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Ex-presidente do Peru afirma que caso Odebrecht destruiu sua reputação

15/04/2019 19h51

Lima, 15 abr (EFE).- O ex-presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), afirmou nesta segunda-feira que os promotores que o investigam por suposta lavagem de dinheiro destruíram sua reputação e puseram em perigo sua saúde ao não permitir que viajasse para os Estados Unidos para um tratamento médico.

Durante a audiência judicial de apelação à detenção por dez dias na qual permanece desde quarta-feira passada, Kuczynski reiterou novamente sua inocência e a da sua secretária Gloria Kisic e de seu motorista José Luis Bernaola, que também estão detidos.

"Não tenho conta bancária. O meu cartão de crédito estrangeiro foi cortado pela má publicidade que me deram. Destruíram minha reputação de 60 anos de trabalho", afirmou Kuczynski.

"Realmente me dá vergonha ter sido presidente de um país onde chegamos a estes níveis. Realmente me faz chorar no meu coração ver isto com minha idade", acrescentou o ex-presidente, de 80 anos.

Kuczynski criticou que a argumentação do Ministério Público para detê-lo seja uma cópia do relatório da comissão parlamentar sobre o braço peruano da Operação Lava Jato dirigida pelo opositor partido fujimorista Força Popular, o mesmo que lhe forçou a renunciar diante de uma ameaça de destituição por parte do Congresso.

O ex-governante peruano assegurou que não existe nenhum perigo de fuga apesar de pesar sobre ele um impedimento de saída do país desde que deixou a chefia do Estado.

Nesse sentido, indicou que durante esse período pediu permissão para viajar aos Estados Unidos para comparecer a uma revisão rotineira de uma válvula artificial que lhe colocaram anteriormente em uma clínica de Minnesota.

"Pedi permissão e não me deram. No final, o exame foi feito aqui, mas terei que ir à clínica em algum momento, porque senão serei um cadáver", acrescentou.

Kuczynski contou que atualmente está "sem fundos" porque suas contas foram congeladas depois que a Unidade de Inteligência Financeira (UIF) revelou um pagamento à Superintendência Nacional de Alfândegas e de Administração Tributária (Sunat) de 822.000 soles em impostos no último dia do seu mandato presidencial.

"Paguei meus impostos como todos deveríamos fazer. A UIF considerou isso como se fosse uma transação suspeita. Que vergonha que alguém seja acusado por pagar os seus impostos!", alegou Kuczynski.

"Não há nada oculto. Tudo foi declarado. Tudo passou pelo banco. Nada foi escondido. O Ministério Público teve acesso às contas bancárias", completou.

"Espero que me deixem em liberdade. Se houver uma convocação amanhã, eu espero vir da minha casa como fiz tantas vezes. Estaremos presentes todas as vezes que forem necessárias", concluiu.

Kuczynski é um dos quatro ex-presidentes peruanos acusados no caso Odebrecht, que pagou subornos em uma dúzia de países da América Latina, e que, no caso do Peru, estiveram acompanhados de doações irregulares às campanhas eleitorais dos principais candidatos à presidência.

A investigação contra Kuczynski se centra em seu trabalho como ministro do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), também acusado por supostamente ter recebido US$ 20 milhões em subornos da construtora brasileira pela concessão da estrada interoceânica do sul.

Os promotores tentam averiguar se as consultorias que Kuczynski cobrou da Odebrecht, através da sua empresa Westfield Capital, entre 2004 e 2007, foram supostamente pagamentos em troca de contraprestações da administração pública.

A revelação destes vínculos com a Odebrecht provocou em março de 2018 sua saída da poltrona presidencial diante da pressão do fujimorismo, que também denunciou uma suposta compra de votos de parlamentares para tentar evitar sua destituição. EFE