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Oposição a Peña Nieto deve ser inteligente e democrática, e não violenta

Milhares de pessoas marcham na Cidade do México contra Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que ganhou as eleições - Bernardo Montoya/Reuters
Milhares de pessoas marcham na Cidade do México contra Enrique Peña Nieto, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que ganhou as eleições Imagem: Bernardo Montoya/Reuters

Jorge Ramos

05/09/2012 00h01

Vale a pena queixar-se. Vale a pena não concordar com a decisão do Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação, que se negou a invalidar a eleição presidencial de 1º de julho no México. Vale protestar e resistir. E vale buscar todas as formas possíveis para se opor ao priista Enrique Peña Nieto. Mas é preciso fazê-lo de uma maneira não violenta, inteligente, democrática e exemplar.

Aos olhos de milhões de mexicanos, o tribunal decidiu que sim, pode-se ganhar com fraude uma eleição presidencial no México, e assim deu a Peña Nieto a vitória nas últimas eleições. O problema é que a decisão não esclareceu muitas suspeitas que ainda restam sobre a imparcialidade e legitimidade do processo. Isso deixou o México dividido.

O presidente do tribunal, José Alejandro Luna, disse que "se considera juridicamente improcedente acolher a pretensão da coalizão [o Movimento Progressista] de anular as eleições".

Em uma decisão unânime, os sete magistrados do tribunal ditaram que não havia evidências suficientes de que irregularidades na votação tivessem afetado o resultado final da mesma - e por isso nada será feito. Mas o que eles não viram outros mexicanos sim, viram, e muitas vezes.

Aí estão os milhares de cartões de crédito distribuídos com a intenção de comprar votos. E também todos os comerciais de televisão que Peña Nieto fez durante anos, quando foi governador do Estado do México, para promover sua imagem e sua campanha à presidência. Mas o que é óbvio e evidente para milhões de mexicanos não o foi para os juízes. Por isso as acusações de que tomaram partido, de cinismo e pouco rigor legal.

É impossível saber se a compra de votos e a campanha televisiva foram determinantes no resultado de 1º de julho - mas está claro que houve fraude. Diante desses abusos eleitorais, muitos mexicanos não querem mais dizer "tanto faz". Essa foi a resposta típica durante mais de meio século. Mas felizmente nossa cultura política não a aceita mais.

A pergunta, então, é: o que fazer?

Em minhas três décadas como jornalista, coube-me cobrir muitas eleições no continente com resultados confusos e questionados. E isso pode nos dar uma ideia sobre o que fazer no caso mexicano.

Eu estava lá quando a oposição nicaraguense (unida na candidata Violeta Chamorro) arrebatou o poder dos sandinistas em 1990. A luta e os protestos contra Daniel Ortega, e todo o aparato eleitoral que garantia suas vitórias, continuou até que o tiraram da presidência. Com votos, e não com balas.

Estive na Colômbia quando acusaram o presidente Ernesto Samper de ter ganhado a eleição de 1994 com US$ 6 milhões do narcotráfico. Seu adversário, Andrés Pastrana, nunca deixou de criticar Samper nem o reconheceu. Quatro anos depois Pastrana foi eleito presidente da Colômbia.

Hoje na Venezuela uma oposição unida trabalha intensamente para derrotar o presidente Hugo Chávez, aferrado ao poder desde 1999. Para mim e milhões de venezuelanos, coube-nos ver como o presidente Hugo Chávez usou e abusou de todos os recursos do Estado para buscar sua reeleição. É óbvio que usa o orçamento como seu cofre eleitoral e que intimida e ameaça seus adversários. A oposição nunca reconheceu seus supostos "triunfos" em 13 anos. Mas agora, com um candidato único, Henrique Capriles, tentará ganhar dele e de todo um sistema que confabula contra seus opositores.

Por isso as lições da Colômbia, Nicarágua e Venezuela são muito claras e podem se aplicar ao México. Em nossos países, muitas vezes há fraudes e irregularidades. Mas em política a melhor vingança é o êxito nas urnas.

O candidato Andrés Manuel López Obrador, seus seguidores e os jovens do movimento YoSoy132 têm todo o direito - eu diria até a obrigação - de não desistir. Eles decidirão que caminho seguir para protestar contra o que consideram uma "imposição" e resistir durante seis anos a um governo priista. Insisto, sem violência. No México não há lugar para mais um morto.

Mas sua missão é clara: não se deve desistir. Nunca. E estão deixando em evidência os que fizeram fraude para que ninguém, nunca mais, volte a fazê-lo. A democracia só avança a pequenos passos, e se arma a partir de baixo, e não de cima.

No final das contas, o que importa não é o protesto, mas o poder (e com ele a possibilidade de mudar o país). O grande desafio da esquerda e da oposição democrática no México é transformar este conflito em uma vitória eleitoral em 2018.