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Ruanda exumou mais de 18 mil corpos de vítimas de genocídio desde abril

20.jul.1994 - Foto de arquivo mostra vala comum onde vários corpos foram colocados após guerra entre hutus e tutsis, em Ruanda - Corinne Dufka/Arquivo Reuters
20.jul.1994 - Foto de arquivo mostra vala comum onde vários corpos foram colocados após guerra entre hutus e tutsis, em Ruanda Imagem: Corinne Dufka/Arquivo Reuters

Da EFE, em Kigali (Ruanda)

19/09/2018 08h56

O número de corpos recuperados de valas comuns durante o genocídio de 1994 em Ruanda já ultrapassou os 18 mil nos últimos cinco meses, confirmou nesta quarta-feira a federação de associações de sobreviventes Ibuka.

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O programa de busca em valas comuns e de exumações começou em 11 de abril depois que um acusado de participar do genocídio revelou a localização das fossas. Até agora, foram extraídos 18.529 corpos, explicou por telefone à Agência Efe um responsável da Ibuka, Theogene Kabagambire.

Durante este período, foram descobertas 41 valas comuns na zona da capital, Kigali, distribuídas nos distritos de Rusororo e Gasabo.

"Na cidade de Kabeza, do setor de Rusororo, foram demolidas três casas depois das pistas recebidas. Encontramos vinte valas comuns sobre as quais as casas tinham sido construídas. Debaixo de uma, havia oito fossas, enquanto as outras estavam sobre sete e cinco, respectivamente", revelou Kabagambire.

Segundo as informações recebidas, a Ibuka esperava encontrar entre 15 mil e 25 mil vítimas.

"Todas as pessoas que nos deram informações sobre a existência das valas comuns tinham razão, menos uma", apontou o dirigente da associação.

Se não for possível arrumar um local para a realização de um funeral decente aos mortos, a Ibuka planeja fazer durante as comemorações do 25° aniversário do genocídio, que serão realizadas no ano que vem.

A descoberta destes milhares de corpos, segundo esta organizaão, é um "revés" para as iniciativas que buscavam unir os ruandeses, já que, apesar das fossas encontradas em zonas residenciais, as pessoas não revelaram essa informação por 24 anos.

Kigali e os bairros periféricos foram alguns dos palcos mais sangrentos do genocídio, pois destacaram-se como uma das últimas fortificações das milícias hutus antes que as forças da Frente Patriótica Ruandesa (RPA, em inglês) entrassem para libertar essas zonas.

O massacre de 1994 supôs o extermínio de entre 20% e 40% da população de Ruanda, então o país mais densamente habitado da África, com sete milhões de habitantes.

O 70% das vítimas mortais foram tutsis, assassinados por extremistas hutus após a morte do presidente ruandês, Juvenal Habyarimana, quando o avião no qual viajava foi derrubado o 6 de abril de 1994 pouco antes de aterrissar no aeroporto de Kigali.

O assassinato de Habyarimana (da etnia hutu, majoritária em Ruanda), morto junto ao presidente de Burundi, Cyprien Ntaryamira, que o acompanhava, foi massacre coletivo iniciado por hutus radicais e ainda hoje dia continua sendo um mistério.