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Sínodo da Igreja Católica termina com abertura para divorciados, mas sem mudança para gays

Gregorio Borgi/AP
Imagem: Gregorio Borgi/AP

Philip Pullella

No Vaticano

24/10/2015 16h48Atualizada em 24/10/2015 19h11

Bispos católicos romanos concordaram no sábado (24) em uma abertura restrita para divorciados que se casaram novamente fora da Igreja Católica, mas rejeitaram pedidos de adoção de uma linguagem mais acolhedora em relação aos homossexuais.

O resultado de um encontro de três semanas, no Vaticano, conhecido como sínodo e presidido pelo papa Francisco, marcou uma vitória para os conservadores na questão homossexual e para os progressistas sobre a espinhosa questão do novo casamento.

O documento final do sínodo reafirmou os ensinamentos da Igreja de que os gays não devem sofrer discriminação na sociedade, mas também repetiu a posição de que "não há qualquer fundamento" para o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que "não pode nem mesmo remotamente" ser comparado a uniões heterossexuais.

"Não foi dada a bênção aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, nem permitida a comunhão aos casados em segunda união, mas uma série de chamadas de atenção para casos específicos, recomendações para a acolhida e a integração de pessoas em situações que poderiam ser consideradas irregulares implicam numa posição de amor e acolhida a todos muito mais forte e precisa. O que fica claro é a vitória da posição que Francisco apresenta, não tanto como discurso, mas sim como postura: as normas aparentemente são pouco mudadas, mas existe uma renovação da Igreja a partir do amor e da acolhida", comenta Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

O documento indica que a assembleia decidiu evitar uma linguagem abertamente controversa e buscar o consenso, a fim de evitar impasse sobre os temas mais sensíveis, deixando para o papa lidar com os detalhes.

O sínodo é um órgão consultivo que não tem o poder de alterar a doutrina da Igreja. O papa, que é o árbitro final sobre qualquer alteração e que fez um apelo por uma Igreja mais misericordiosa e inclusiva, pode usar o material para escrever seu próprio documento, conhecido como um "exortação apostólica".

Divorciados

O documento do sínodo, por outro lado, ofereceu alguma esperança para a plena reintegração à Igreja de alguns católicos que se divorciaram e se casaram novamente em cerimônias civis.

Sob a doutrina atual da Igreja, eles que não podem receber a comunhão, a menos que se abstenham de ter relações sexuais com seu novo parceiro, porque seu primeiro casamento ainda é válido aos olhos da Igreja e eles são vistos como vivendo em pecado do adultério.

A única maneira para que esses católicos possam casar novamente é se receberem a anulação --decisão de que seu primeiro casamento nunca existiu em primeiro lugar por causa da falta de determinados pré-requisitos, como a maturidade psicológica ou livre arbítrio.

O documento fala de um chamado "foro interno", em que um sacerdote ou um bispo pode trabalhar com um católico que se divorciou e casou-se novamente para decidir conjuntamente, em particular e caso a caso, se ele ou ela podem ser totalmente reintegrados.

"Para que isso aconteça, as condições necessárias de humildade, discrição, amor à Igreja e seus ensinamentos devem ser garantidas em uma busca sincera da vontade de Deus", disse o documento.