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La Niña seguirá pesando sobre vendas de varejistas de vestuário no 4º tri

09/11/2016 12h38

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O efeito negativo do clima mais frio nos resultados de varejistas de vestuário no terceiro trimestre arrisca perdurar no desempenho nos próximos meses, conforme o fenômeno La Niña tende a manter uma temperatura mais amena ante 2015 e a reduzir a duração dos períodos mais quentes.

Em um setor já bastante afetado pelo persistente cenário recessivo da economia brasileira, graus a menos podem ser um fator negativo adicional, com coleções voltadas para o verão já nas prateleiras.

De acordo com o meteorologista Celso Oliveira, da Somar Meteorologia, o fenômeno La Niña, que esfria a água do oceano Pacífico, influencia a ocorrência de mais frentes frias este ano e reduz as janelas de calor.

No ano passado, o El Niño, que aquece as águas do Pacífico, corroborou um verão mais quente, mais abafado, o que não acontece neste ano, afirmou. Em outubro, houve sete frentes frias, conta cinco no mesmo mês de 2015, detalhou.

De acordo com Oliveira, o cenário é de continuidade desse fenômeno. Não necessariamente o verão todo será com temperaturas mais amenas, mas o calor não acontecerá de forma prolongada, teremos pouquíssimas janelas de calor, disse.

"Nas últimas semanas temos observado uma grande oscilação de temperatura, até tem feito calor, mas ele não dura...isso é o que incomoda o consumidor", acrescentou Oliveira.

"É fato que esta primavera está mais fria do que em anos anteriores, o que é prejudicial", disse o diretor-executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), Edmundo Lima, ponderando, contudo, que o setor aguarda melhora à frente.

Ele reconheceu que se houvesse uma temperatura que auxiliasse na comercialização, poderia haver impacto no resultado, mas acrescentou que não acredita que o mau tempo possa durar todo o período de primavera e verão.

Ao comentarem resultados de terceiro trimestre, executivos da Lojas Renner citaram a temperatura mais baixa como parte da razão para o desempenho fraco nas vendas entre julho e setembro, que tiveram o primeiro recuo anual no conceito mesmas lojas desde 2009.

Os executivos ponderaram, contudo, que, após uma "anormalidade em setembro e outubro (em relação à temperatura)", as vendas já começaram a se mostrar mais favoráveis, conforme o clima se normalizava.

A Marisa Lojas também destacou que o período demasiado longo de temperaturas baixas foi uma das influências negativas nas vendas, que tiveram no terceiro trimestre recuo anual de 18,5 por cento no quesito mesmas lojas.

"Mesmo após a virada de coleção, a demanda por produtos mais leves permanecia incipiente", escreveu a companhia na divulgação do balanço.

MARGENS

Na visão de um analista do setor, que pediu para não ter o nome citado, o efeito das temperaturas nas vendas do terceiro trimestre acendeu uma luz amarela para o setor de varejo de vestuário à frente no que diz respeito à margem bruta.

"No caso de o clima não ajudar, há um impacto subsequente em margem bruta", afirmou, uma vez que pode haver um excesso de estoque que precisará ser liquidado.

Para Lima, da ABVTEX, a temperatura não deve ser fator preponderante no resultado do setor, uma vez que ele avalia essa questão como temporária.

Ao mesmo tempo, ele destaca que os varejistas têm adotado uma atitude bem conservadora para as vendas do fim do ano, com o consumidor ainda arredio. Ele citou que as companhias do setor estão fazendo planejamento mais ajustado para estoques, o pode ajudar a mitigar alguma fraqueza em vendas.

Executivos da Lojas Renner citaram no final de outubro que o bom controle de estoques no terceiro trimestre deve garantir a manutenção do nível de margem bruta estável neste trimestre na base anual.