center via AP


Desde 25 de fevereiro, Ghouta Oriental é palco de uma ofensiva terrestre do Exército sírio e dos seus aliados, que foi precedida de um aumento dos bombardeios feitos pelas aviações síria e russa, e de disparos de artilharia realizados por forças governamentais. Todas essas ações já cobraram a vida de quase 1.000 civis, conforme o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

"Tudo o que vimos nestes últimos meses mostra como a complexidade deste conflito faz com que a sua solução seja mais difícil. Da nossa parte, continuaremos ajudando os civis", concluiu.

Em comunicado divulgado hoje, o Acnur apontou que nestes sete anos de disputa, centenas de milhares de pessoas perderam a vida, enquanto 6,1 milhões se deslocaram dentro da Síria e 5,6 milhões buscaram refúgio em outros países. A agência da ONU considerou que as condições enfrentadas pelos os civis que permanecem no território sírio são "as piores do que nunca", já que 69% enfraquece pela pela pobreza extrema.

Ao todo, 90% das famílias gastam mais da metade da renda que têm no ano em comida num país onde os preços dos alimentos é oito vezes maior do que antes da guerra. Além disso, 5,6 milhões de pessoas vivem em condições que representam uma ameaça para as suas vidas em termos de segurança e direitos básicos ou padrões de vida, e precisam de assistência humanitária de forma urgente, segundo o texto.